Discoteca Básica Bizz #129: Rita Lee & Tutti Frutti - Fruto Proibido (1975)


Ela havia saído da melhor banda de rock da história do Brasil - os Mutantes -, com quem forjara cinco dos mais importantes álbuns pop brasileiros de todos os tempos. Ao final da viagem de humor e psicodelismo que empreendeu entre 1966 e 1972 com Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, a paulistana ruiva e magricela batizada com o sonoro nome de Rita Lee já não se contentava em cantar algumas músicas e tocar pandeiro. Ela participara do centro criativo dos Mutantes, fazendo letra e música, tocando, cantando, pensando.

Expulsa dos Mutantes, Rita Lee chegava à carreira de popstar com currículo ímpar. Nenhuma mulher se destacara no rock brasileiro como ela. Rita foi a primeira cantora-compositora-roqueira-instrumentista e a primeira mulher na música a abusar da rebeldia, da irreverência, da ironia, da inteligência. O fim traumático dos Mutantes deu à garota garra para se provar e se firmar no cenário, resultando na magnífica coleção de LPs que lançou nos anos 1970, alçada - pela primeira vez - à posição de líder de uma banda, a Tutti Frutti. A qualidade de produção da Rita de então é uniforme, mas ainda assim um dos trabalhos se projeta: Fruto Proibido, de 1975, que inclui a famigerada balada "Ovelha Negra", até hoje sua marca registrada.

Musicalmente, Fruto Proibido mistura em doses equivalentes elétrico e acústico para constituir puro rock and roll - ou roque enrow, como Rita prefere. A voz de Rita mantém inflexões infanto-juvenis, agora não mais na vertente zombeteira e debochada dos Mutantes, mas transpirando rebeldia e - por que não? - sofrimento. Rita se estabelece como a ovelha negra da família brasileira, mulher chegada ao sexo, às drogas, ao rock, líder de uma banda masculina num cenário até há pouco hostil à criatividade feminina.


Não por acaso, Fruto Proibido é coalhado de referências candidamente feministas. Mas rock and roll era mesmo o que interessava. Se os exemplos que Rita tinha para seguir eram eminentemente masculinos, não fazia por menos ao selecionar os que iria utilizar. Já no rescaldo da influência Beatle dos Mutantes, voltava-se agora para outros bem mais rebeldes: David Bowie, Lou Reed, Mick Jagger - mais Celly e Wanderléa, que Rita nunca foi de negar suas origens. Até quando tangencia o já dinossáurico rock progressivo - em "O Toque” -, Rita consegue afastar a chatice, por absoluta falta de pretensão.

É essa, aliás, a marca da fase Tutti Frutti, indispensável em sua totalidade. Toneladas de criatividade e nenhum resquício de pretensão, seja em Atrás do Porto Tem uma Cidade (1974), Entradas e Bandeiras (1976, tão bom quanto Fruto Proibido) ou Babilônia (1978). Depois, viria Roberto de Carvalho.

Texto escrito por Pedro Alexandre Sanches e publicado na Bizz #129, de abril de 1996

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