Opus Eponymous marcou a chegada de uma das bandas mais intrigantes e influentes do metal do século XXI. O Ghost surgiu na Suécia como um mistério envolto em teatralidade, ocultismo e melodia. Naquele momento, o metal extremo ainda dominava o cenário escandinavo, mas o Ghost ousou trilhar o caminho oposto: resgatar a sonoridade sombria, melódica e acessível do heavy metal dos anos 1970 e início dos 1980 — com influências que vão de Blue Öyster Cult e Mercyful Fate a Black Sabbath e Alice Cooper — e embrulhar tudo em uma estética satânica e litúrgica.
O álbum é
curto, com pouco mais de 30 minutos, mas cada segundo é calculado com precisão
quase ritualística. A produção é cristalina, o som das guitarras é quente e
vintage, e os vocais suaves de Papa Emeritus contrastam com o conteúdo blasfemo
das letras, criando um efeito hipnótico. A abertura com “Deus Culpa” e “Con
Clavi Con Dio” já define o tom: riffs elegantes, refrões melódicos e uma
atmosfera de missa negra com refrões pop. “Ritual”, talvez o hino definitivo do
Ghost, resume tudo o que o grupo se propõe a fazer — misturar o profano com o
irresistível. Outras faixas como “Elizabeth” (inspirada na condessa Bathory),
“Stand by Him” e “Prime Mover” reforçam o equilíbrio entre peso e harmonia,
entre a reverência e a ironia.
A combinação de anonimato dos músicos — identificados apenas como Nameless Ghouls — com a iconografia católica e o som cativante chamou atenção tanto dos fãs de metal tradicional quanto do público alternativo. O disco trouxe frescor ao metal contemporâneo sem precisar de brutalidade: o Ghost provou que era possível ser sombrio, teatral e acessível ao mesmo tempo.
Com o tempo, Opus Eponymous se tornou um marco. Foi o primeiro capítulo de uma narrativa que uniu rock de arena, ocultismo e espetáculo visual em um conceito coeso, pavimentando o caminho para álbuns como Infestissumam (2013) e Meliora (2015). Mais do que um debut promissor, foi o nascimento de uma nova mitologia dentro do metal — uma missa inaugural que reacendeu o gosto pela melodia, pelo mistério e pela encenação.
Opus Eponymous é o ponto em que o metal olhou para o passado para reinventar o futuro — e o Ghost, com sua liturgia profana e melodias encantadoras, mostrou que o inferno também pode ser pop.
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