Led Zeppelin: crítica de Celebration Day (2012)

Existem muitas histórias sobre os lendários shows do Led Zeppelin durante a década de 1970. Performances históricas, incendiárias, repletas de improvisações e regadas a doses generosas de feeling. No entanto, pouquíssimos registros em vídeo desse período vieram ao mundo. A maioria deles foi compilada por Jimmy Page no DVD duplo batizado somente com o nome da banda e lançado em 2003. Ainda que existam centenas de bootlegs em áudio da época, em vídeo é realmente difícil encontrar material de qualidade.

Este é apenas um dos trunfos de Celebration Day, DVD, blu-ray e CD duplo (e em breve também LP triplo) que traz o show realizado por Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones, acompanhados pelo legítimo herdeiro da dinastia Bonham, Jason, segurando as baquetas no posto que um dia foi de seu pai, em memória a Ahmet Ertegun, chefão da gravadora Atlantic falecido em 2006. Os outros são a imensa inspiração da banda na apresentação, entregando versões arrasadoras de praticamente todas as inúmeras grandes faixas que gravaram na carreira. O quarteto caprichou, e transformou aquela noite de 10 de dezembro de 2007 na O2 Arena, em Londres, em uma jornada inesquecível não apenas para as 20 mil pessoas que estavam lá, mas agora também para todos nós que podemos assistir este show até dizer chega.

A direção de Dick Carruthers é exemplar. Contando com 16 câmeras para captar todos os detalhes, ele nos entrega um registro profundo do que é o Led Zeppelin em cima de um palco. A união de Plant, Page, Jones e Bonham resulta em algo muito maior do que a simples soma dos quatro. Há, como sempre houve, um quinto elemento resultante desta união, e ele é animalesco, intenso e único - como o próprio Led Zeppelin sempre foi, diga-se de passagem. Ricas em detalhes, as cenas mostram a linguagem entre os músicos, responsável por mudar a dinâmica de uma canção apenas com um gesto. A química entre Robert Plant e Jimmy Page continua sendo algo muito fora do comum, tangível, com ambos demonstrando não apenas a imensa curtição que sentem ao tocar um com o outro, mas, principalmente, sabendo que é estando lado a lado que alcançam a plenitude de seus poderes.

Jason Bonham é um dos principais destaques de Celebration Day. O outrora garoto que ficou eternizado no filme The Song Remains the Same ao lado do pai assume aqui, com grande categoria, o legado de seu progenitor. Tocando com categoria e estudando nos mínimos detalhes as performances do falecido Bonzo, Jason mostra que, se o trio restante decidisse retomar a carreira, ele estaria pronto para começar a qualquer momento. O olhar de aprovação de Page no final da apresentação é a prova concreta disso.

John Paul Jones, como sempre, é o porto seguro do quarteto. Ele sempre foi isso. Enquanto Page levantava vôo levando a tiracolo Plant e Bonham, Jonesy mantinha a sonoridade da banda nos trilhos, e aqui não é diferente. O cara não erra uma nota sequer, e é, claramente, o músico em melhor forma técnica entre os quatro. Sua classe chega a ser arrepiante!

Robert Plant canta de forma exemplar. Ainda que seja impossível, pela idade e muitos outros fatores, repetir as performances quase primais dos tempos dourados do grupo, Plant mostra diversas vezes o porque de ser considerado um dos melhores e mais completos cantores do rock. Intérprete de primeira, o veterano Golden God mantém intacto o talento e o sex appeal que encharcavam calcinhas e levavam garotas e garotos às nuvens.

E Jimmy Page, é claro, merece sempre um capítulo à parte. Um dos maiores músicos, compositores e guitarristas da história do rock, Page é o centro das atenções em Celebration Day, assim como foi em toda a carreira do Led Zeppelin. Tocando com um dedo recém quebrado, o que levou a banda a adiar a apresentação em alguns dias, Jimmy faz valer o seu modo de encarar a música - o lendário “luz e sombra” que permeia a sua vida -, e brilha intensamente enquanto dá umas escorregadas feias. O auge de Jimmy pode ser apreciado em sua plenitude nas versões de “In My Time of Dying”, “Trampled Under Foot”, “Nobody’s Fault But Mine”, “No Quarter” e “Kashmir”. Já a sombra de sua personalidade faz com que as releituras de “Stairway to Heaven” e, principalmente, “Since I’ve Been Loving You”, fiquem abaixo do esperado. Mas esse é o Page de sempre, o cara que nunca toca uma música da mesma maneira que tocou na noite anterior, e que quando acerta a mão é capaz de brindar o mundo com versões absolutamente brilhantes de suas criações - está em Celebration Day o melhor registro ao vivo de “Kashmir” em toda a carreira do Led, só pra constar.

Celebration Day é um presente dos deuses para quem ama a música. Ele mostra o porque de o Led Zeppelin ser o que foi, e deixa claro que, se quisesse, a banda poderia continuar sendo. Um DVD brilhante, que é o testamento daquela que é considerada, por muita gente (incluindo esse que vos escreve), como a melhor e maior banda da história do rock.

Obrigatório e todos os sinônimos possíveis!

Nota 9,5

Faixas:
Good Times Bad Times
Ramble On
Black Dog
In My Time of Dying
For Your Life
Trampled Under Foot
Nobody’s Fault But Mine
No Quarter
Since I’ve Been Loving You
Dazed and Confused
Stairway to Heaven
The Song Remains the Same
Misty Mountain Hop
Kashmir
Whole Lotta Love
Rock and Roll

Comentários

  1. Achei o dvd maravilhoso! É ótimo saber que uma banda que se desfez há mais de 30 anos, ainda tem poder nesse mercado musical.
    Sobre o desempenho dos quatro, eu vejo da seguinte forma:

    Plant: Beira a perfeição! Soube envelhecer, apesar de toda limitação imposta pelo tempo. Cantou no seu limite e como músico sensacional que é, improvisou maravilhosamente nas músicas que exigia tons mais altos. Alguns vocalistas, contemporâneos de Plant, tbm deveriam respeitar a idade e moldar algumas canções como Plant fez, isso tbm é um sinal de humildade.

    Jason: Realmente surpreendente! Os outros, todos sabiam da capacidade, mas Jason era uma incógnita. Ele não estava substituindo o falecido baterista do Zeppelin somente, era a substituição de seu pai. E honrou o nome. Fez bonit. Emocionante.

    Jonesy: Desnecessário mudar o que já foi dito. Perfeita análise.

    Page: Também achei a análise perfeita. Luz & Sombra define bem. Mas como dito no próprio livro, as vezes Page gosta de assumir o risco de errar, mas sentir a adrenalina do improviso, a soar como um músico datado. Eu valorizo, e muito, caras assim.

    No mais, só destaco que pela primeira vez, tive a sensação de ouvir um baixo nas músicas que JPJ estava nos teclados.Talvez eu esteja errado, mas...

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  2. Achei o dvd maravilhoso! É ótimo saber que uma banda que se desfez há mais de 30 anos, ainda tem poder nesse mercado musical.
    Sobre o desempenho dos quatro, eu vejo da seguinte forma:

    Plant: Beira a perfeição! Soube envelhecer, apesar de toda limitação imposta pelo tempo. Cantou no seu limite e como músico sensacional que é, improvisou maravilhosamente nas músicas que exigia tons mais altos. Alguns vocalistas, contemporâneos de Plant, tbm deveriam respeitar a idade e moldar algumas canções como Plant fez, isso tbm é um sinal de humildade.

    Jason: Realmente surpreendente! Os outros, todos sabiam da capacidade, mas Jason era uma incógnita. Ele não estava substituindo o falecido baterista do Zeppelin somente, era a substituição de seu pai. E honrou o nome. Fez bonit. Emocionante.

    Jonesy: Desnecessário mudar o que já foi dito. Perfeita análise.

    Page: Também achei a análise perfeita. Luz & Sombra define bem. Mas como dito no próprio livro, as vezes Page gosta de assumir o risco de errar, mas sentir a adrenalina do improviso, a soar como um músico datado. Eu valorizo, e muito, caras assim.

    No mais, só destaco que pela primeira vez, tive a sensação de ouvir um baixo nas músicas que JPJ estava nos teclados.Talvez eu esteja errado, mas...

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  3. O baixo que você se refere ter ouvido é tocado pelo próprio JPJ, com os pés!

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  4. A definição de uma banda de rock and roll LED ZEPPELIN , sem mais rs

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