Quando o Black Keys surgiu, em 2001, poucos diriam que a
banda se tornaria uma atração capaz de lotar estádios e
se bancar como headliner de grandes
festivais pelo mundo, no entanto a chave do duo formado por Patrick Carney e
Dan Auerbach virou após o lançamento de seu terceiro álbum, Attack &
Release, de 2008, o primeiro produzido pelo requisitado produtor Danger Mouse
(que por acaso faz parte de outro duo celebrado, o Gnarls Barkley).
No entanto, o disco que pôs a banda de Akron, Ohio, em
outro patamar foi Brothers, de 2010, que foi multipremiado e cujos
videoclipes tiveram veiculação massiva na MTV. Os singles “Tighten Up”, “Howlin' for You” e “Next Girl” adentraram no inconsciente popular da música mundial. A
banda se consolidaria com o ainda melhor El Camino, de 2011, e com o diverso
(e excelente) Turn Blue, de 2014.
Após um hiato considerável para artistas que atingiram
tal patamar – foram 5 anos sem discos – Auerbach e Carney retornam com Let's
Rock, um disco de rock cru e direto como o nome sugere, porém cheio de
identidade. Essa despretensão é percebida de cara nos singles que já haviam
sido liberados: “Go”, “Eagle Birds” e “Lo/Hi”, três rocks dançantes, com a
guitarra esperta de Dan passeando pelas melodias coesas e batidas marcantes.
No tracklist
nenhuma canção atinge quatro minutos, reforçando o apelo pop e atual da
proposta. Como fator determinante na característica de seu som, o Black Keys
soa retrô, mas não lembra particularmente nenhuma outra banda. Ok, “Sit Around and
Miss You” é um power pop que poderia ter sido gravado pelos Beatles ou
Badfinger, e a introdução de “Under the Gun” poderia ter sido criada por John
Fogerty num dos clássicos álbuns do Creedence Clearwater Revival, no entanto
não se pode afirmar que sejam meros pastiches dos anos 1970 como outras bandas hypadas
atualmente.
O som do Black Keys é simples, porém cheio de astúcia,
como na altiva “Breaking Down”, um quase soul. A guitarra de Dan é cheia de fuzz e timbres sensuais, como se vê na
faixa de abertura, “Shine a Little Light”. A bateria de Carney, ao passo que é
extremamente simples, é ao mesmo tempo emblemática, basta ouvir a festeira
“Get Yourself Together” para sacar isso. O som é casual, mas rebuscado, como na
balada elétrica “Walk Across the Water”. Os coros com backing vocals femininos
alimentam ainda mais a aura sexy dos timbres de Dan. como em “Tell Me Lies” e no
decorrer do disco.
Apesar de Let's Rock ser o álbum menos ambicioso do duo
até aqui, em tempos que artistas emblemáticos do rock and roll contemporâneo
distanciam sua sonoridade da estética do rock propriamente dito, como
Arctic Monkeys ou Noel Gallagher (diga-se: gerando tanto críticas, quanto
elogios), o Black Keys fez o completo oposto e se manteve fiel à sua proposta
inicial: rock and roll festeiro e sexy, boas músicas de amor, num combo perfeito
para um bom disco de rock.
É inegável que se trata de uma obra menor em relação aos
seus antecessores, em especial Brothers e El Camino, no entanto não se
trata de um disco de má qualidade, pelo contrário, é um mix de rock e blues
dançante e soul, com cara de jam, que vai crescendo a cada audição.
Descompromissado e sagaz como muito do que de melhor já foi produzido na
história do rock.
Pegue uma cerveja, afaste os móveis e ouça.
Por David Oaski
Nenhum deles supera "Rubber Factory", no entanto...
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