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Run For Your Lives: o setlist da turnê de 50 anos do Iron Maiden, analisado em detalhes


O Iron Maiden iniciou sua aguardada turnê de 50 anos, Run For Your Lives, com um setlist que presta homenagem à sua fase mais clássica: entre o álbum de estreia Iron Maiden (1980) e Fear of the Dark (1992). A proposta é clara: resgatar a essência dos primeiros anos e entregar aos fãs um mergulho nostálgico em sua discografia mais emblemática.

Foram os primeiros shows da banda sem o baterista Nicko McBrain em 42 anos, substituído por Simon Dawson, que fez a sua estreia no sexteto no primeiro show da tour, realizado nesta terça (27/05), em Budapeste, na Hungria. A abertura foi do Halestorm.

A seguir, uma análise faixa a faixa da dinâmica do show. 


1. The Ides of March

Uma introdução instrumental, tocada em playback, perfeita para abrir os trabalhos. Com pouco mais de um minuto, essa faixa instrumental de Killers (1981) cria um clima solene e épico, preparando o terreno para a explosão que vem a seguir.

2. Murders in the Rue Morgue
Começar com uma das faixas mais velozes e viscerais do segundo disco já é uma declaração de intenções. Uma escolha que mostra respeito às raízes e atiça os fãs mais antigos. É o Maiden ainda sujo e acelerado, em sua forma mais crua. 

3. Wrathchild
Clássico absoluto dos anos com Paul Di’Anno, mas que já figurou em incontáveis turnês. Sua inclusão é compreensível pelo apelo nostálgico, mas talvez seja o ponto menos surpreendente do set. Ainda assim, mantém a energia em alta.

4. Killers
A presença da faixa-título do segundo disco reforça o foco na fase inicial da banda. Atmosférica, sombria e cortante, “Killers” é uma das melhores representações do Maiden antes da chegada de Bruce Dickinson.

5. Phantom of the Opera
Um dos maiores momentos da noite. Longa, complexa, dinâmica, “Phantom of the Opera” mostra que, mesmo no primeiro disco, o Iron Maiden já pensava grande. Aqui, o público é levado por uma montanha-russa sonora que mistura o peso do punk com a sofisticação do rock progressivo.

6. The Number of the Beast
É como acionar um detonador emocional. A introdução falada é icônica, e a entrada da banda leva a plateia à loucura. Incluir essa faixa era obrigatório — e ela funciona como uma ponte entre a fase inicial e a ascensão definitiva com Bruce Dickinson.

7. The Clairvoyant
A primeira visita a Seventh Son of a Seventh Son (1988) dá uma guinada progressiva ao set. A linha de baixo marcante de Steve Harris guia a faixa, que carrega um senso de misticismo e melancolia. Uma ótima escolha para equilibrar a dinâmica do show.

8. Powerslave
Uma virada total para o lado épico. “Powerslave” traz teatralidade e atmosfera, com Bruce Dickinson assumindo o papel de faraó decadente. A performance ao vivo é sempre um espetáculo, tanto visual quanto vocal.

9. 2 Minutes to Midnight
Talvez o ponto mais previsível do show. Embora seja um hit gigantesco, sua presença constante em turnês recentes a torna pouco impactante nesse contexto celebratório. Ainda assim, é um petardo e funciona bem ao vivo.

10. Rime of the Ancient Mariner
O ápice da noite para os fãs de composições longas e ambiciosas. A performance dessa música é sempre uma experiência — com seus climas variados, trechos narrativos e picos de intensidade. Um acerto absoluto.

11. Run to the Hills
É difícil não esperar por ela. Mesmo que esteja entre as mais saturadas do repertório, “Run to the Hills” é sinônimo de Iron Maiden para o público geral. E claro, tem o nome da turnê — impossível deixá-la de fora.

12. Seventh Son of a Seventh Son
Mais um mergulho na fase progressiva da banda, com mais de 9 minutos de duração e uma estrutura cheia de nuances. A escolha mostra respeito por um álbum que, apesar de sua ousadia, nem sempre teve o devido destaque ao vivo.

13. The Trooper
Clássico incontestável, é a faixa que mais simboliza a energia e o espírito combativo do Maiden. O solo gêmeo, a bandeira britânica, o público cantando cada palavra — um momento infalível.

14. Hallowed Be Thy Name
A obra-prima do Maiden. Uma das músicas mais completas do heavy metal. Dramática, intensa e catártica, é um dos pontos altos do show e um dos melhores exemplos da genialidade de Steve Harris.

15. Iron Maiden
Tradicionalmente usada para encerrar o set principal, a faixa-título do primeiro disco é um lembrete das origens e da longevidade da banda. Ganha força pelo simbolismo.

16. Aces High
Um bis explosivo. “Aces High” é adrenalina pura, com vocais desafiadores e riff pegajoso. É o Maiden em velocidade máxima, revisitando os tempos de glória.

17. Fear of the Dark
O momento de comunhão com o público. Todos cantam. A música é relativamente recente no recorte da turnê, mas tornou-se essencial e representa bem o fim de um ciclo da banda nos anos 1990.

18. Wasted Years
Fechando com chave de ouro. Representando o álbum Somewhere in Time (1986), a faixa é carregada de sentimento, com letra que fala diretamente sobre tempo e arrependimentos. Uma escolha certeira para o encerramento de um show comemorativo.


A proposta da turnê é celebrar os 50 anos do Iron Maiden com foco em sua era clássica, e isso foi cumprido — ou quase. Todos os álbuns entre Iron Maiden (1980) e Fear of the Dark (1992) foram representados — com exceção de No Prayer for the Dying. Essa ausência é notável e, embora o disco seja considerado um dos mais irregulares da banda, ele poderia ter sido lembrado com uma boa surpresa.

Faixas como “Bring Your Daughter… to the Slaughter” (único single da banda a chegar ao #1 nas paradas britânicas) ou até algo mais inesperado como “Tailgunner”, “Mother Russia” ou a faixa-título seriam adições interessantes, tanto pelo ineditismo quanto pela quebra da previsibilidade.

Sobre Somewhere in Time, sua presença foi discreta, mas representada de forma simbólica com “Wasted Years”. E isso faz sentido: o álbum foi celebrado com destaque na turnê anterior (The Future Past Tour), que trouxe de volta clássicos como “Caught Somewhere in Time” e “Alexander the Great”. Por isso, sua menor participação agora soa equilibrada, abrindo espaço para outras fases da discografia. Ainda assim, a inclusão de “Heaven Can Wait” funcionaria perfeitamente no setlist, com seu refrão grudento e participação do público e convidados no palco.

Além destas canções, muitas outras poderiam ser incluídas, afinal estamos falando de uma banda com uma longa discografia e uma igualmente longa lista de músicas memoráveis. Cada fã tem as suas canções favoritas, e cada fã também tem suas críticas e elogios ao setlist.

Em resumo, a Run For Your Lives Tour entrega exatamente o que promete: uma jornada intensa e retrospectiva pela história do Iron Maiden. Mesmo com escolhas que podem ser debatidas, a banda mostra que continua conectada à sua base e fiel à sua identidade — algo raro em uma carreira que já atravessa meio século.


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