Quadrinhos: Tokyo Ghost, de Rick Remender e Sean Murphy (2019, Darkside Books)


A internet mudou o mundo. A conexão coletiva proporcionou uma nova realidade, e isso trouxe aspectos muito bons e outros nem tanto. Uma das principais críticas nesse ponto é o fato de termos extrema facilidade em nos conectarmos com pessoas distantes de nós geograficamente, enquanto deixamos de lado quem está próximo de nós fisicamente.

Esse é o ponto de Tokyo Ghost, HQ escrita por Rick Remender (Black Science, Deadly Class, Vingadores), ilustrada por Sean Murphy (Batman: Cavaleiro Branco, Punk Rock Jesus, Joe: O Bárbaro) e colorizada por Matt Hollingsworth (Jessica Jones, Batman: Cavaleiro Branco, Suicidas), publicada no Brasil pela Darkside Books em uma bela edição de capa dura, papel offset, 272 páginas e formato 17,6 x 26,8 centímetros – a edição norte-americana é da Image Comics.

A trama bebe no universo cyberpunk e entrega um roteiro que mostra um futuro distópico onde a grande maioria das pessoas é literalmente viciada em internet, preferindo o mundo virtual à realidade de carne e osso. Nesse universo sombrio conhecemos o casal Debbie Decay e Led Dent. Ela, uma purista totalmente limpa em relação à tecnologia. Ele, um viciado profundo em tudo que esse novo mundo proporciona.


Tokyo Ghost propõe um grande questionamento ao abordar a nossa relação com a tecnologia, seja ela uma simples mensagem no WhatsApp ou uma maratona jogando online. A conexão sem limites mostrada pelo quadrinho pode até aparentar ser algo impossível de acontecer em um primeiro momento, mas basta uma pesquisa rápida – online, é claro – para ter contato com situações que sugerem que o mundo imaginado por Remender não é tão impossível assim. 

A história é dividida em três arcos bem definidos – apresentação e contextualização desse mundo tecnológico, o seu contraste em um Japão que é o último refúgio natural do planeta e o confronto final pelo controle de tudo. A arte de Sean Murphy entrega o deslumbramento característico, com desenhos repletos de detalhes e uma riqueza visual atordoante. As inúmeras páginas duplas são de embasbacar qualquer fã de quadrinhos, e a colorização de Matt Hollingsworth reforça ainda mais essa sensação. A narrativa visual bebe bastante no universo dos mangás, com um ritmo alucinante e elementos comumente utilizados em quadrinhos japoneses. Como não sou um leitor de mangás e também não aprecio esse ritmo frenético encontrado nos quadrinhos nipônicos, isso me incomodou um pouco, mas longe de comprometer a leitura.



Dividida em dez capítulos, Tokyo Ghost é uma obra que conversa com o nosso tempo e expõe aspectos inquietantes da nossa realidade. Ao final de leitura é impossível não pensar na sua própria relação com a tecnologia e com a internet, e como isso não só impacta a sua vida, mas como, sobretudo, alterou a forma como você se relaciona com as pessoas.

E uma HQ que proporciona um choque tão grande quanto esse merece todos os elogios, não é mesmo?

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