Pular para o conteúdo principal

For Unlawful Carnal Knowledge (1991): o auge da era Sammy Hagar no Van Halen


Lançado em 17 de junho de 1991, For Unlawful Carnal Knowledge marca um ponto de inflexão na carreira do Van Halen. Após o sucesso radiofônico e comercial de OU812 (1988), o grupo decidiu trilhar um caminho mais pesado, orgânico e, de certa forma, mais sério. O resultado é um álbum que soa como uma reafirmação de identidade em meio às mudanças na indústria e ao início de um novo ciclo no rock dos anos 1990.

O título provocativo é um trocadilho malicioso que remete à palavra “fuck” – For Unlawful Carnal Knowledge, ou seja, “por conhecimento carnal ilegal”. A escolha do nome por si só já indicava a intenção da banda em provocar e confrontar, algo que o Van Halen sempre fez bem.

Produzido por Andy Johns (Led Zeppelin, Rolling Stones) com co-produção de Ted Templeman e da própria banda, o álbum traz uma sonoridade mais crua e direta, afastando-se dos sintetizadores que marcaram os discos anteriores com Sammy Hagar. A banda queria soar mais "rock de verdade" — e conseguiu. Eddie Van Halen, após experimentar teclados e sons mais polidos nos álbuns anteriores, voltou com força total à guitarra, o que deu a F.U.C.K. um peso mais próximo do hard rock tradicional. A bateria de Alex Van Halen também ganhou destaque com gravações mais secas e presentes, e Michael Anthony, como sempre, manteve os graves coesos e contribuiu com backing vocals marcantes.

O álbum abre com a furiosa “Poundcake”, que já começa com Eddie usando uma furadeira como slide – uma assinatura sonora criativa e agressiva. A faixa é um petardo direto, repleto de energia e riffs matadores. “Judgement Day” mantém o ritmo com uma pegada mais sombria e moderna, mostrando que a banda estava sintonizada com os tempos que mudavam. “Runaround” é talvez a faixa mais acessível do disco, com um refrão grudento e groove bem construído. Já “Right Now” é o grande clássico do álbum – sua combinação de piano e rock de arena deu origem a um videoclipe icônico e a uma música que virou símbolo de momentos de transformação, tanto para fãs quanto para campanhas publicitárias (como a famosa da Pepsi nos anos 1990).

Outras faixas de destaque incluem “Top of the World”, que reaproveita o riff final de “Jump” de forma mais solar e otimista, e “Man on a Mission”, com sua pegada funky e ritmo pulsante. A balada “316”, dedicada ao filho de Eddie, Wolfgang, é uma peça instrumental delicada e emocional, contrastando com o peso predominante do álbum.


Enquanto os anos 1980 foram dominados por excessos e produções exuberantes, For Unlawful Carnal Knowledge soa como um retorno às raízes do hard rock setentista, com pitadas de blues e groove. A influência de bandas como Led Zeppelin é perceptível tanto na estrutura das músicas quanto na produção mais seca e direta. Houve também uma resposta implícita à ascensão do grunge: o Van Halen, embora ainda mergulhado no mainstream, começou a abraçar uma estética menos polida e mais crua — sem, no entanto, abrir mão do virtuosismo e da identidade própria.

F.U.C.K. estreou em primeiro lugar na Billboard 200, vendeu mais de 3 milhões de cópias nos Estados Unidos e ganhou o Grammy de Melhor Performance Hard Rock com Vocais por “Right Now”. Foi um sucesso comercial estrondoso e mostrou que o Van Halen ainda era relevante em plena virada de década. Para muitos fãs, é o ápice da era Sammy Hagar – mais coeso que OU812 e menos pop que 5150. Também é o último grande álbum da banda antes da turbulência dos anos seguintes, marcada por trocas de vocalistas e mudanças no cenário musical, período em que a banda ainda conseguiu entregar outro bom disco, Balance, lançado no final de janeiro de 1995 e que marcou a despedida de Sammy Hagar.

For Unlawful Carnal Knowledge é um álbum que representa o Van Halen no auge da maturidade técnica e criativa. Ainda que menos inovador do que os trabalhos com David Lee Roth, mostra a banda firme, confiante e adaptada aos tempos. Um disco pesado, direto e repleto de momentos marcantes — uma verdadeira aula de hard rock clássico feito por mestres do gênero.


Comentários