Behemoth: crítica de The Satanist (2014)

Cinco anos passam rápido. Porém, na atual indústria musical, onde novas sensações surgem todas as semanas, é um longo período. A banda polonesa Behemoth lançou o seu último disco em 2009, o bom Evangelion. De lá para cá, muita coisa aconteceu. Em agosto de 2010 o líder, vocalista, guitarrista e principal compositor do grupo, Nergal, foi diagnosticado com leucemia. Só havia uma cura: o transplante de medula. Após alguns meses um doador foi encontrado, e Adam Darski foi submetido a uma cirurgia em janeiro de 2011. A banda, enquanto isso, ficou adequadamente em segundo plano.

Toda essa história parece ter mudado Nergal e, por consequência, o Behemoth. Após cinco longos anos de silêncio, a banda retorna com The Satanist, seu décimo disco, lançado no dia 3 de fevereiro pela Nuclear Blast na Europa e pela Metal Blade nos Estados Unidos. A banda soa diferente em seu novo álbum. Os arranjos exagerados e a sonoridade pomposamente complexa dos trabalhos anteriores foi deixada de lado, e em seu lugar surgiu um som muito mais eficaz e letal. O death black metal barroco de outrora foi submetido a um processo de limpeza e soa menos épico, mais melódico e acessível, porém mantendo, e enfatizando, a agressidade e o peso. Na verdade, essa limpeza nos excessos deixou a música do Behemoth mais efetiva, com as canções sendo reduzidas à sua essência.

As orquestrações tão comuns nos discos recentes do grupo praticamente não existem mais. Em seu lugar temos uma banda trabalhando a partir do formato vocal, guitarra, teclado, baixo e bateria, com inserções certeiras de alguns samplers - como o trecho declamado pelo dramaturgo polonês Witold Gombrowicz em “In the Absence ov Light”.

Com canções predominante mais diretas do que as presentes em seus últimos trabalhos e com uma produção de primeira linha, o álbum soa sombrio e amedrontador, porém sem o toque frio e impessoal que começava a dominar os últimos discos do grupo. Há essência, há alma, há feeling transbordando pelos sulcos de The Satanist, e são justamente essas qualidades subjetivas que tornam o álbum tão objetivo. A execução é exemplar, com grandes performances individuais dos músicos, que se encontram literalmente na ponta dos cascos após cinco anos sem gravar.

Com pouco mais de 44 minutos, The Satanist é um trabalho relativamente curto. Suas nove músicas formam um tracklist eficiente, com elementos que vão do death ao black sem maiores cerimônias. Com criatividade e inspiração, o Behemoth brinda os ouvintes com pequenas obras-primas como “Blow Your Trumpets Gabriel”, a sensacional “Messe Noire” (com um solo de guitarra arrebatador), “Ora Pro Nobis Lucifer”, “In the Abscence ov Light” e a exemplar faixa-título. Para quem, em pleno 2014, ainda olha para os estilos mais extremos do metal e acredita cegamente que eles não passam de uma massa sonora mal tocada e mal produzida, trata-se de um disco para esfregar na cara e mostrar como a agressividade, a fúria e o peso podem gerar álbuns complexos e excelentes como os vindos de qualquer outro gênero da música.

The Satanist é um dos melhores discos do Behemoth. Ao despir-se dos exageros da sua fase black metal Cirque du Soleil os poloneses deram ao mundo um álbum de cair o queixo, com uma sonoridade intensa, sombria e apaixonante.

Vale cada segundo, vale cada minuto, vale cada centavo. Vale muito!

Nota 9,5

Faixas:
1 Blow Your Trumpets Gabriel
2 Furor Divinus
3 Messe Noire
4 Ora Pro Nobid Lucifer
5 Amen
6 The Satanist
7 Ben Sahar
8 In the Absence ov Light
9 O Father O Satan O Sun!

Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. O melhor disco do ano até agora. A melhor música de 2014, pelo menos até o momento, é a Ora Pro Nobis Lucifer, sensacional!

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  2. Assino em baixo seu comentário, realmente o álbum é muito bom. Já começa com a magnífica “Blow Your Trumpets Gabriel”, seguida pelo caos sonoro que é “Furor Divinus”. Após esse inicio brilhante chegamos a “Messe Noire” com seu solo de guitarra simplesmente sensacional, a faixa titulo é ótima , mas na minha opinião, a melhor musica (riff e refrão) é “Ora Pro Nobis Lúcifer”. Típico disco que quanto mais vc ouve melhor ele fica.

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  3. Eu ouvi algumas músicas nesse fds e achei algumas coisas bem legais, o mencionado solo de Messe Noire, principalmente.

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  4. Posso estar enganado, mas este me parece o mais "black metal" dos discos do Behemtoh, apesar da sonoridade menos orquestrada. Analisando subjetivamente, nunca "mergulhei" muito na banda justamemte pelo predomínio do death-metal em detrimento do black-metal (aliás, ouso dizer que o aspecto black se devia mais ao visual e ao teor lírico do que ao som).
    Mas desde o último disco algumas coisas vêm mudando... enfim, talvez eu não tenha ainda "autoridade" suficiente para analisar o percurso sonor da banda, mas, definitvamente, "The Satanist" é o disco que mais me empolgou, num todo, até hoje.

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  5. Na verdade o Behemoth tocava puramente Black Metal. Eu não lembro mais quando de fato eles passaram a incluir elementos Death Metal na música, mas acho que foi no "Satanica".

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  6. Os dois primeiros do Behemoth são exclusivamente black metal... Sventevith (Storming Near the Baltic) (1995) e Grom (1996).

    Elementos de death começam a ser incorporados a partir do Pandemonic Incantations (1998) e se misturam com black em mais três trabalhos: Satanica (1999), Thelema.6 (2000) e Zos Kia Cultus (2002).

    A partir do Demigod (2003), os poloneses se tornam uma banda quase que exclusivamente de death metal.

    Ainda não ouvi esse The Satanist, mas fiquei bastante curioso!

    Baita resenha, Ricardo!

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  7. O Behemoth é uma banda diferenciada. Nergal é extremamente criativo, e os músicos que o acompanham são espetaculares em seus intrumentos, notadamente o baterista Inferno. Esse disco é mais "limpo" que os anteriores, e soa bem hipnótico aos ouvidos. Um dos melhores da banda, sem dúvida.

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  8. Ricardo, eu já vi o Behemoth tocando ao vivo e esse Inferno faz jus ao nome mesmo pqp. O cara é um monstro.

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  9. Já se passou um bom tempo após esta resenha, mas tenho q deixar este comentário.
    Não sou fanático por black metal mas gosto muito do som de algumas como Immortal e Dimmu Borgir e outras, mas ainda não tinha ouvido Behemoth e por meio desta resenha fui atrás e gostei muito do som. Tanto q fui atrás dos álbuns anteriores e no momento estou ouvindo Evangelion(2009) e estou de boca aberta com o puta som deste álbum. Não consigo acreditar q passei batido de não ter ouvido este disco antes.
    Pode até ser um black mesclado com death, mas para "mim" black metal tem q ser assim, bruto mas ao mesmo tempo, prazeroso.
    Ao contrário de banda de black q são enaltecidas atualmente como Deafheaven e outras, confesso q consigo chegar até o final do disco...

    Valeu!!!!!

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