Review: Myrath – Shehili (2019)



O Myrath é uma já veterana banda vinda da Tunísia, e que desde 2001 explora a união do metal com elementos de música árabe. O grupo lançou o seu sexto disco, Shehili, este ano, dando sequência à evolução de seu metal com fortes temperos étnicos e que conquistou uma quantidade significativa de fãs com o álbum Legacy, que saiu em 2016.

Ao todo temos doze músicas em pouco menos de 50 minutos, um trabalho conciso que traz uma sonoridade original e que sempre coloca a música oriental com protagonismo, se não equivalente, quase em pé de igualdade com o heavy metal. Penso que essa união é o que faz com que banda vindas de países com forte tradição musical, como é o caso da Tunísia e também do Brasil, acabem se destacando no cenário internacional. É uma ferramenta poderosa como bem mostraram o Sepultura (em Chaos A.D. e Roots) e o Angra (em Holy Land), e que o Myrath sabe explorar de maneira cirúrgica.

Muito bem produzido, o disco não se prende apenas à parte sonora, pois as letras também exploram temas importantes para a realidade da banda e que precisam chegar a outras regiões do mundo. “O propósito da nossa música é induzir felicidade e alegria, para homenagear aqueles que se recusam a cair ou a perder a esperança, mesmo em um mundo cheio de ódio e incerteza. ‘Dance’ conta a história de uma dançarina síria que enfrentou ameaças de morte por parte do Estado Islâmico, mas preferiu continuar dançando, mesmo que isso significasse dançar através de ruínas e tumbas”, conta o vocalista Zaher Zorgati. E está em “Dance” o exemplo mais bem formatado da sonoridade do Myrath: as melodias orientais unem-se de maneira univitelina ao peso do metal, dando à luz uma canção com cara de hit e futuro clássico, sensação que também permeia a música que batiza o disco.

“Wicked Dice” traz riffs atuais andando lado a lado com melodias milenares, mesmo caminho seguido por “Monster in My Closet”. A banda não é pródiga em agressividade, mas compensa isso com uma musicalidade complexa e de bom gosto. No entanto, uma variedade um pouco maior não na proposta, mas sim na forma como ela é executada – os elementos árabes parecem vir sempre da mesma matriz e não apresentam caminhos muito diversificados -, tornaria o som do Myrath mais forte. O grupo tenta variar e traz composições onde o inglês divide espaço com a língua natal da banda, como é possível verificar em “Mersal” e “Lili Twil”, mas a diferença acontece mesmo em “Darkness Arise”, em que um arranjo acústico vindo das areias do Saara introduz uma dose extra de agressividade muito bem-vinda.

O disco foi lançado no Brasil pela Shinigami Records e é uma ótima dica pra quem quer ir mais fundo não apenas nas infinitas possibilidades e sonoridades que o heavy metal proporciona, mas também em uma cultura distinta da nossa e igualmente apaixonante.

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