Review: Timo Tolkki’s Avalon – Return to Eden (2019)



Os clichês expressam ideias já batidas, lugares comuns e fórmulas repetitivas. Dependendo de como são usados, podem ser aplicados como críticas ou elogios. Aqui, será o segundo caso. O clichê – ou ditado - em questão é “quem foi rei nunca perde a majestade”, e ele resume com perfeição o que ouvimos em Return to Eden, novo álbum do Timo Tolkki’s Avalon, a ópera metal do ex-guitarrista do Stratovarius.

Tolkki fundou a banda em 1984 e a liderou por mais de duas décadas, quando anunciou o seu afastamento do grupo. Durante este período, o Stratovarius se transformou em um dos principais nomes do power metal em escala planetária, gravando discos que são referências no estilo como Episode (1996), Visions (1997) e Destiny (1998). Em 2004, Timo foi diagnosticado como portador de distúrbio bipolar e sofreu um colapso nervoso, em um processo que o levou a deixar o grupo em 2008.

Os problemas de saúde não impediram o guitarrista de seguir na ativa com novos projetos como o Revolution Renaissance e o super grupo Symfonia (ao lado de Andre Matos e de Uli Kusch, ex-baterista do Helloween), porém nenhum destes trabalhos alcançou destaque. Gradualmente, Tolkki foi retornando ao universo do metal melódico com o Avalon, uma ópera metálica que estreou em 2013 com The Land of New Hope, lançou a sua sequência Angels of the Apocalypse em 2014 e ganha a sua conclusão com Return to Eden.

O capítulo final de Avalon chegou às lojas e ao streaming dia 14 de junho e, se você é ou um dia já foi fã de Timo Tolkki, deveria parar para ouvir o que o guitarrista fez neste disco. É aqui que a frase lá do início faz sentido e mostra o quanto é verdadeira. Tolkki foi uma peça central no desenvolvimento, evolução e popularização do power metal, e conhece o gênero como poucos. Essa experiência é retomada em Return to Eden, em um trabalho de composição muito bem feito e que retoma elementos do Stratovarius e os insere no Avalon. Isso faz com que o disco possua um inequívoco apelo emocional para quem acompanhou o auge do estilo durante a década de 1990, fazendo com que a satisfação em ouvir o álbum seja instantânea.

Return to Eden conta com doze faixas e traz as participações dos vocalistas Todd Michael Hall (Riot V), Mariangela Demurtas (Tristania), Zachary Stevens (Savatage, Circle II Circle), Anneke Van Giersbergen (The Gathering, Ayreon) e Eduard Hovinga (Elegy), além de músicos de apoio. As canções variam entre o power metal com pegada clássica – ou seja: músicas rápidas, técnicas e agressivas – e outras onde a aproximação com o hard rock é evidente – caminho que a principal referência em se tratando de metal opera, o Avantasia de Tobias Sammet, também seguiu em diversos discos.

O guitarrista conseguiu entregar um álbum redondo e cativante, algo que há muito tempo não era sentido em um trabalho com a sua assinatura. A abertura com “Promises” já causa uma ótima sensação, fato que a voz de Hall intensifica. Seu registro é agudo e na linha do que se espera de um metal melódico de qualidade, e a forma como a música é construída, seus riffs e arranjos e timbres, imprimem uma aura contemporânea à canção. O lado épico do gênero bate ponto na faixa título, onde Hall ganha a companhia de Demurtas e Stevens nos vocais principais. A bela voz de Anneke coloca “Hear My Call” e “We Are the Ones”, ambas bem acessíveis e amigáveis para ouvintes de fora do metal, em destaque. Outros ótimos momentos estão em “Now and Forever” (novamente com Todd Michael Hall), a rápida “Limits” (com Hovinga) - que conversa com os anos dourados do Stratovarius -, “Wasted Dreams” (com Stevens) e o encerramento com “Guiding Star” (com Demurtas).

Em relação ao trabalho de guitarra, os riffs e harmonias são bem feitos e mostram que Tolkki não ficou parado no tempo, enquanto os solos caminham sempre por escolhas mais melódicas e deixam de lado a abordagem fritadora do passado.

Esse disco transmite uma ótima sensação, pois resgata um dos grandes nomes da história do metal e mostra que, apesar dos problemas pessoais, Timo Tolkki ainda é um mestre no estilo que o consagrou.

Um belíssimo trabalho, e que espero que ganhe edição nacional.

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