Review: Whitesnake – Slip of the Tongue (1989)



Oitavo álbum do Whitesnake, Slip of the Tongue possui vários significados na carreira da banda inglesa. O disco marca o fim dos anos dourados do grupo liderado pelo vocalista David Coverdale, fase essa iniciada no final da década de 1970 após o fim do Deep Purple, em 1976, e que durante os primeiros anos executou uma sonoridade que unia elementos de rock, blues e soul e é chamada de “chapéu e bigode” pelos fãs das antigas. A partir do sexto álbum, Slide It In (1984), a banda mudou a sua música e se transformou em um gigante do hard rock, caminhando lado a lado com a tendência sonora em voga na época e que levou o hard rock norte-americano a se transformar em um dos gêneros mais vendidos do período.

Slip of the Tongue, lançado dia 18 de novembro de 1989, foi o último disco do Whitesnake nos anos 1980 e marcou o final deste período de imensa popularidade. A banda implodiria nos anos seguintes, com Coverdade juntando-se a Jimmy Page no Coverdale Page em 1993, gravando álbuns solo e só retornando com o Whitesnake em 1997, com Restless Heart, que foi seguido de mais um longo hiato até Good to Be Bad (2008). Slip of the Tongue foi também o único disco do grupo a contar com o guitarrista Steve Vai, que permaneceu no quinteto por apenas dois anos, saindo em 1990. A banda que gravou o álbum conta com Coverdale, Vai, Adrian Vandenberg, Rudy Sarzo e Tommy Aldridge, além da participação de nomes como Glenn Hughes (fazendo backing vocals) e Don Airey nos teclados, que mais tarde substituiria Jon Lord no Deep Purpe.

O disco foi produzido pela dupla Mike Clink (Guns N’ Roses, Megadeth, Mötley Crüe) e Keith Olsen (Fleetwood Mac, Ozzy Osbourne, Journey) e traz um som mais orgânico que o seu antecessor, o multiplatinado 1987. Slip of the Tongue conta com dez faixas, sendo nove delas compostas pela dupla Coverdale/Vandenberg e uma regravação para “Fool For Your Loving”, cuja versão original abre o terceiro álbum do grupo, Ready an’ Willing (1980). A receita já havia sido usada com sucesso em duas faixas de 1987, “Crying in the Rain” e o hit “Here I Go Again”, ambas presentes no quinto LP da banda, Saint & Sinners (1982). Novamente, David Coverdale pegou uma das jóias de seu repertório e a adequou aos timbres e abordagem do final dos anos 1980, com um resultado muito bom.

Este álbum do Whitesnake, apesar de ofuscado pelo sucesso incrível tanto de Slide It In quanto de 1987, possui uma coleção de músicas que fica em pé de igualdade com a dupla anterior. O Whitesnake soa coeso e inspirado em Slip of the Tongue, que passados trinta anos de seu lançamento segue como um de seus melhores trabalhos. A inclusão de Steve Vai, substituindo o ex-Dio e atual Def Leppard Vivian Campbell, aprimorou ainda mais o nível técnico da banda, que já contava com uma cozinha acima de qualquer suspeita com a dobradinha Sarzo/Aldridge. Vai não foca de maneira ostensiva na técnica como fez, por exemplo, em outro grande álbum de hard da década de 1980 com a sua participação, a ótima estréia solo de David Lee Roth, Eat ‘Em Smile, que saiu em 1986. A forma como a sua guitarra casou com o Whitesnake é até surpreendente, porque poucas vezes se viu Steve Vai tão integrado a uma banda como o que se escuta em Slip of the Tongue.

Entre as músicas, os destaques são muitos. De hards tipicamente Whitesnake como a música título e “Now You’re Gone” até a atualização das raízes setentistas da banda em “Cheap An Nasty”, passando pela bela regravação de “Fool For Your Loving” e a balada “The Deeper the Love”, com direito à épica “Judgment Day” pelo caminho e o encerramento com a incrível “Sailing Ships”.

Slip of the Tongue é um dos melhores álbuns do Whitesnake e o documento de um período em que a banda contou com um dos maiores guitarristas da história em sua formação. Um disco excelente, e que com o passar dos anos ficou ainda melhor.

Comentários

  1. Disparado, um dos piores trabalhos da banda. Só não é pior que "Good to be Bad " e "Forevermore". A regravação da maravilhosa "Fool for your love " foi de uma infelicidade ímpar. Depois desse desastre David Coverdale tinha que fazer as pazes com Micky Mood e voltar com ele e Bernie Marsden para o bem da banda.
    De bom mesmo só "Sailling Ships ".

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    1. Cara, é nítida sua preferência pela fase hard'n'blues, que adoro também. Por isso mesmo, você está analisando o álbum pela lente errada! Afinal, tratam-se de dois Whitesnakes distintos! Dá uma olhada sob a ótica do Hard de arena, e você terá uma grata surpresa! Forte abraço!

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    2. Oi, Alexandre. Mais ou menos por aí que vc falou. Será que sendo o mesmo disco com outra banda eu iria gostar ? Até pode ser mas sinceramente acho que não. Acho um pecado o Coverdade abandonar totalmente o seu estilo de cantar para ser apenas "mais um" vocalista de hard. Mas a discussão é sempre saudável e respeito e aceito totalmente a sua opinião.
      Forte abraço

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    3. Que isso! Sempre bom trocar ideias com apaixonados por música! E cá entre nós, também aprecio mais a fase inicial da banda! Bons sons pra você!

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  2. último Clássico do Whitesnake , depois ladeira abaixo !

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  3. a produção exgarada do album estraga muitas musicas deixando pasteurizado , os teclados o toim escolhido e bem discutivel ..deixandoa banda com cara de europe

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    1. INFELIZMENTE UM TRABALHO COM MUITOS CLICHÊS E MAQUIAGEM DE SALÃO COM EXCESSO DE LAQUÊ. MINHA PREFERÊNCIA É PELA FASE HARD, A OPÇÃO POR MERCADO MAIS COMERCIAL CONDUZIU O TALENTOSO COVERDALE AO INICIO DA QUEDA. NO ROCK IN RIO DE 1985 ROUBARAM A CENA E O SHOW. POUCOS CONHECIAM O WHITESNAKE, FILHO PRÓDIGO E PROMISSOR DO GRANDE DEEP PURPLE.
      VIDA QUE SEGUE E TEMPOS DEPOIS TIVE A EXPÊRIENCIA TRISTE DE PRESENCIAR O WHITESNAKE DUAS VEZES A PARTIR DE 2007/2008 EM APRESENTAÇÕES EM ESTÁDIO FECHADO E ARENA ABERTA: A WHITE SHADE OF PALE DE UMA BANDA QUE UM DIA SURPREENDEU. OS TRÊS PRIMEIROS DISCOS MERECEM APLAUSOS, O RESTANTE ....... DESÂNIMO.

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