Review: The Baggios - Vulcão (2018)


Vulcão é o quarto álbum da banda sergipana The Baggios e completa o quarteto formado pela estreia auto-intitulada (2011), Sina (2013) e Brutown (2016). O disco traz também uma mudança na formação do agora trio, com a efetivação do baixista e tecladista Rafael Ramos, que já havia participado do trabalho anterior e passou a ser um integrante oficial do grupo. Completam o time o vocalista e guitarrista Júlio Andrade e o baterista Gabriel Perninha.

O que temos em Vulcão é um disco de rock brasileiro na mais pura concepção da palavra, no sentido de que um álbum com a sonoridade encontrada aqui só poderia vir de uma banda natural do Brasil. Ao lado das influências de rock e blues que acompanham o The Baggios desde sempre, encontramos também sons regionais nordestinos, marchinhas de carnaval, repente, MPB, hip hop e o que mais surgir na musicalidade inquieta do trio. Se é possível sentir a presença de Jimmy Page no violão que abre “Em Si Menor”, na mesma intensidade também está ali Jorge Ben mostrando a sua sombra em “Espada de São Jorge”.

Em relação ao excelente Brutown, que foi um disco mais focado em guitarras e colocou pra fora com força total a admiração dos caras pelo rock dos anos 1970, em Vulcão a banda dá uma guinada em sua sonoridade e apresenta muito mais elementos de música brasileira, bebendo sem medo nas suas raízes regionais. Os arranjos de metais e as orquestrações presentes em todo o disco são fundamentais neste aspecto, dando muito mais profundidade ao som do The Baggios, que já era algo impressionante antes disso. A banda segue sendo guiada pela guitarra e violão de Júlio, que funciona como uma espécie de maestro para a sonoridade que é apresentada, conduzindo o grupo por caminhos invariavelmente deliciosos.

Há ao menos dois momentos sublimes em Vulcão. O primeiro é “Deserto”, uma espécie de marchinha rock and roll que desemboca em um rap com a participação do Baiana System. E o resultado é incrível e traz saudade, veja só, do imortal Chico Science. Um exemplo perfeito de como a música do The Baggios não possui limites.

O segundo é “Espada de São Jorge”, uma blues tropical que começa com um violão meio Jorge Ben e se transforma em um blues torto e atravessado que de repente vira tipo um reggae, com direito a metais e um trabalho de guitarra ótimo de Andrade.

Mas é claro que não é só isso. O disco traz um desfile de ótimas músicas como “Louva-Deus”, “Caldeirão das Bruxas” e “Vermelho-Rubi”, e sua parte final ainda realça o lado mais contemplativo da banda com uma sequência de faixas que é de uma poesia e de um lirismo tocantes: de “Samsara" ao encerramento com a música que dá nome ao álbum, é só emoção em uma espécie de suíte temática.

Outra vez, o The Baggios mostra que, se há bandas superiores ou no mesmo nível que eles aqui no Brasil, elas são poucas. Bem poucas, pra falar a verdade. 

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