
Para os mais inteirados com o thrash metal, o Destruction dispensa muitas
apresentações. Na ativa desde 1982, os veteranos alemães já passaram por altos
e baixos na carreira, mas há um certo consenso de que a banda vem apresentando
uma discografia relativamente sólida desde a volta do baixista, vocalista original
e membro fundador Schmier no finalzinho dos anos 1990, marcada pelos lançamentos
de All Hell Breaks Loose em 2000 e The Antichrist em 2001 – momento esse
que também ajudou a impulsionar toda uma verdadeira onda de retomada e
redescoberta do thrash durante os anos 2000.
Quase duas décadas e muitos
lançamentos depois deste marco, o Destruction prova que ainda é capaz de
surpreender mesmo os mais críticos da aparente repetição de fórmula em sua obra
(que permeou uma boa parte deste tempo) com o resultado presente em seu mais
recente trabalho Born to Perish, e que desta vez apresenta uma banda como um
quarteto (formação que não era vista desde o início dos anos 1990) agora contando
com a entrada de mais um guitarrista (o suíço Damir Eskic) e um novo baterista (o
canadense Randy Black, ex-Annihilator e Primal Fear). Ainda que, na verdade,
eles não fujam tanto do que já fizeram nos trabalhos anteriores, há algumas
diferenças no som desta vez, dentro dos limites que se propõem, e que trazem
uma leve mudança – para melhor.
Nota-se, logo de cara, que mesmo
mantendo a ferocidade tradicional de seu som, desta vez eles não se incomodaram
muito em investir certas doses – muito bem-vindas – de cadência, característica
essa que já havia sido vista no anterior Under Attack (2016), mas é ressaltada
aqui graças ao trabalho dos novos membros, principalmente no complemento entre
as guitarras do estreante Damir com a do lendário Mike Sifringer, um reforço
que certamente enriquecerá ainda mais nas apresentações ao vivo, sobretudo do
novo material. Black mostra-se uma escolha certeira para o posto de baterista,
exibindo uma performance precisa durante todo o álbum. Schmier entrega um
trabalho competente como vocalista como já é de costume, vociferando com seu
tom particular letras que questionam diversas situações e valores religiosos,
sociais e políticos pertinentes à sociedade e ao mundo moderno.
Mesmo sendo um álbum bastante
consistente com sua proposta do início ao fim, algumas faixas são dignas de
destaque: a explosiva faixa-título (que também abre o trabalho),
“Inspired by Death”, “Rotten”, “Filthy Wealth”, “We Breed Evil” e “Ratcatcher”
apresentam refrães contagiantes. “Butchered For Life” tem um certo tom
reminiscente da primeira encarnação da banda como um quarteto, ainda nos anos 1980, lembrando um pouco canções como “Reject Emotions” e “Sign of Fear”, com
trechos mais melódicos. “Fatal Flight 17”, inspirada pelo trágico incidente do vôo
MH17 da Malaysia Airlines, que foi abatido por um míssil na fronteira entre a
Rússia e a Ucrânia em 2014. E, por último, “Hellbound”, excelente cover do
Tygers of Pan Tang, que vem como faixa bônus.
Born to Perish é mais uma prova
de que o thrash metal, apesar de não trazer mais tantas novidades há muito
tempo, continua mais vivo do que nunca, e que se depender do Destruction ainda
continuará por aí por um bom tempo. Um trabalho imperdível para os fãs da linha
mais tradicional deste estilo.
Por Rodrigo Façanha
Comentários
Postar um comentário
Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.