Ghost e a criação de um novo imaginário para o heavy metal



Em 18 de outubro de 2010 chegou às lojas Opus Eponymous, primeiro álbum de uma então desconhecida banda sueca chamada Ghost. O som era um metal tradicional com muita influência dos anos 1970 de nomes como Blue Öyster Cult, enquanto as letras exploravam temas sombrios, de magia negra e flertes com o satanismo. O contraste entre a pegajosa e cativante parte musical e as soturnas e polêmicas letras reacendeu o interesse pelo chamado occult rock, que nasceu lá no final da década de 1960 através de bandas como Coven, Black Widow e o próprio Blue Öyster Cult.

Opus Eponymous foi aclamado tanto pelo público quanto pela crítica e se transformou em um dos álbuns mais emblemáticos da década de 2010. Na sequência o Ghost gravou mais três discos igualmente ótimos: Infestissumam (2013), Meliora (2015) e Prequelle (2018). 

Em paralelo à evolução musical do sexteto liderado pelo vocalista Tobias Forge, toda uma estética visual foi concebida e deu ao mundo uma das figuras mais marcantes do imaginário metálico dos últimos anos: o Papa Emeritus e suas variações.


O Ghost, como todo mundo sabe, é formado por músicos mascarados. Com exceção de Forge, não se sabe quem são os demais integrantes. O figurino com roupas que derivam do guarda-roupas do Cristianismo intensifica ainda mais o impacto visual da banda, que sabe como poucas aliar a música com a apresentação estética. O frontman é o ponto central dessa receita. Papa Emeritus é a chave da inserção e efetivação do Ghost na cultura pop. Ele começa como Papa Emeritus no primeiro disco, ganha uma segunda versão em 2013 e uma terceira e derradeira releitura em 2016, todas paramentadas como um papa perverso e que traz as forças ocultas para o centro do mundo pop. Teatral, exagerado, extremamente ensaiado: o Papa é o Ghost atualizando as lições de lendas como Alice Cooper e Kiss para uma nova geração de fãs.

O Papa Emeritus voltou para as sombras em 2018, com Forge encarnando um novo personagem chamado Cardinal Copia. Cara mais limpa, figurino mais enxuto e efetivo, expressão de poucos amigos. Tobias aperfeiçoando a receita e levando a figura central do Ghost para um novo nível.


Toda essa trajetória, goste-se ou não do Ghost (e o número de haters da banda ainda é grande entre os headbangers mais tradicionais), levou à construção de um novo ícone visual do heavy metal. Papa Emeritus e Cardinal Copia – principalmente o primeiro – estão no um nível semelhante ao de ícones visuais gerados pelo metal e pelo rock pesado para a cultura pop como Angus Young, Eddie, os mascarados do Kiss e poucos outros. E aqui, interpretação de texto feelings: não estou dizendo que o Ghost é tão importante ou influente quanto AC/DC, Iron Maiden ou Kiss, mas sim que a já icônica imagem visual que identifica a banda possui força para se tornar tão forte quanto os que estão associados a essas bandas.

Papa Emeritus e suas variação se transformaram em GIFs, Funkos, stickers e emojis. Ele conversa com o público como poucos elementos vindos do metal nessa década. E isso é um feito e tanto.

O Papa nunca foi tão pop. E o Ghost ainda tem muita história pra contar.






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