Discoteca Básica Bizz #051: The Byrds - Younger Than Yesterday (1967)



Tentar apontar o melhor grupo do rock ianque dos anos 1960 poderia nos levar a uma infindável discussão. Mas, se em vez disto tivéssemos de eleger o mais influente, os Byrds certamente seriam um nome de consenso, graças a seu relevante papel na moldagem de boa parte das grandes bandas surgidas nos anos seguintes.

A eclosão dos Beatles e a repercussão do rock inglês nos Estados Unidos acabaram dando ao rhythm and blues - então em franca decadência - um novo alento, levando dezenas de jovens músicos a abandonarem a majoritária cena folk. Foi o que ocorreu também com os futuros membros dos Byrds, na ocasião dispersos em vários grupo acústicos: Jim (aliás, Roger) McGuinn nos Limelighters, Gene Clark nos New Christy Minstrels, Chris Hillman nos Hilmen e David Crosby nos Lex Baxter Balladeers.

Assim, McGuinn, Clark e Crosby formaram o Jet Set em Los Angeles, que, com a entrada de Hillman no baixo e Michael Clarke (um velho amigo de Crosby) na bateria, originou o Beefeater. McGuinn descreveu o som deste embrião como uma síntese de Dylan e Beatles, algo que se comprova pelos tapes mais tarde reunidos no LP Preflyte (1969). Já como The Byrds, um remake de Dylan - "Mr Tambourine Man" - os levou ao topo das paradas dos dois lados do Atlântico. Ao misturar dois itens até então tão imiscíveis quanto óleo, esta gravação foi a irrefutável gênese do folk rock.

The Byrds foi considerado um grupo de singles até 1966, quando tornou-se precursor do som ácido californiano. Esta nova fase pautou-se pelo abandono da primazia folk (Gene Clark, autor principal nos álbuns Mr. Tambourine Man e Turn! Turn! Turn!, ambos de 1965, os deixou aí) em favor de trucagens eletrônicas e outras inovações, como a introdução da cítara no rock e o primeiro light show de que se tem notícia (no Village Gate, em Nova York).



Apesar da aparente bizarria, tal momento catalisou três discos que capturaram os Byrds no auge da criatividade: Fifth Dimension (1966), Younger Than Yesterday (1967) e The Notorious Byrd Brothers (1968). Destes, o segundo foi o mais bem-sucedido, não só pela maturação de Crosby e Hillman como compositores, mas também por elevar as harmonias vocais, o padrão "Rickenbacker doze cordas" (especialmente através de McGuinn) e o requinte instrumental do grupo como um todo, em nível jamais igualado. Ofuscado pelo lançamento de Sgt Pepper's e com os Byrds passando por um período de baixa popularidade e rusgas internas, Younger Than Yesterday acabou se tornando um dos mais subestimados discos da história do rock.

A amargura com este estado de coisas surge logo na faixa "So You Want to Be a Rock ’n' Roll Star" que, com frases como "venda sua alma para a companhia" tornou-se uma cáustica exceção em meio às boas vibrações da nascente "hippielândia". Levando ao máximo o uso da eletrônica apenas insinuado no LP Fifth Dimension, "CTA 102", por sua vez, era uma curiosa homenagem de McGuinn aos Quasars. 

Também a fixação com os Beatles se resolveria aí, num par de baladas de Hillman, "Have You Ever Seen Her Face?" e "Time Between", enquanto Crosby criaria épicos barrocos em "Renaissance Fair" e "Everybody's Been Burned", além da surpreendente tecnologia de "Mind Gardens". Num clássico destes, Dylan não poderia faltar e "My Back Pages" foi uma das mais sensíveis releituras feitas pelo grupo.

Os Byrds nunca soaram tão coesos como em Younger Than Yesterday e, ainda que suas produções seguintes tivessem sido apenas medianas, seu legado já estava consolidado de forma seminal no rock das duas décadas seguintes.

(Texto escrito por Arthur G. Couto Duarte, Bizz #051, outubro de 1989)

Comentários