Review: The Black Keys – Let’s Rock (2019)



Quando o Black Keys surgiu, em 2001, poucos diriam que a banda se tornaria uma atração capaz de lotar estádios e se bancar como headliner de grandes festivais pelo mundo, no entanto a chave do duo formado por Patrick Carney e Dan Auerbach virou após o lançamento de seu terceiro álbum, Attack & Release, de 2008, o primeiro produzido pelo requisitado produtor Danger Mouse (que por acaso faz parte de outro duo celebrado, o Gnarls Barkley).

No entanto, o disco que pôs a banda de Akron, Ohio, em outro patamar foi Brothers, de 2010, que foi multipremiado e cujos videoclipes tiveram veiculação massiva na MTV. Os singles “Tighten Up”, “Howlin' for You” e “Next Girl” adentraram no inconsciente popular da música mundial. A banda se consolidaria com o ainda melhor El Camino, de 2011, e com o diverso (e excelente) Turn Blue, de 2014.

Após um hiato considerável para artistas que atingiram tal patamar – foram 5 anos sem discos – Auerbach e Carney retornam com Let's Rock, um disco de rock cru e direto como o nome sugere, porém cheio de identidade. Essa despretensão é percebida de cara nos singles que já haviam sido liberados: “Go”, “Eagle Birds” e “Lo/Hi”, três rocks dançantes, com a guitarra esperta de Dan passeando pelas melodias coesas e batidas marcantes.

No tracklist nenhuma canção atinge quatro minutos, reforçando o apelo pop e atual da proposta. Como fator determinante na característica de seu som, o Black Keys soa retrô, mas não lembra particularmente nenhuma outra banda. Ok, “Sit Around and Miss You” é um power pop que poderia ter sido gravado pelos Beatles ou Badfinger, e a introdução de “Under the Gun” poderia ter sido criada por John Fogerty num dos clássicos álbuns do Creedence Clearwater Revival, no entanto não se pode afirmar que sejam meros pastiches dos anos 1970 como outras bandas hypadas atualmente.

O som do Black Keys é simples, porém cheio de astúcia, como na altiva “Breaking Down”, um quase soul. A guitarra de Dan é cheia de fuzz e timbres sensuais, como se vê na faixa de abertura, “Shine a Little Light”. A bateria de Carney, ao passo que é extremamente simples, é ao mesmo tempo emblemática, basta ouvir a festeira “Get Yourself Together” para sacar isso. O som é casual, mas rebuscado, como na balada elétrica “Walk Across the Water”. Os coros com backing vocals femininos alimentam ainda mais a aura sexy dos timbres de Dan. como em “Tell Me Lies” e no decorrer do disco.

Apesar de Let's Rock ser o álbum menos ambicioso do duo até aqui, em tempos que artistas emblemáticos do rock and roll contemporâneo distanciam sua sonoridade da estética do rock propriamente dito, como Arctic Monkeys ou Noel Gallagher (diga-se: gerando tanto críticas, quanto elogios), o Black Keys fez o completo oposto e se manteve fiel à sua proposta inicial: rock and roll festeiro e sexy, boas músicas de amor, num combo perfeito para um bom disco de rock.

É inegável que se trata de uma obra menor em relação aos seus antecessores, em especial Brothers e El Camino, no entanto não se trata de um disco de má qualidade, pelo contrário, é um mix de rock e blues dançante e soul, com cara de jam, que vai crescendo a cada audição. Descompromissado e sagaz como muito do que de melhor já foi produzido na história do rock.

Pegue uma cerveja, afaste os móveis e ouça.

Por David Oaski

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