Carta aberta à Warner Music Brasil



Oi, amigos da Warner Brasil. Tudo bem? Vocês não me conhecem, mas a nossa relação é longa. Ouço música e coleciono discos (primeiro LPs, depois CDs) há mais de três décadas, e minhas estantes estão repletas de álbuns lançados aqui no Brasil pela Warner e suas subsidiárias (Atlantic, Elektra, ...). Por isso, tomei a liberdade de entrar em contato.

O motivo desse e-mail é um pedido e também passar uma informação para a sua equipe de mercado e as pessoas responsáveis pelos lançamentos de discos aqui no Brasil, já que me parece que algo bem grande está sendo ignorado pelo pessoal que trabalha por aí. O Grammy acabou de acontecer, e entre as bandas que estavam em destaque na cerimônia uma das principais e mais comentadas foi o Rival Sons. Como ninguém aí nos escritórios da empresa parece conhecer a banda e saber do que se trata, vamos para o outro parágrafo falar mais sobre eles.


O quarteto foi formado em Long Beach, na California, em 2009, e desde então já lançou seis discos. A banda veio ao mundo pelas mãos da gravadora inglesa Earache Records, e quatro desses álbuns ganharam edições nacionais através da Som Livre e da Hellion Records, gravadora com sede em São Paulo e que atua no mercado há trinta anos. São eles: Pressure & Time (2012, Som Livre), Head Down (2012, Hellion), Great Western Valkyrie (2014, Hellion) e Hollow Bones (2016, Hellion). Crescendo a cada disco, a banda trocou de gravadora e assinou com uma major, a Atlantic, que faz parte do grupo Warner, e lançou em 2019 seu mais recente trabalho, Feral Roots. Esse álbum é espetacular, ganhou destaque nas listas de melhores discos do ano passado de diversas revistas em todo o mundo, e deu duas indicações ao Grammy para a banda: Melhor Álbum de Rock e Melhor Performance de Rock, pela música “Too Bad”. Vocês não devem saber de nada disso já que aparentemente não conhecem a banda, então vai mais uma informação bem importante: esse disco aclamado em todo o mundo e que rendeu duas indicações ao Grammy, o Feral Roots, não foi lançado no Brasil. E mais: ele faz parte do catálogo da Atlantic, que é uma empresa do grupo Warner.

Eu sei que o mercado fonográfico enfrenta uma situação bastante complicada aqui no Brasil, diminuindo de tamanho a cada dia, mas também sei que o rock e o heavy metal, junto com outros gêneros como o jazz e a MPB, são alguns dos poucos gêneros musicais onde a venda de mídias físicas ainda permanece ativa. E por mais que em suas redes sociais vocês só promovam artistas de sertanejo universitário – que se transformou na nova música pop brasileiro, sei disso -, existe vida além do "tchã tchã rã rã tchã tchã". E com um diferencial importante: enquanto o público do sertanejo universitário consome apenas o que está em voga, a música do momento e a dupla que está bombando, o fã de rock continua construindo uma relação mais profunda com os seus artistas preferidos e, além de fazer questão de ter a mídia física em casa, ainda por cima é um voraz construtor de vastas coleções de discos. Em um mercado cada vez menor e focado em música digital, me parece interessante tratar com atenção e carinho quem segue fazendo questão de possuir itens originais e CDs, LPs e outros formatos em seus acervos.


Tudo isso para fazer um pedido: por mais que a sua equipe aparentemente não conheça e não saiba nada sobre o Rival Sons, e que você, Warner Brasil, siga ignorando uma das bandas de rock mais aclamadas desta década, gostaria que o Feral Roots ganhasse uma edição nacional. Vocês seguem lançando CDs por aqui, e apostar no Rival Sons irá não apenas agradar um público sedento pela banda (ah, quase esqueci de comentar: eles abriram os shows da turnê despedida do Black Sabbath aqui no Brasil, em 2016), mas sobretudo um público fiel, exigente e que ainda faz questão, como dito, de ter itens originais em suas coleções.

Se ainda precisarem de informações para serem convencidos, peguem mais algumas: Feral Roots chegou ao quarto lugar na Noruega, Escócia e Suécia, ao sétimo posto na Suíça, ao oitavo na Alemanha e ao décimo-segundo lugar no Reino Unido. Nos Estados Unidos, maior mercado fonográfico do planeta e terra natal da banda, Feral Roots alcançou a posição 139 do Billboard 200, o número 1 no Top Heatseekers, número 22 na parada de rock e número 6 na de hard rock – não vou explicar a diferença entre cada um desses charts, afinal vocês, como pessoas do mercado, sabem bem quais são.

Se quiserem conhecer mais sobre a banda, neste link estão todas as matérias que já publicamos sobre eles, de 2011 até 2020.
  
Espero que leiam essa carta com atenção e atendam esse pedido.

Forte abraço.

Ricardo Seelig
Editor

Comentários

  1. Excelente iniciativa! Parabéns Ricardo.

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  2. Nunca tive nenhuma das contas que dava acesso aos comentários. Agora que possível, passo pra parabenizar o Ricardo pelo trabalho aqui feito. Imagino que a recompensa supera eventuais dissabores ou desgostos. Tratar sobre cultura em nosso país demanda mesmo muita força de espírito. Bravo!

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  3. Muito bom. Teve uma época que pensei em fazer o mesmo pedindo lançamento de CDs do King Crimson, mas acabei desistindo da ideia...não teria competência para escrever um texto convencendo a gravadora. O mercado de CDs praticamente acabou em nosso pais...é um nicho e só pequenos selos irão sustenta-lo (como os DVDs). Como as majors não se importam com nichos, bandas que assinarem com essas grandes gravadoras terão seus lançamentos sumariamente ignorados em nosso país.

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  4. No caso aí ...acho que um abaixo-assinado funcionaria melhor. Eu não sei onde criar...mas poderíamos fazer um e enviar para a gravadora.

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  5. Boa. Já havia feito isso, mas pelo facebook. Outro disco muito bom e que não foi lançado em terras Brasilis foi o ultimo do Black country communion.

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  6. Ótima iniciativa, também sou colecionador de cds e Lps. A Warner deu algum retorno?

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