Discografia Comentada: Mastodon


O Mastodon é uma das grandes bandas de heavy metal que surgiram nos últimos anos, para não dizer a melhor. O quarteto traz influências de sludge metal, groove metal, metal progressivo, stoner metal, entre outros. A junção de todos esses elementos nas mãos de quatro músicos talentosos nos recheia de bons álbuns e ótimos registros. 

Em 1999 nos EUA, Brann Dailor e Bill Kelliher se mudaram para Atlanta onde conheceram Troy Sanders e Brent Hinds. Os quatro, em conjunto com o vocalista Eric Sanders, formaram o Mastodon. Lançaram um EP em 2000 conhecido pelos fãs como 9 Song Demo, e logo depois ocorreu a saída de Sanders da banda. Em 2001 o quarteto de Atlanta assinou contrato com a Relapse Records. 


Remission (2002) 


O primeiro álbum do quarteto estadunidense é Remission, de 2002. Definindo de maneira leiga e prática: ele é muito agressivo (e muito bom!). Ele traz um sludge metal de qualidade, com a primeira música impressionando logo de cara. Já a segunda faixa do álbum, “March of the Fire Ants”, é uma das melhores de toda a carreira do grupo. Já se percebe que não podemos ignorar o primeiro álbum, pois o Mastodon sempre soube o que fez. A banda é muito sincronizada e isso não parece ser uma tarefa fácil, porque eles adoram quebrar o tempo das músicas várias e várias vezes. Destaque pro baterista Brann Dailor, que chama a atenção para as suas baquetas em vários momentos, mas sempre mantém a qualidade da condução. O que mais chamou a atenção da crítica foi a qualidade das faixas mais extensas do álbum, como “Trainwreck”, “Trilobite” e “Elephant Man” (faixa instrumental que fecha o álbum). Eles acabaram apostando nisso mais vezes nos próximos trabalhos. Apesar de não ser conceitual, o guitarrista Bill Kelliher afirma que o mesmo traz a representação do elemento fogo, com a capa trazendo a imagem de um sonho de Dailor. Por fim, um álbum bom e muito promissor. (Nota 8) 



Leviathan (2004)


Dois anos depois do álbum de estreia a banda trouxe seu segundo registro de estúdio, Leviathan. Agora apostando em um álbum conceitual, este (re)conta a história de Moby Dick. É o melhor disco deles, disparado! O peso continua, um instrumental com qualidade impressionante, o vocal já ganha mais destaque por se mostrar evoluído e bem encaixado nas músicas. A faixa que abre o CD, “Blood and Thunder”, é uma das melhores da banda, e também a melhor faixa inicial de um álbum da mesma. O destaque continua sendo o instrumental, as faixas se mostram mais longas do que em Remission. Os riffs continuam bons, agora nem sempre tão agressivos, dando um contraste muito interessante com o peso da cozinha. Mas o melhor de tudo (se é que podemos apontar apenas uma coisa entre tantas que a banda executa com maestria) é o clima do álbum. A cada faixa você entra mais e mais no romance de 1851 sobre a luta do homem contra o desconhecido. “Hearts Alive”, uma música apoteótica de 14 minutos, faz voê passar por todas as etapas de uma tempestade marítima e mostra a qualidade de cada músico do grupo, que se sobressai nesse trabalho. Seguindo o conceito do primeiro álbum, é dito que este representa o elemento água. Um disco maravilhoso, o melhor presente do Mastodon para nós, meros mortais, em sua carreira. (Nota 10)


Blood Mountain (2006)

Se Remission já tinha chamado a atenção da crítica, Leviathan ganhou a atenção de todos, elevando a banda a outro nível. O Mastodon era respeitado e conhecido, e isso parece ter dado uma balançada neles. O terceiro álbum foi Blood Mountain, novamente conceitual, mas agora contando uma história criada pela própria banda sobre um homem que escala uma montanha e encontra vários desafios no caminho. Representa, por sua vez, o elemento terra. A crítica gostou, rendeu videoclipes, as ótimas “Colony of Birchman” e “Sleeping Giant”, cativou o público, mas num todo acho o registro mais fraco do Mastodon. Remission foi bom, Leviathan foi espetacular, mas com Blood Mountain parece que eles erraram a mão. As quebras de ritmo não agradam, o peso não é bem posto, as coisas parecem meio repetitivas. Parece que eles não sabiam mais trabalhar em seus próprios parâmetros, tanto que as melhores faixas do álbum já não são tão pesadas como antes. Influência da produtora? Talvez, mas o Mastodon errou no peso e acertou na melodia. Um álbum bom, mas que perde espaço em meio a tantos registros de qualidade elevada que a banda fez ao longo da carreira. (Nota 7)



Crack the Skye (2009) 

Parecendo ter percebido a mesmice nas músicas de peso, em 2009 o Mastodon lançou o Crack the Skye, mais um álbum conceitual. Ele narra a história de um garoto paraplégico que aprende a viajar com sua alma por buracos de minhoca, mas chega perto demais do sol e acaba parando na Rússia czarista, encarnando no corpo de Rasputin. Sim, isso é louco pra caralho. Mas... o álbum é sensacional!  É leve, mas passa longe do pop. O Mastodon explora sua faceta mais melódica e traz um grande trabalho de metal progressivo. A atmosfera é absurda, faz você viajar a cada música. Os vocais melódicos aparecem cada vez mais e o instrumental está em plena forma, com todos os músicos tocando perfeitamente.  Como era de se esperar, as faixas longas receberam bastante destaque. "The Czar" tem 10 minutos e é dividida em 4 partes, já "The Last Baron" tem 13 minutos e fecha o álbum. Ah, e você lembra a representação dos elementos nos primeiros discos? Fogo, água e terra? Então, esqueça o ar. Crack the Skye traz a representação do éter, dito como o quinto elemento. A banda parece ter visto o que errou e o que acertou em Blood Mountain, mostrou que sabe se reinventar e lançou um CD experimental maravilhoso, de qualidade impecável. (Nota 9)



The Hunter (2011) 

Em 2011 saiu o quinto álbum de estúdio do Mastodon, The Hunter. Depois de tantos registros variados não dava pra saber o que esperar do Mastodon, apenas uma coisa: qualidade. E isso se concretizou. O disco quebra a sequência de trabalhos conceituais, não contando história alguma, e talvez por isso aparente ser um pouco desbalanceado. Alguém parece ter dado um cutucão na banda e dito que eles precisavam ser agressivos de novo, porque Crack the Skye, apesar de não deixar o peso de lado, é o registro mais “leve” até então. O quarteto então parece ter ouvido a opinião deste “cara chato e underground” e realmente voltou às origens em The Hunter. Mas já sabemos que o Mastodon não faz o mesmo álbum duas vezes, e The Hunter traz várias surpresas muito boas. Agora encaixando peso com melodia, fazendo músicas mais curtas e nos dando vários riffs marcantes (“Black Tongue”, “Curl of the Burl” e por aí vai), o quarteto acerta no peso mas não repete os registros do passado. Traz vocais mais melódicos, abrindo cada vez mais espaço para o baterista Brann Dailor mostrar sua vocação para o canto. Mas não podemos dizer que tudo funciona em The Hunter. Além do disco se mostrar mais desinteressante quando chega na parte final, ele parece funcionar melhor como um apanhado de músicas isoladas e não como um álbum de fato. Talvez a falta de uma história por trás do registro tenha gerado uma leve falta de organização na disposição das faixas, mas não é algo que prejudique a experiência final. Mais um bom trabalho para o currículo da banda. (Nota 8)



Once More ‘Round the Sun (2014)

Acontece que em 2014 eles apostaram novamente no peso, e dessa vez eles acertaram muito mais do que no disco anterior. Once More 'Round the Sun é o álbum mais recente do Mastodon e equilibra a melodia com o peso, trazendo diversas músicas onde o instrumental e os versos são agressivos e contrapõem com um refrão limpo (Brann agora se destaca tanto como baterista quanto como cantor). Esse álbum entrou em um consenso da crítica como um dos melhores do ano, para muitos o melhor. Rendeu alguns videoclipes e singles, e mostrou que o Mastodon aprendeu a fazer músicas de peso de novo, mas com elementos atuais e melodias mais leves quando necessário. Nenhuma faixa é dispensável, apesar de algumas serem melhores que as outras. Destaque para “The Motherload”, como uma das melhores músicas de heavy metal de 2014. Para um fã das antigas pode ser chato ver o quanto esse disco é "acessível" se comparado aos primeiros, mas não é nenhum pecado fazer músicas com introdução, versos, refrãos e solos bem estabelecidos. No caso do Mastodon, foi uma benção. Um dos melhores trabalhos da carreira da banda, mostrando que os caras ainda sabem o que estão fazendo, e muito bem. (Nota 9,5) 

Por Eduardo Palini

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