Quadrinhos: A Mulher do Mágico, de Jerome Charyn e François Boucq


DO QUE SE TRATA?

Da história de Rita, que desde criança acompanha Edmund, um grande mágico. Rita está prometida como esposa para Edmund que, secretamente, tem um caso com sua mãe, que é ajudante do mágico. Anos depois, logo após o casamento, Rita revela que sabe do caso do marido e resolve mudar de vida, fugindo para Nova York. 

A obra analisada aqui é a versão portuguesa editada pela Meribérica, que chegou a ser distribuída no Brasil.

QUEM FEZ?

Jerome Charyn, autor americano com quase 50 livros publicados e 8 álbuns (ou graphic novels, como preferir) em parceria com autores europeus. Foi chamado pelo New York Newsday de “Balzac americano da atualidade”. Acumulou diversos prêmios ao redor do globo, inclusive o 1986 Prix Alfred de Angoulême por La Femme du Magicien (título original de A Mulher do Mágico). 

François Boucq é um artista francês que tem feito parcerias espetaculares ao longo dos anos, tais como com o próprio Charyn e com Alexandro Jodorowski (de Incal). Atualmente, vem fazendo tiras e cartoons para publicações francesas e está trabalhando com Jodorowski no novo volume de uma das séries mais populares da Europa atualmente, o western Bouncer. Já foi premiado mais de uma vez em Angoulême.



POR QUE DEVO ME INTERESSAR?

Ler A Mulher do Mágico pode proporcionar diferentes experiências e até mesmo diferentes conclusões para cada pessoa. Eu já havia lido a versão em inglês da editora Dover, mas adquiri a edição da portuguesa Meribérica recentemente e a li na semana passada. Ao terminar de ler, olhei pra Lili, minha esposa, e falei: não entendi.

Levou alguns dias para digerir o álbum. Leva algum tempo para captar a proposta dos autores, e para perceber que o álbum tem como elemento imprescindível a experiência do leitor para fazer sentido. Para isso, o desenho de Boucq auxilia, e muito, na imersão da história. Cenários ricos em detalhes e cenas que parecem dizer mais que os olhos vêem possuem propósitos específicos durante a leitura. Tudo é meticulosamente pensado.

É difícil dissociar a fantasia da realidade na jornada de Rita, mas é louvável o esforço (bem sucedido, diga-se de passagem) de Boucq em dar vazão ao mundo mágico que a garota/mulher adentra, por algumas vezes. Segundo o próprio Charyn, Boucq conseguiu dar uma dimensão ainda maior ao roteiro, de uma forma que ele sozinho não conseguia expressar.

A Mulher do Mágico não é uma leitura para fãs de quadrinhos não “iniciados” em material fora do mainstream. Os autores não vão te entregar o enredo tão fácil e nem vão se esforçar para que a história seja facilmente digerível. Talvez por isso a comparação da obra com os filmes do italiano Frederico Fellini - que com frequência misturava em seus filmes elementos de sonhos, fantasias e desejos com a realidade.


Na mágica, o segredo é sempre o “despiste” da audiência. O objetivo do mágico é atrair o espectador para o efeito da mágica, despistando-o do método e surpreendendo-o no final. Voltando à primeira impressão que tive, creio que ela foi de não compreensão por causa do meu perfil mais analítico, lógico demais. Assim, terminei a leitura até um pouco frustrado. Demorou algum tempo pra digerir que a obra é como o efeito de uma mágica, e que eu estava diante de um truque espetacular.

No final, ficam as seguintes certezas: Charyn e Boucq são os grandes e verdadeiros mágicos. Rita e os demais personagens, os assistentes de palco. Eu e você, a plateia. Bom espetáculo !

ONDE ADQUIRIR?

Comprei a minha edição na gibiteria Tutatis, aqui em Porto Alegre. A editora Dover disponibiliza a versão digital via Kindle (em inglês), da Amazon. Há também a versão física, disponível na mesma loja.



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