Centurian: crítica de Contra Rationem (2013)

O Centurian vem da Holanda, mas pratica um death metal totalmente calcado na escola americana. Há, claro, nuances que ligam a banda a nomes como Asphyx, Sinister, Gorefest, Pestilence e outros que moldaram a sonoridade do gênero nos Países Baixos - o chamado dutch death metal -, só que as principais referências para decifrar a proposta desses holandeses são mesmo os ícones da Flórida. Morbid Angel e Deicide, para ser mais exato.

Lançado em 28 de janeiro pela Listenable Records, Contra Rationem marca o retorno do Centurian após hiato de 12 anos. Formada em 1997, a banda lançou apenas Choronzonic Chaos Gods (1999) e Liber Zar Zax (2001) antes que seus integrantes se dispersassem por grupos como Severe Torture e Infected Flesh, ou montassem o Nox, que, na verdade, foi apenas um outro nome dado ao próprio Centurian.

Neste período, o Nox foi, portanto, uma espécie de alter ego, já que contou com as duas principais mentes pensantes da banda: o guitarrista Rob Oorthuis e o baterista/vocalista Seth Van de Loo. Lançou apenas um álbum, Ixaxaar (2007), e durou de 2003 a 2011, ano em que Oorthuis e Van de Loo resolveram retomar a alcunha original. Para tanto, recrutaram novamente o baixista Patrick Boleij e acrescentaram Niels Adams, que já vinha cantando com eles no próprio Nox.

Com menos de 30 minutos de duração, percebe-se rapidamente que Contra Rationem é um disco direto e intenso, mas nem por isso menos marcante. Boa parte das nove faixas não ultrapassa três minutos, o que torna o desfile de tremolos, blast beats e vocais guturais extremamente eficiente. Geralmente, tais elementos tornam-se maçantes quando em demasia, mas aqui aparecem bem aplicados e dosados na medida certa. As letras, por sua vez, são densas, anticristãs e abordam temas relacionados ao ocultismo.

Logo após a abertura com "Thou Shallt Bleed for the Lord Thy God", temos os dois principais destaques do disco: "Crown of Bones" e "Feast of the Cross". Simplesmente esmagadoras, ambas provam o imenso poder de fogo do Centurian e poderiam figurar tranquilamente em pelo menos dois clássicos do Morbid Angel: Altars of Madness (1989) ou Covenant (1993).

Não há dúvidas de que Rob Oorthuis e Seth Van de Loo são discípulos, respectivamente, de Trey Azagthoth e Pete Sandoval. E, obviamente, não há o menor problema nisso. Pelo contrário. Trata-se de uma constatação que avaliza a qualidade dos riffs intrincados de Oorthuis, além da batida e do pedal duplo ultraveloz de Van de Loo. Beberam na fonte certa.

Se por um lado o Morbid Angel pode ser apontado como o espelho para a guitarra e a bateria do Centurian, cabe ao Deicide ser a principal referência quando da análise do vocal, muitas vezes dobrado, de Niels Adams. Com certeza o holandês já dispôs boa parte de seu tempo ouvindo os melhores trabalhos do polêmico Glen Benton.

"Antinomian", "Sin Upon Man" e "Damnatio Memoriae" são outras que merecem menção especial, assim como também vale registrar que é possível ouvir, ainda que em menor escala, ecos de influência do Krisiun no som do Centurian. Aliás, difícil hoje em dia é apontar quais bandas de death metal não têm o olhar atento ao que vem sendo feito pelos gaúchos.

Contra Rationem é um álbum mais do que coerente com o legado que já havia sido deixado pelo Centurian em sua primeira era e coloca novamente em voga um dos melhores nomes da segunda geração do death metal holandês. Pequenos detalhes na mixagem, que deixou os vocais e o instrumental embolados em alguns momentos, são os únicos reparos a serem feitos em futuros trabalhos da banda. De resto, o disco é altamente certeiro no que se propõe. Talvez não seja dos mais indicados aos não iniciados, mas naturalmente fará a cabeça dos veteranos do metal da morte.

Nota: 8,0


Faixas:

1 Thou Shallt Bleed For the Lord Thy God 02:14
2 Crown of Bones 03:05
3 Feast of the Cross 04:56
4 Judas Among Twelve 02:46
5 Antinomian 03:58
6 The Will of the Torch 03:25
7 Sin Upon Man 02:23
8 Damnatio Memoriae 04:13
9 Adversus 02:55

Por Guilherme Gonçalves

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