Review: Destruction – Born to Perish (2019)



Para os mais inteirados com o thrash metal, o Destruction dispensa muitas apresentações. Na ativa desde 1982, os veteranos alemães já passaram por altos e baixos na carreira, mas há um certo consenso de que a banda vem apresentando uma discografia relativamente sólida desde a volta do baixista, vocalista original e membro fundador Schmier no finalzinho dos anos 1990, marcada pelos lançamentos de All Hell Breaks Loose em 2000 e The Antichrist em 2001 – momento esse que também ajudou a impulsionar toda uma verdadeira onda de retomada e redescoberta do thrash durante os anos 2000.

Quase duas décadas e muitos lançamentos depois deste marco, o Destruction prova que ainda é capaz de surpreender mesmo os mais críticos da aparente repetição de fórmula em sua obra (que permeou uma boa parte deste tempo) com o resultado presente em seu mais recente trabalho Born to Perish, e que desta vez apresenta uma banda como um quarteto (formação que não era vista desde o início dos anos 1990) agora contando com a entrada de mais um guitarrista (o suíço Damir Eskic) e um novo baterista (o canadense Randy Black, ex-Annihilator e Primal Fear). Ainda que, na verdade, eles não fujam tanto do que já fizeram nos trabalhos anteriores, há algumas diferenças no som desta vez, dentro dos limites que se propõem, e que trazem uma leve mudança – para melhor.

Nota-se, logo de cara, que mesmo mantendo a ferocidade tradicional de seu som, desta vez eles não se incomodaram muito em investir certas doses – muito bem-vindas – de cadência, característica essa que já havia sido vista no anterior Under Attack (2016), mas é ressaltada aqui graças ao trabalho dos novos membros, principalmente no complemento entre as guitarras do estreante Damir com a do lendário Mike Sifringer, um reforço que certamente enriquecerá ainda mais nas apresentações ao vivo, sobretudo do novo material. Black mostra-se uma escolha certeira para o posto de baterista, exibindo uma performance precisa durante todo o álbum. Schmier entrega um trabalho competente como vocalista como já é de costume, vociferando com seu tom particular letras que questionam diversas situações e valores religiosos, sociais e políticos pertinentes à sociedade e ao mundo moderno.

Mesmo sendo um álbum bastante consistente com sua proposta do início ao fim, algumas faixas são dignas de destaque: a explosiva faixa-título (que também abre o trabalho), “Inspired by Death”, “Rotten”, “Filthy Wealth”, “We Breed Evil” e “Ratcatcher” apresentam refrães contagiantes. “Butchered For Life” tem um certo tom reminiscente da primeira encarnação da banda como um quarteto, ainda nos anos 1980, lembrando um pouco canções como “Reject Emotions” e “Sign of Fear”, com trechos mais melódicos. “Fatal Flight 17”, inspirada pelo trágico incidente do vôo MH17 da Malaysia Airlines, que foi abatido por um míssil na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia em 2014. E, por último, “Hellbound”, excelente cover do Tygers of Pan Tang, que vem como faixa bônus.

Born to Perish é mais uma prova de que o thrash metal, apesar de não trazer mais tantas novidades há muito tempo, continua mais vivo do que nunca, e que se depender do Destruction ainda continuará por aí por um bom tempo. Um trabalho imperdível para os fãs da linha mais tradicional deste estilo.


Por Rodrigo Façanha

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