Discoteca Básica Bizz #135: Crosby, Stills, Nash & Young - 4 Way Street (1971)


Há, no mínimo, duas maneiras de incluir um álbum em sua discoteca básica. A primeira engloba aqueles LPs que, durante a infância ou a adolescência, graças à sua excelência musical, moldaram o seu gosto, deram contornos largos ao seu universo emocional, enfim, fizeram de você uma pessoa melhor, ou ao menos mais feliz . Discos que acompanharam você desde sempre como um pequeno ursinho de pelúcia incrustado na memória do coração.

A segunda é a descoberta de tais obras fundamentais numa outra época. Subitamente, você repara num imenso lapso deixado pela desatenção, ou até mesmo pela simples ignorância. É o meu caso com 4 Way Street, de Crosby, Stills, Nash & Young. Este texto destina-se àqueles que, como eu, gastaram muitos anos de suas vidas desconhecendo a magia desse trabalho.

Terceiro álbum do quarteto, trata-se, inegavelmente, de uma obra-prima! Gravado ao vivo em 1970 entre Nova York, Chicago e Los Angeles, 4 Way Street captura momentos sublimes. No formato de um CD duplo - com quatro faixas adicionais magníficas -, a primeira parte traz o set acústico e a segunda a parte eletrificada.

Álbuns ao vivo, em geral, tem a função de entregar aos fãs uma segunda leitura de músicas previamente conhecidas. Essas versões sempre soam mais quentes ou mais vibrantes, pois compensam a perda de qualidade das gravações de estúdio com o calor e o suor proporcionados pela presença de uma audiência. Muitas vezes esses LPs agradam apenas àqueles que já gostavam do trabalho.


Arrisco dizer que 4 Way Street foge completamente à regra. Ainda estabelece um outro parâmetro: quanto maior a crueza do arranjo, mais se percebe o esqueleto, a alma da canção de seu artista. Em muitos momentos deste show, cada um dos quatro empunha seu violão e se entrega a desenhar no ar o espírito irreproduzível de suas composições. São momentos de tal magia que esquece-se de respirar.

Para exemplificar, citarei apenas um momento de cada um. David Crosby com "The Lee Shore" (capaz de fazer pedras milenares chorarem), Stephen Stills em "49 Bye-Byes / America's Children" (absolutamente eletrizante), Graham Nash em "King Midas in Reverse" (uma verdadeira jóia, com um refrão comovente) e Neil Young com “Don’t Let It Bring You Down”(talvez a mais linda canção que eu já tenha ouvido, embora isso possa parecer absurdo). Estou falando apenas de quatro das 15 canções do primeiro álbum. Todas são fundamentais.

O segundo disco traz a parte eletrificada do show. O destaque é a longuíssima versão de "Southern Man", com seus 13 minutos e 15 segundos de solos alternados de Stills e Young. Completam a banda o baterista Johnny Barbata (que também emprestou suas baquetas aos Seeds e Turtles, duas crias psicodélicas dos anos 1960) e Calvin Samuels (baixo).

Trata-se de um clássico dos anos 1970 que permanece absoluto e incomparável. Na tradição dos grandes álbuns duplos do rock and roll, 4 Way Street tardiamente veio engrossar minhas prateleiras. Não deixe que isso aconteça com você. Se não tiver ainda esse disco, pare tudo imediatamente e vá comprá-lo.

Vale a pena.

Texto escrito por Nando Reis e publicado na Bizz #135, de outubro de 1996

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