Livro: Led Zeppelin - Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra, de Mick Wall (2017, Globo)


Tudo que cerca o Led Zeppelin, mesmo passados quase quarenta anos do encerramento das atividades da banda com o falecimento do baterista John Henry Bonham em 25 de setembro de 1980, continua superlativo. Basta relembrar da comoção que foi o show realizado na O2 Arena em dezembro de 2007 e os impressionantes números de venda alcançados por Celebration Day, o registro dessa apresentação. Ou, mais recentemente, a busca apaixonada pelas novas versões da discografia da banda, repletas de faixas extras vindas diretamente do arquivo do grupo.

Pois bem. Uma história tão grandiosa e repleta de lendas e mistérios como a vivida por Jimmy Page, Robert Plant, John Paul Jones, John Bonham, o manager Peter Grant e  todos que cruzaram o caminho do Led Zeppelin em seus pouco mais de dez anos de vida merecia um registro à altura. Ele existe, e se chama Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra, biografia escrita pelo jornalista inglês Mick Wall lançada originalmente na Europa e nos Estados Unidos em 2008 e um ano depois aqui no Brasil pela editora Larousse em uma linda edição em capa dura, que já está fora de catálogo. O livro foi relançado em 2017 pela editora Globo, agora com uma nova capa em brochura.

Mick Wall é um dos jornalistas de música mais conhecidos e respeitados do Reino Unido. Iniciou a sua carreira na extinta revista Sounds em 1977. Passou pela Virgin Records, fez parte da equipe que criou a Kerrang!, foi editor da Classic Rock e é presença frequente em diversos documentários e programas sobre música. Além disso, iniciou em 1986 uma bem sucedida carreira como escritor, retratanto nas páginas de seus livros as histórias de ídolos como Ozzy Osbourne, Guns N’ Roses, Status Quo, Bono e diversos outros. São de Wall os dois principais livros publicados até hoje sobre o Metallica (Enter Night - Metallica: The Biography, lançado em 2012 no Brasil com o título de Metallica: A Biografia) e Iron Maiden (Run to the Hills: The Authorised Biography, que também ganhou uma edição nacional).

As mais de 500 páginas do livro são um deleite para qualquer fã de rock. Mick Wall conta a história sempre partindo de flashbacks montados a partir de sua imensa pesquisa, entrevistas e depoimentos. A prosa de Wall, escritor de mão cheia e que sabe como prender o leitor, faz a já fantástica trajetória do Led Zeppelin ficar ainda mais épica.

Partindo do início do grupo, do exato momento em que Jimmy Page se viu sozinho nos Yardbirds e saiu em busca dos músicos para montar a banda dos seus sonhos, Wall conta, com grande riqueza de detalhes, tudo o que envolveu o Led Zeppelin em sua pouco mais de uma década de vida. Estão no livro os triunfos, os sucessos, as conquistas e também o lado negro do quarteto, seja na depravada relação com as groupies, no consumo industrial de bebidas e drogas, na violência e truculência com que Peter Grant e seu assistente Richard Cole tratavam qualquer pessoa que cruzasse o caminho e os interesses do grupo.

Um dos maiores méritos de Wall é mergulhar, de maneira até então inédita, no interesse de Jimmy Page pela obra de Aleister Crowley e o ocultismo, tão comentado porém pouquíssimo documentado. O A obra dedica um longo capítulo, com mais de 50 páginas, para esmiuçar a fundo o envolvimento de Page com Crowley e a magia, e em como a paixão do guitarrista pelo assunto influenciou a carreira da banda. Esse capítulo é exemplar, lançando luz sobre um aspecto da vida de Page que sempre foi cercado por sombras.

O retrato da banda no auge, hipnotizando plateias em turnês gigantescas pelos Estados Unidos durante a primeira metade da década de 1970, também demonstra a razão que faz do Led Zeppelin uma lenda gigantesca e profundamente influente na cultura norte-americana até hoje. Apesar de ingleses, sobre a orientação do astuto e competente Grant o grupo focou todas as suas forças no mercado americano, e essa decisão se mostrou acertada, com os discos do Led batendo recordes e estabelecendo novos padrões de vendas, e também de público, não só nos Estados Unidos, mas em todo o planeta.

Mick Wall não esteve preso a nenhuma limitação ao fazer a sua pesquisa para escrever Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra. Isso faz com que o livro não se furte de documentar o quão profundos foram os problemas de todos os músicos, e também de Grant e Cole, com as drogas. Page e Bonham sempre foram os mais descontrolados, vivendo a persona de rock stars ao extremo, enquanto Plant e, principalmente, John Paul Jones, eram mais controlados - pero no mucho. O vício de Jimmy Page em álcool, cocaína e heroína o levou ao fundo do poço durante a década de 1980, e foi a forma nem um pouco saudável que o músico encontrou para superar a morte do parceiro de banda e de vida, Bonzo.

A vida pós-Led dos integrantes também merece atenção de Wall. Esmiuçando a carreira solo de Robert Plant, mostrando o trabalho de produtor e arranjador de John Paul e relatando a busca por um novo caminho de Page, o livro demonstra como, apesar de separados, os três músicos sempre tiveram os seus destinos cruzados ao longo dos anos. É possível perceber, ao fim da leitura, as razões que fazem com que Plant não queira retomar o seu posto e reativar a banda ao lado de Page - e, ao entender os motivos do vocalista, é impossível não simpatizar com ele.

Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra é a melhor biografia sobre uma banda de rock já publicada. Se você gosta de música, de rock, de literatura, ou simplesmente de uma jornada épica e que beira o inacreditável, irá se deliciar com a leitura.

Recomendadíssimo!

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Comentários

  1. Livro sensacional! Esta é certamente a melhor biografia de qualquer artista que eu já li e imagino que Mick Wall tenha se queimado com o staff do Led pelos podres que narra no livro...Com relação ao texto, a edição da Larousse chegou a ser atualizada por esta nova edição da Globo?

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