Os melhores discos de abril segundo a Collectors Room

O mês de abril foi bastante fértil em lançamentos interessantes nos mais diversos gêneros. Não faltaram boas opções para quem gosta de música. Para ajudar você a navegar nesse mar de novos sons, nossa equipe ouviu diversos discos nos últimos 30 dias e escolheu os melhores na opinião de cada um de nossos redatores.

Leia e ouça abaixo!

Triptykon - Melana Chasmata

Não há dúvidas de que Thomas Gabriel Fischer seja um gênio. Dentro do cenário subterrâneo do heavy metal nos anos 80, poucas bandas estiveram tão à frente de seu tempo quanto Hellhammer e Celtic Frost. No entanto, como todo indivíduo condenado pela própria inquietude e uma insaciável vontade de transgredir, era natural que, de tempos em tempos, Tom sentisse a necessidade de aniquilar seu legado, geralmente após atingir o ápice, para buscar um eterno novo ciclo.

David Bowie fez muito isso e talvez seja o maior exemplo dessa obsessão. Na cabeça de Tom, o Triptykon nada mais é do que exatamente isso. Um universo inteiro a ser explorado por mais um de seus alter egos. Satanic Slaughter e Tom G. Warrior, as mentes malignas por trás de Hellhammer e Celtic Frost, já foram destruídas. Agora quem dá as cartas é Thomas Gabriel Fischer. Um ser nu e cru, mas tão obscuro quanto o que ostentava os velhos pseudônimos.

Melana Chasmata é mais denso do que Eparistera Daimones (2010), a estreia do Triptykon. Se é superior ou não, ainda é cedo para afirmar. O certo é que as quatro primeiras músicas são simplesmente absurdas: "Tree of Suffocating Souls", "Boleskine House", "Alter of Deceit" e "Breathing". Do meio para o final, a impressão é de que o disco perde um pouco o fôlego. Algo, porém, que demanda mais audições para ser checado, já que pode ser apenas uma sensação prematura por conta da longa duração das canções. Não creio que o álbum seja a obra-prima de Tom, como vem sendo alardeado por aí com notas máximas em diversas publicações especializadas. Talvez até esteja bem longe disso. Mas é um trabalho deveras intrigante e que merece ser ouvido com grande atenção. (Guilherme Gonçalves)

Edguy - Space Police: Defenders of the Crown

Desde que me entendo por ouvinte de rock pesado, sou um fanático por power metal. Justamente por isso, há quem simplesmente não entenda porque diabos eu ando tão fascinado pela sonoridade de uma banda de power metal que soa, a cada disco, cada vez menos power metal. Justamente por isso, ora bolas. Porque, antes de ser fã de power metal, eu sou fã de boa música. Que me provoque, que me desafie, que mexa com meus brios. E o power metal vinha dando mostras cada vez mais claras de desgaste como gênero, reunindo uma dezena de bandas genéricas, repetitivas, que não acrescentavam simplesmente nada. Então, quando uma banda como o Edguy pega o power metal e vira do avesso, descostura, desconstrói e espalha fartas doses de hard rock - outro gênero que adoro, confesso - juro que eu não teria motivos para fazer menos do que comemorar.

Com Space Police, os alemães comandados por Tobias Sammet mostram que estão aprimorando uma estrada que vêm experimentando desde o excelente Hellfire Club. As composições, todas, sem exceção, têm potencial para ser hits, com refrãos grudentos e que você simplesmente não consegue esquecer. O bom humor, a capacidade de rir de si mesmos sem dar a mínima bola para os truuuuuue, os coloca cada vez mais como herdeiros do "happy happy Helloween" que o próprio Helloween abandonou já há alguns anos. Toda vez que escolhem um cover, eles não apenas prestam homenagem à canção original, mas também sabem fazer uma faixa que tenha a sua nítida assinatura. E o que eu mais adoro: eles não cedem, em momento algum, às pressões de seus fãs mais hardcore, que exigem que eles retornem ao som de Mandrake. Tobias segue fazendo o que mais tem vontade de fazer e dane-se. E nos entrega canções como "Sabre & Torch", "Love Tyger" e a genial reinterpretação metálica para o smash hit pop "Rock Me Amadeus". (Thiago Cardim)

Winger - Better Days Comin'

Abril foi um mês e tanto para o hard rock. Muitos lançamentos do gênero e, felizmente, muita coisa boa. Os suecos do H.E.A.T. chegando ao quarto trabalho e se firmando entre os principais nomes do momento, o Steel Panther repetindo a fórmula dos dois discos anteriores sem dar o menor sinal de desgaste, e o que mais me surpreendeu e cativou: o novo do Winger, que vem como um sopro de vida para o quarteto que, apesar de reativado há tempos, ainda não havia acertado a mão como neste aqui. Em Better Days Comin', o Winger reafirma sua relevância perante seus contemporâneos que seguem na ativa em estado crítico e mostra aos mais jovens que é possível manter o pique após os 50.

A interpretação de Kip Winger sugere uma emoção que até então só vinha dando as caras em seus trabalhos solo, enquanto Rod Morgenstein volta e meia rouba a cena com sua bateria descomunal que o coloca um degrau acima da maioria dos bateras de hard rock ainda em atividade. Sem contar, é claro, o toque diferenciado de Reb Beach, que percorre a escala de sua guitarra com um bom gosto que não se abala mesmo diante dos drives mais sujos e afinações mais baixas. Em Better Days Comin', o Winger quitou a dívida comigo e, caso você não conheça, não perca tempo, pois estou falando de um dos melhores lançamentos de 2014. (Marcelo Vieira)

The Great Old Ones – Tekeli-Li

Há algo no desconhecido que de alguma forma atrai naturalmente a curiosidade do ser humano. Aquela sensação de ouvir um barulho, passos pela casa mesmo estando sozinho, ou uma luz acesa que você tem absoluta certeza de ter apagado. E assim como H.P. Lovecraft nos guia através de seus contos pelos limites da sanidade, de margem muito estreita entre o que é real ou não com seus seres antigos e mitologias de terrores psicológicos indescritíveis, os franceses do The Great Old Ones fazem de Tekeli-Li uma jornada tão intensa e assombrosa quanto Nas Montanhas da Loucura, obra que inspirou o seu segundo disco.

Ao longo de seis músicas, embarcamos em uma expedição por paisagens gélidas, atmosferas desoladas sem o menor indício de vida, na borda entre a crueza do black metal, o desespero do sludge de tendências arrastadas e a temperatura polar proporcionada pelo post-rock, que unidas desafiam a própria mente. Como virar incontáveis corredores de uma construção alienígena há milênios abandonada, de uma civilização da qual nem se sabia a existência, a sombria viagem traz um inominável e inexplicável temor de estar em frente a uma rachadura na realidade em si. Uma rachadura que era apenas uma lasca em Al Azif (seu debut de 2012) e vem aumentando gradativamente, um único vislumbre fantástico, demoníaco, entre as agitadas nuvens do zênite, tão real que pode perseguir o ouvinte para sempre. (Rodrigo Carvalho)

Miles Davis - Miles at the Fillmore: The Bootleg Series Vol. 3

Box digipak com quatro CDs - ou caixa com 4 LPs - trazendo a íntegra das apresentações realizadas por Miles Davis no Fillmore East, em Nova York, em junho de 1970. Revolucionando mais uma vez o jazz, Miles ia na época na contramão da maioria de seus colegas, que entregavam discos repletos de orquestrações que faziam a alegria das rádios softs, mas mostravam uma estagnação criativa gritante. Já Miles Davis abraçava o rock não apenas como gênero musical, mas como atitude e modo de vida. Aos 44 anos e ao lado de uma banda sensacional - Steve Grossman (sax), Chick Corea (piano elétrico), Keith Jarrett (órgão), Dave Holland (baixo), Airto Moreira (percussão) e Jack DeJohnette (bateria) -, Davis conduzia o jazz por caminhos desconhecidos, entrelaçando-o com o rock em uma coleção de músicas que, até hoje, soam densas e de difícil assimilação para ouvidos menos experientes. O mesmo grupo já havia feito história ao tocar na edição de 1970 do Festival da Ilha de Wight, onde subiu ao palco e mandou ver uma improvisação de mais de 50 minutos batizada apenas de “Chame do que quiser” - este show foi lançado em DVD no Brasil há alguns anos atrás acompanhado de um excelente documentário, com o título de Miles Electric. São mais de 100 minutos de música, levando o revolucionário álbum Bitches Brew para os palcos e deixando os nova-iorquinos de queixo caído. Além dos discos, o material conta com um longo encarte com textos escritos por Michael Cuscuna. (Ricardo Seelig)

The Birds of Satan – The Birds of Satan

Parece que o baterista e parceiro de longa data de Dave Grohl no Foo Fighters, Taylor Hawkins, aprendeu direitinho com o patrão a alçar outros voos em uma infinidade de trabalhos paralelos à sua banda original. Hawkins se juntou a Wiley Hodgen (backing vocals e baixo) e a Mick Murphy (guitarra) e gravou os vocais e bateria das sete músicas que configuram o tracklist de seu mais novo projeto, chamado The Birds of Satan. Apesar do nome sugerir um som mais profano, a fórmula usada para seu autointitulado trabalho de estreia, na falta de outro termo pode ser classificada como “hard rock psicodélico”, com um toque de diversão e despretensão facilmente perceptíveis a quem o escuta. Se em alguns momentos a impressão que se tem é a de estar ouvindo um novo disco do Foo Fighters, tamanha a semelhança com a sua banda principal (aliás, neste disco participam como convidados especiais ninguém menos que... Dave Grohl e Pat Smear, seus parceiros em sua empreitada principal), em vários momentos a experimentação e mudanças inusitadas de ritmos e andamentos ditam as regras, ao longo de pouco mais de meia hora de duração.

Logo de cara esse caráter experimental pode ser ouvido nos nove minutos de pura psicodelia em “The Ballad of the Birds of Satan”, uma odisseia que segue por caminhos inesperados e, ao mesmo tempo, divertidos. Apesar de apresentar boas canções e um excelente trabalho instrumental junto à banda, Hawkins ainda carece de certo amadurecimento em seus vocais, o que certamente será desenvolvido e melhorado para seus futuros e bem vindos lançamentos. Outros destaques neste trabalho são as excelentes “Pieces of the Puzzle”, que, como já dito antes, não faria feio em um disco dos Foo Fighters, tamanha a semelhança com o repertório desta. “Wait ‘Til Tomorrow”, com andamento acelerado, curta duração (menos de três minutos) e um interessante solo de guitarra, também pode ser considerado destaque e uma das melhores do play. O encerramento melodramático com “Too Far Gone to See”, uma balada com uma introdução que remete diretamente á sonoridade de “Dream On”, do Aerosmith, apresenta em seus cinco minutos cores e passagens interessantes comandadas por violões e teclados que encerram o disco já nos fazendo esperar pelo que virá nos próximos lançamentos dos “passarinhos satânicos” (e muito divertidos, diga-se de passagem). (Tiago Neves)

Equipe Collectors Room

Comentários

  1. pessoalmente acho "melana chasmata" uma obra-prima!e o melhor do álbum é justamente o seu meio e o fim com a incrível "aurorae" e a tenebrosa " demon pact" e os épicos...com destace para "black snow"!

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  2. Esse vocal do Taylor Hawkins ficaria perfeito nas musicas do Nazareth. O rouquidão me lembrou o Dan McCafferty em seu melhor momento e na boa, esse substituto dele é péssimo!

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