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Iron Maiden e a ousadia futurista de Somewhere in Time (1986)


O Iron Maiden chegou à metade da década de 1980 em um ponto decisivo. Após o sucesso estrondoso de The Number of the Beast (1982), Piece of Mind (1983) e Powerslave (1984), além da gigantesca World Slavery Tour eternizada no ao vivo Live After Death (1985), a banda estava no auge comercial e criativo. Mas também esgotada. Bruce Dickinson, por exemplo, queria levar o grupo para caminhos mais acústicos e intimistas, mas Steve Harris tinha outra visão: era hora de expandir o som, sem perder a grandiosidade conquistada. O resultado dessa tensão foi Somewhere in Time (1986).

O disco marcou a estreia dos sintetizadores de guitarra no som do Iron Maiden. Não se tratava de teclados convencionais, mas de efeitos aplicados às guitarras de Adrian Smith e Dave Murray, criando uma ambientação futurista que se encaixava com perfeição no conceito visual de ficção científica e distopia. A capa de Derek Riggs é até hoje uma das mais detalhadas e icônicas do metal, com dezenas de referências escondidas à própria história da banda.

Musicalmente, Somewhere in Time equilibra a identidade clássica do Iron Maiden com uma abordagem mais tecnológica. “Caught Somewhere in Time” abre o disco com energia explosiva, riffs cortantes e a pegada típica da banda. “Wasted Years”, single composto por Adrian Smith, é um dos maiores clássicos do grupo, trazendo uma melodia marcante e uma reflexão sobre o tempo e a vida na estrada. A dobradinha “Sea of Madness” e “Heaven Can Wait” mostra o Maiden explorando refrães grandiosos e estruturas expansivas. Já no lado mais épico, “The Loneliness of the Long Distance Runner” e “Alexander the Great” entregam narrativas ambiciosas, sendo a última uma das canções mais cultuadas pelos fãs justamente por nunca ter sido tocada ao vivo até muito recentemente.


Muitos esperavam uma continuação direta da sonoridade de Powerslave e estranharam a presença dos sintetizadores. Mas com o tempo, Somewhere in Time foi reavaliado e hoje é visto como uma peça fundamental da discografia do Iron Maiden. Ele pavimentou o caminho para o progressivo Seventh Son of a Seventh Son (1988), outro marco na carreira da banda.

A força de Somewhere in Time vai além da música. A capa virou objeto de estudo entre fãs, a turnê trouxe um dos palcos mais futuristas da época, e as músicas seguem sendo parte essencial do repertório e da identidade do grupo. É um disco que mostra como o Iron Maiden soube se reinventar sem perder a essência, ampliando seu alcance artístico e consolidando-se como a maior banda de heavy metal do planeta.

Na história do Iron Maiden, Somewhere in Time é um álbum visionário: ousado, melódico, repleto de canções memoráveis e embalado por uma estética que, quase quatro décadas depois, ainda soa atual.

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