Discoteca Básica Bizz #158: Jeff Beck - Blow by Blow (1975)


Até então, 1975, Jeff Beck já havia emplacado uma obra-prima, Truth, álbum de estreia do Jeff Beck Group, de 1968, clássico do rock pesado com tonalidades psicodélicas. Na segunda metade dos anos 1970, o guitarrista dos guitarristas (epíteto criado para designar a tremenda influência exercida por Beck entre aqueles que se dedicam ao instrumento) passou por uma tediosa fase jazz rock ao se associar ao tecladista Jan Hammer e ao baterista Narada Michael Walden. Mas antes disso ele compôs outra obra-prima: Blow by Blow, disco que inaugurou seu período instrumental.

Trata-se de um verdadeiro monumento à música bem tocada, em que se fundem ideias geniais de rock, jazz, soul e funk, perfeitamente combinadas pelo som único da guitarra de Jeff. Ele convocou para produzir o álbum George Martin, artífice das maravilhas Beatles. Talvez por isso, a versão para "She's a Woman", de Lennon e McCartney, seja um dos momentos mais cativantes do disco. Sobre uma base puxada para o reggae, a guitarra canta o refrão, articulado pela voz de Jeff por meio de uma talk box (pedal com um tubo que conduz o som até a boca do instrumentista, onde é alterado pelos movimentos labiais).


Outros pontos se destacam: da abertura, com o funk rasgado de "It Doesn't Really Matter", até a faixa de encerramento - "Diamond Dust", com solos incríveis pontuados pelo arranjo de cordas feito por Martin -, Beck se entrega com fervor ora ao fraseado de jazz rock ("Air Blower", "Scatterbrain"), ora ao espírito da soul music – em duas canções de Stevie Wonder: "Cause We've Ended as Lovers" e "Thelonius". Sem contar o ritmo frenético imposto por "Freeway Jam", tema perfeito para ouvir no toca-discos de um carro, pegando uma autoestrada.

Beck criou uma maneira de tocar inconfundível, expandindo os recursos da guitarra elétrica com solos precisos que aliam técnica e emoção, além de se utilizar, como poucos, dos efeitos e dos pedais para dar novas cores ao som do instrumento. E Blow by Blow ainda é uma prova cabal das peripécias que o cara é capaz de fazer com uma Gibson Les Paul nas mãos.

Texto escrito por Celso Pucci e publicado na Bizz #158, de setembro de 1998

Comentários