O Myrath é uma já veterana banda vinda da Tunísia, e que
desde 2001 explora a união do metal com elementos de música árabe. O grupo
lançou o seu sexto disco, Shehili, este
ano, dando sequência à evolução de seu metal com fortes temperos étnicos e que
conquistou uma quantidade significativa de fãs com o álbum Legacy, que saiu em
2016.
Ao todo temos doze músicas em pouco menos de 50 minutos,
um trabalho conciso que traz uma sonoridade original e que sempre coloca a
música oriental com protagonismo, se não equivalente, quase em pé de igualdade
com o heavy metal. Penso que essa união é o que faz com que banda vindas de
países com forte tradição musical, como é o caso da Tunísia e também do Brasil,
acabem se destacando no cenário internacional. É uma ferramenta poderosa como
bem mostraram o Sepultura (em Chaos A.D. e Roots) e o Angra (em Holy Land), e
que o Myrath sabe explorar de maneira cirúrgica.
Muito bem produzido, o disco não se prende apenas à parte
sonora, pois as letras também exploram temas importantes para a realidade da
banda e que precisam chegar a outras regiões do mundo. “O propósito da nossa música é induzir felicidade
e alegria, para homenagear aqueles que se recusam a cair ou a perder a
esperança, mesmo em um mundo cheio de ódio e incerteza. ‘Dance’ conta a
história de uma dançarina síria que enfrentou ameaças de morte por parte do
Estado Islâmico, mas preferiu continuar dançando, mesmo que isso significasse
dançar através de ruínas e tumbas”, conta o vocalista Zaher Zorgati. E está em “Dance” o exemplo mais bem formatado da sonoridade do Myrath: as
melodias orientais unem-se de maneira univitelina ao peso do metal, dando à luz
uma canção com cara de hit e futuro clássico, sensação que também permeia a música que
batiza o disco.
“Wicked
Dice” traz riffs atuais andando lado a lado com melodias milenares, mesmo
caminho seguido por “Monster in My Closet”. A banda não é pródiga em
agressividade, mas compensa isso com uma musicalidade complexa e de bom gosto.
No entanto, uma variedade um pouco maior não na proposta, mas sim na forma como
ela é executada – os elementos árabes parecem vir sempre da mesma matriz e não
apresentam caminhos muito diversificados -, tornaria o som do Myrath mais
forte. O grupo tenta variar e traz composições onde o inglês divide espaço com
a língua natal da banda, como é possível verificar em “Mersal” e “Lili Twil”,
mas a diferença acontece mesmo em “Darkness Arise”, em que um arranjo acústico
vindo das areias do Saara introduz uma dose extra de agressividade muito
bem-vinda.
O disco foi
lançado no Brasil pela Shinigami Records e é uma ótima dica pra quem quer ir
mais fundo não apenas nas infinitas possibilidades e sonoridades que o heavy
metal proporciona, mas também em uma cultura distinta da nossa e igualmente
apaixonante.
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