Os clichês expressam ideias já batidas, lugares comuns e
fórmulas repetitivas. Dependendo de como são usados, podem ser aplicados como
críticas ou elogios. Aqui, será o segundo caso. O clichê – ou ditado - em
questão é “quem foi rei nunca perde a majestade”, e ele resume com perfeição o
que ouvimos em Return to Eden, novo álbum do Timo Tolkki’s Avalon, a ópera
metal do ex-guitarrista do Stratovarius.
Tolkki fundou a banda em 1984 e a liderou por mais de
duas décadas, quando anunciou o seu afastamento do grupo. Durante este período,
o Stratovarius se transformou em um dos principais nomes do power metal em
escala planetária, gravando discos que são referências no estilo como Episode
(1996), Visions (1997) e Destiny (1998). Em 2004, Timo foi diagnosticado como portador
de distúrbio bipolar e sofreu um colapso nervoso, em um processo que o levou a
deixar o grupo em 2008.
Os problemas de saúde não impediram o guitarrista de
seguir na ativa com novos projetos como o Revolution Renaissance e o super
grupo Symfonia (ao lado de Andre Matos e de Uli Kusch, ex-baterista do
Helloween), porém nenhum destes trabalhos alcançou destaque. Gradualmente,
Tolkki foi retornando ao universo do metal melódico com o Avalon, uma ópera
metálica que estreou em 2013 com The Land of New Hope, lançou a sua sequência
Angels of the Apocalypse em 2014 e ganha a sua conclusão com Return to Eden.
O capítulo final de Avalon chegou às lojas e ao streaming
dia 14 de junho e, se você é ou um dia já foi fã de Timo Tolkki, deveria parar
para ouvir o que o guitarrista fez neste disco. É aqui que a frase lá do início
faz sentido e mostra o quanto é verdadeira. Tolkki foi uma peça central no
desenvolvimento, evolução e popularização do power metal, e conhece o gênero
como poucos. Essa experiência é retomada em Return to Eden, em um trabalho de
composição muito bem feito e que retoma elementos do Stratovarius e os insere
no Avalon. Isso faz com que o disco possua um inequívoco apelo emocional para
quem acompanhou o auge do estilo durante a década de 1990, fazendo com que a
satisfação em ouvir o álbum seja instantânea.
Return to Eden conta com doze faixas e traz as
participações dos vocalistas Todd Michael Hall (Riot V), Mariangela Demurtas
(Tristania), Zachary Stevens (Savatage, Circle II Circle), Anneke Van
Giersbergen (The Gathering, Ayreon) e Eduard Hovinga (Elegy), além de músicos
de apoio. As canções variam entre o power metal com
pegada clássica – ou seja: músicas rápidas, técnicas e agressivas – e outras
onde a aproximação com o hard rock é evidente – caminho que a principal
referência em se tratando de metal opera, o Avantasia de Tobias Sammet, também seguiu em diversos discos.
O guitarrista conseguiu entregar um álbum redondo e cativante,
algo que há muito tempo não era sentido em um trabalho com a sua assinatura. A
abertura com “Promises” já causa uma ótima sensação, fato que a voz de
Hall intensifica. Seu registro é agudo e na linha do que se espera de um metal
melódico de qualidade, e a forma como a música é construída, seus riffs e
arranjos e timbres, imprimem uma aura contemporânea à canção. O lado épico do gênero
bate ponto na faixa título, onde Hall ganha a companhia de Demurtas e Stevens
nos vocais principais. A bela voz de Anneke coloca “Hear My Call” e “We Are the
Ones”, ambas bem acessíveis e amigáveis para ouvintes de fora do metal, em
destaque. Outros ótimos momentos estão em “Now and Forever” (novamente com Todd
Michael Hall), a rápida “Limits” (com Hovinga) - que conversa com os anos
dourados do Stratovarius -, “Wasted Dreams” (com Stevens) e o encerramento com “Guiding
Star” (com Demurtas).
Em relação ao trabalho de guitarra, os riffs e harmonias são bem feitos e mostram que Tolkki não ficou parado no tempo, enquanto os solos caminham sempre por escolhas mais melódicas e deixam de lado a abordagem fritadora do passado.
Esse disco transmite uma ótima sensação, pois resgata um
dos grandes nomes da história do metal e mostra que, apesar dos problemas
pessoais, Timo Tolkki ainda é um mestre no estilo que o consagrou.
Um belíssimo trabalho, e que espero que ganhe edição
nacional.
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