Um dos pilares fundamentais do groove metal dos anos 1990, Burn My Eyes, álbum de estreia do Machine Head, chegou em um momento de transição do metal: o thrash tradicional estava em declínio comercial, o grunge dominava as paradas e o metal precisava encontrar novas formas de se conectar a uma geração que cresceu ouvindo tanto Metallica quanto Pantera e Biohazard.
Formado em Oakland, na Califórnia, o Machine Head canalizou influências do thrash da Bay Area, da ferocidade do hardcore novaiorquino e da pegada arrastada do groove metal texano para criar um som denso, pesado e urbano. As guitarras afinadas em tons mais graves, a percussão seca e os riffs marcados transformaram Burn My Eyes em um manifesto de agressividade contemporânea. Ao lado de Vulgar Display of Power (1992), do Pantera, e Chaos A.D. (1993), do Sepultura, o álbum ajudou a definir a sonoridade que dominaria boa parte da década.
Entre as faixas, “Davidian” é um clássico absoluto, com o refrão eternizado como grito de guerra dos fãs. “Old” e “Ten Ton Hammer” (lançada no álbum seguinte, The More Things Change ..., de 1997, mas filha direta dessa fase) mostram a força dos grooves colossais que Robb Flynn e o guitarrista Logan Mader sabiam criar. “A Thousand Lies” e “The Rage to Overcome” mantêm a tensão, enquanto “Death Church” e “Blood for Blood” revelam o peso quase claustrofóbico que se tornaria marca registrada do quarteto – completado aqui pelo baixista Adam Duce e pelo baterista Chris Kontos. O álbum ainda traz letras carregadas de crítica social e observações sobre violência, religião e alienação, temas que dialogavam perfeitamente com o clima sombrio do início dos anos 1990.
Burn My Eyes pavimentou o caminho para que o groove metal se consolidasse como um gênero próprio, influenciando desde bandas emergentes da época até formações mais modernas que buscavam unir peso, groove e agressividade crua. Para muitos fãs e críticos, este é o auge criativo da banda — um disco em que a urgência de um grupo recém-formado e a habilidade de traduzir a fúria de uma geração se encontram de forma perfeita.Mais de 30 anos depois, Burn My Eyes continua soando tão brutal e relevante quanto no dia de seu lançamento. Um clássico incontestável, não apenas do Machine Head, mas da história do metal.
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