Playlist Collectors Room: Rock Progressivo


Na falta de palavras mais assertivas e para explicar de maneira mais completa o que é o rock progressivo, traduzimos abaixo a definição elaborada pelo Rate Your Music para o gênero:

Este é um estilo de rock que se originou principalmente no Reino Unido no final da década de 1960. O rock progressivo levou adiante os esforços do rock psicodélico para experimentar elementos que não são comumente associados ao rock e os colocou no centro do palco, ao mesmo tempo em que removeu qualquer abordagem para a expansão de mente e as imagens alucinógenas, concentrando-se apenas na inovação musical e levando o rock aos seus limites, fundindo-o a gêneros como jazz, música clássica, folk, música regional e outros.

O objetivo principal do rock progressivo era levar o rock para longe de suas origens no blues e no country. Isso foi feito em grande parte por músicos treinados de forma clássica que decidiram usar o rock para criar um som tão original quanto fosse possível. As estruturas comuns das canções foram evitadas, e em vez disso as composições passaram a emular as estruturas da música clássica e do jazz. As canções incorporaram a exploração de melodias e ritmos, trechos instrumentais que exibiam virtuosismo técnico e eram, de modo geral, de natureza transformativa e com diferentes seções. As mudanças de tempo e andamentos fora do comum, bem como os arranjos complexos, também são marcas fortes do progressivo. Havia uma ênfase crescente nos timbres para criar momentos divertidos e bombásticos, além do uso de instrumentos não muito comuns ao rock como os sintetizadores mellotron, o órgão Hammond e o moog, bem como instrumentos vindos da música clássica e do jazz. Esses instrumentos costumavam competir com a guitarra ou substituí-la completamente. Liricamente, os temas tratados nas letras exploram assuntos ligados a fantasia, história, religião, conceitos abstratos e ficção científica.

Procol Harum, The Moody Blues e Nice foram os primeiros artistas de rock a empregarem instrumentos de inspiração clássica, inspirados por artistas de pop barroco como Beach Boys e Beatles. O Pink Floyd e o Sof Machine eram descendentes diretos da cena do rock psicodélico, que tinha estruturas influenciadas pelo jazz, incluindo manipulações sonoras. Esse miasma de artistas de rock progressivo precoces foi tão diverso quanto Jethro Tull, Colosseum e High Tide, e viu nascer dois dos discos mais influentes do cânone do prog: In the Court of the Crimson King do King Crimson e Uncle Meat de Frank Zappa. Ambos contribuíram enormemente para a expansão mundial do prog.

No início dos anos 1970, o prog havia se desenvolvido em muitas cenas e estilos diferentes. A maior dessas divisões foi o progressivo sinfônico, onde a emulação clássica no estilo de composição foi mais evidente. Nele, estão incluídos os grupos mais conhecidos como Yes, Genesis e Emerson Lake & Palmer. Outro grupo foi a Canterbury Scene, que estava fortemente enraizado no jazz fusion e enfatizava a experimentação e o surrealismo. Este grupo inclui o Caravan e o Gong, pioneiro do space rock. Outra parcela de bandas incorporou elementos do hard rock com a complexidade do prog, criando um som mais extremo. Nesse grupo estão bandas como Rush, Atomic Rooster, Uriah Heep e Wishbone Ash, que influenciaram a evolução do heavy metal. Partindo paralelamente a todos esses grupos e influenciando todo mundo estavam nomes como King Crimson, Van der Graaf Generator e Gentle Giant.

Do outro lado do espectro do prog estavam grupos de bandas muito enraizados no rock experimental, e entre eles temos o krautrock e o avant-prog, gêneros diversos e abrangentes que tendiam a serem influenciados por música de vanguarda como o clássico moderno e o jazz avant-garde. Ambos estes estilos reuniam bandas com poucos pontos em comum, a não ser as influências que apresentavam. Os nomes do krautrock variam daqueles inspirados por sons eletrônicos progressivos como Kraftwerk e Tangerine Dream e o psicodelismo do Amon Düül II, aos altamente experimentais Can e Faust. Os grupos avant-garde incluem o movimento Rock in Opposition e Zeuhl, desenvolvido pelo Magma, juntamente com muitos outros artistas diversos que vão de Zappa ao Area.

O rock progressivo e suas atitudes de alta cultura sempre gerou reações negativas, e ao longo da década de 1970 os gêneros que pregavam uma volta às origens como o roots rock e o pub rock existiram como uma forma de evitar essas atitudes. O estilo começou a realmente atrair grande antipatia dos críticos em meados dos anos 1970, passando a ser considerado pretensioso, pomposo e elitista, além de muitas vezes receber a alcunha de “rock de dinossauro”. Esta tendência só se intensificou com a explosão do punk rock, que determinou o fim de era dourada do prog. Muitas das bandas romperam ou mudaram para um som mais pop em uma tentativa de continuarem sendo relevantes, sendo que essas escolha foi muitas vezes mal recebida pelos apreciadores do rock progressivo. Com exceção do neo prog inspirado na new wave, o prog foi se tornando cada vez mais underground a partir da década de 1980 e, de uma maneira geral, permanece assim até hoje. 

Todos os sub-gêneros do rock progressivo ajudaram a moldar muitas outras formas de rock e de música em geral. Um estilo que existia em paralelo ao prog  era o art rock, que compartilhava as ideias do progressivo para impulsionar os limites de suas composições, embora o art rock tenha abordado esse desafio de maneira diferente, incorporando variados gêneros de vanguarda em formatos influenciados pelo pop. Muitas bandas existiam em ambos os estilos, como o Roxy Music e o Supertramp. A grande ênfase do prog no virtuosismo e no tecnicismo musical foi extremamente influente para o heavy metal e os dois estilos estão intrinsicamente conectados, com os primeiros nomes do metal como Black Sabbath, Budgie e Judas Priest já exibindo tendências prog. Na década de 1980, bandas como Iron Maiden e Mercyful Fate, com suas interações de guitarras gêmeas, elevaram o nível do tecnicismo e escreveram músicas complexas inspiradas em estruturas clássicas. Esses grupos seriam importantes para o thrash e para o death metal, que estavam mais interessados em compor canções desafiadoras e exigentes, e o prog metal, que foi o mais aberto na conversão do modelo do rock progressivo para o metal. Nomes como o Opeth abrangem características de ambos os gêneros. Os grupos krautrock e avant-prog foram importantes no desenvolvimento do punk, mais claramente no pós-punk, onde os andamentos repetitivos e a experimentação eletrônica eram comuns e, simultaneamente, a música industrial, dando origem a nomes como Public Image Ltd., Pere Ubu e This Heat. Tangencial para a cena punk foi o o peculiar zolo, que abrangeu uma série de bandas conectadas tanto ao prog quanto à new wave. O math rock colocou a ênfase em assinaturas de tempo irregulares e na composição de letras estranhas e geométricas, contribuindo claramente para o nascimento do brutal prog. O uso de timbres incomuns pelo prog seria influente para o pós-rock, que é um gênero incrivelmente diverso e que traz influências de diversos estilos.

Depois do Rate Your Music dizer tudo isso, o que temos é uma playlist com mais de 130 músicas organizada em ordem cronológica. Por que isso? Para que a evolução e o desenvolvimento do rock progressivo fiquem evidentes, mostrando quanto o gênero foi agregando elementos ao longo dos anos.

Então, após todo esse textão, dê play na playlist que preparamos e venha com a gente nessa longa e prazerosa viagem pelo mundo do rock progressivo.

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