Quadrinhos: Um Pequeno Assassinato, de Alan Moore e Oscar Zárate


Dentro da vasta e cultuada bibliografia de Alan Moore, Um Pequeno Assassinato é uma das obras menos comentadas. O autor inglês é celebrado por HQs como V de Vingança, O Monstro do Pântano, Watchmen, Batman: A Piada Mortal e inúmeros outros clássicos, mas poucos conhecem, principalmente aqui no Brasil, um título como o citado no início deste texto.

Isso acaba de ser corrigido com o lançamento nacional de Um Pequeno Assassinato pela editora Pipoca & Nanquim. A obra chega ao nosso mercado em uma HQ de luxo com capa dura, formato 20,5 x 27,5 cm e 116 páginas em papel couché. Com roteiro de Moore e arte do argentino Oscar Zárate, Um Pequeno Assassinato é um dos trabalhos preferidos do próprio Moore e ganhou o prêmio Eisner de Melhor Álbum Gráfico em 1994. 

A obra foi publicada originalmente em 1991 e permanecia inédita até hoje no Brasil. Moore a concebeu como uma crítica ao modo de vida do final dos anos 1980 e início da década de 1990, na mesma época em que também estava escrevendo Do Inferno. Na cronologia do autor, Um Pequeno Assassinato se encaixa entre Do Inferno e Lost Girls, e é considerada a primeira HQ independente do mago inglês.


A trama conta a história do publicitário Timothy Hole, que acaba de largar o emprego em Nova York para realizar o trabalho de sua vida em uma campanha que pretende marca época na hoje já extinta União Soviética. Enquanto tenta criar algo que convença o seu novo público, é assombrado pela presença cada vez maior de um pequeno garoto em diversos momentos de seu cotidiano, o que aos poucos o vai levando em uma espiral de questionamentos e loucura.

Um Pequeno Assassinato é uma HQ complexa. Sua leitura possui vários níveis, e não é recomendada como um simples entretenimento para passar o tempo. É preciso mergulhar nas ideias apresentadas no quadrinho, explorar o universo imaginado por Moore e tentar entender os conceitos propostos pelo escritor. E uma segunda e uma terceira leituras são bastante recomendadas após estar mais habituado com o que o roteiro traz, possibilitando assim uma absorção mais eficaz das ideias da HQ. 

De modo geral, temos conceitos de psicologia, tanto de Freud quanto de Jung, permeando a história. O conflito entre o ego e o id talvez seja a principal linha condutora da trama, levando o personagem central a questionar escolhas do passado e em como as decisões que tomou mudaram o seu presente e futuro. É um mergulho profundo no interior de um personagem complexo e cada vez mais inseguro, que tenta superar esses medos e sair renovado dessa jornada. 


A arte de Zárate, pintada e bastante expressiva, não está entre as que mais gosto, mas essa é uma opinião extremamente pessoal. Não curto o traço do artista, mas é inegável que a maneira como ele ilustra o texto imaginado por Moore casa perfeitamente com o que a história propõe ao leitor.

A edição brasileira mantém o já tradicional excelente padrão gráfico dos títulos lançados pela Pipoca & Nanquim e ainda traz muito material extra, o que faz da versão nacional a mais completa já lançada de Um Pequeno Assassinato em todo o mundo.

Se você procura uma HQ para uma leitura passageira, passe longe. Agora, se o que você quer é um material que faz pensar e traz questionamentos que podem ser úteis para a própria maneira como você vê o mundo, leia sem medo.




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