Review: Billy F. Gibbons - The Big Bad Blues (2018)


Causou estranheza quando Billy Gibbons, vocalista e guitarrista do ZZ Top, anunciou o seu primeiro disco solo, Perfectamundo, que saiu em 2015. E, ao ouvi-lo, ficou claro o motivo do lançamento: o álbum não trazia nada similar ao trio texano, mas sim uma sonoridade bastante influenciada pela música cubana, um das paixões de Gibbons, devidamente acompanhada pelo rock e pelo blues que marcaram a sua carreira.

Três anos depois, o barbudo retornou com mais um trabalho solo, e desta vez a história é diferente. Em Perfectamundo, as experimentações de Gibbons não caíram necessariamente nas graças dos fãs. Já em The Big Bad Blues, como o título deixa claro, o terreno é mais seguro. O que temos em mãos é um álbum de blues em sua essência, com Billy Gibbons acompanhado de uma senhora banda formada por Austin Hanks (guitarra), James Harman (gaita de boca), Joe Hardy (baixo) e Matt Sorum (bateria, ex-Guns N’ Roses, Velvet Revolver e The Cult). As onze músicas trazem canções originais e versões para clássicos de Muddy Waters e Bo Diddley, como a imortal “Rollin' and Tumblin’" e “Crackin' Up”.

Mas a força de The Big Bad Blues está nas canções inéditas, como “Missin' Yo’ Kissin”, que abre o play. Escrita pela esposa de Gibbons, Gilly Stillwater, ela dá o tom do que virá a seguir: músicas muito bem feitas, embebidas profundamente no DNA blueseiro do guitarrista e carregadas de um inerente sentimento de diversão. A sonoridade difere do ZZ Top - cujo mais recente disco, o ótimo La Futura, saiu em 2012 - principalmente pelo ritmo proporcionado pela dupla Joe Hardy e Matt Sorum, que produzem uma base mais solta que Dusty Hill e Frank Heard, gerando mais espaços para Gibbons voar e brincar com a sua guitarra. De modo geral, até dá para classificar The Big Bad Blues como uma espécie de álbum do ZZ Top livre do peso e do legado da lenda que se tornou o trio natural do Texas.

Confesso que me surpreendi de maneira muito positiva com esse disco. Não esperava que ele fosse tão bom e que trilhasse, de modo geral, o mesmo universo da banda principal de Billy Gibbons. Os faixas são muito bem desenvolvidas e o disco é excelente, com uma performance sem críticas a todos os músicos. A presença de James Harman dá um tempero extra à receita, realçando a alma blues de Gibbons, que está cantando com aquele timbre rouco que só anos de estrada banhados a whisky e charutos é capaz de produzir.

The Big Bad Blues está sendo lançado neste início do ano aqui no Brasil pela Hellion Records, após a gravadora do ZZ Top aqui em nosso país tropical ter ignorando sumariamente o título. Vá atrás, porque vale muito a pena.

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