Pular para o conteúdo principal

Ritchie Blackmore’s Rainbow (1975): quando o hard rock encontrou a fantasia


Pode um guitarrista mudar o rumo do hard rock duas vezes? Ritchie Blackmore provou que sim. Após ser um dos pilares criativos do Deep Purple e gravar álbuns definitivos como In Rock (1970), Machine Head (1972) e Burn (1974), o guitarrista decidiu seguir por um novo caminho. Em 1975, Ritchie Blackmore’s Rainbow marcou não apenas uma guinada na carreira do músico, mas também o nascimento de uma sonoridade única que ampliaria as fronteiras do hard rock rumo ao épico e ao fantástico.

O álbum foi concebido após Blackmore ficar insatisfeito com os rumos do Deep Purple e, especialmente, com a direção musical de Stormbringer (1974). Buscando mais controle criativo e liberdade para explorar seus próprios interesses — como música medieval, progressiva e barroca —, ele recrutou a banda Elf, liderada por um vocalista então pouco conhecido: Ronnie James Dio. Foi o encontro de dois gênios em sintonia perfeita. Ainda que Dio já tivesse álbuns lançados com o Elf, foi aqui que o mundo realmente prestou atenção à sua voz poderosa, dramática e carregada de carisma.

Ritchie Blackmore’s Rainbow é um disco de transição, mas longe de ser inseguro. O hard rock ainda pulsa forte, com riffs marcantes e solos virtuosos, mas já há sinais da direção mais ambiciosa que seria consolidada em Rising (1976) e Long Live Rock ‘n’ Roll (1978). As influências vão de Jimi Hendrix e Cream a música clássica, folk celta e o rock sinfônico europeu. A atmosfera das faixas é mais sombria e mágica, e o lirismo de Dio começa a pintar paisagens mitológicas que se tornariam sua marca registrada.


Entre os destaques, “Man on the Silver Mountain” é o hino definitivo do álbum, misturando peso, melodia e misticismo com maestria. “Catch the Rainbow” é uma balada etérea que revela o lado mais sensível e atmosférico da parceria Blackmore-Dio. “Sixteenth Century Greensleeves” mergulha de cabeça no medievalismo elétrico, enquanto “The Temple of the King” prenuncia a faceta mais épica e narrativa da banda.

Com Ritchie Blackmore’s Rainbow, o guitarrista não apenas se libertou das amarras criativas do Deep Purple, como também fundou uma nova escola dentro do hard rock — uma que abraçava o fantástico, o heroico e o mítico como poucos tinham ousado fazer. O disco também é o ponto de partida para Ronnie James Dio se tornar um dos maiores vocalistas da história do metal.

Um álbum de estreia raro: visionário, coeso e com personalidade própria.

Comentários