Entre o impacto imediato de Are You Experienced (1967) e a ambição quase sem limites de Electric Ladyland (1968), Axis: Bold as Love (1967) costuma ocupar um lugar curioso na discografia de Jimi Hendrix. Para alguns, é o “disco do meio”. Porém, ele é justamente o ponto em que Hendrix começa a dominar por completo o próprio universo criativo não mais apenas como guitarrista revolucionário, mas como compositor, arranjador e arquiteto sonoro.
Axis aprofunda a psicodelia apresentada no debut, mas faz isso de forma mais controlada, quase elegante. Há menos urgência juvenil e mais consciência estética. A guitarra continua sendo o centro de tudo, claro, mas agora ela serve às canções, às melodias e às atmosferas, e não apenas ao choque imediato.
Logo na abertura, “Up from the Skies” deixa claro que este não será um disco de explosões constantes. O clima etéreo, o groove quase jazzístico e o uso criativo do wah-wah mostram um Hendrix interessado em textura, espaço e sutileza. “Spanish Castle Magic” surge com riffs incendiários, lembrando que o fogo ainda está ali, apenas melhor controlado. O grande trunfo de Axis: Bold as Love é o equilíbrio. Faixas como “Wait Until Tomorrow” e “If 6 Was 9” transitam entre o rock, o blues e a psicodelia sem parecer exercícios de estilo. Já “Castles Made of Sand” revela um Hendrix introspectivo, quase melancólico, algo que ganharia ainda mais profundidade em trabalhos posteriores.
E então há “Little Wing”. Poucas músicas em toda a história do rock dizem tanto com tão pouco. Em pouco mais de dois minutos, Jimi Hendrix redefine o papel da guitarra elétrica como instrumento expressivo, quase vocal. Não é exagero afirmar que essa música sozinha justifica a existência do álbum e explica por que ela continua sendo estudada, reinterpretada e reverenciada décadas depois.
A faixa-título, “Bold as Love”, encerra o disco de forma exemplar. Psicodélica, emocional e tecnicamente impressionante, ela sintetiza tudo o que o álbum propõe: cores, sentimentos e experimentação, sem perder a coesão. É Hendrix olhando para dentro, mas ainda com um pé fincado no cosmos.
Se Axis: Bold as Love não tem o impacto sísmico do primeiro disco nem a grandiosidade do terceiro, ele compensa com maturidade e identidade. É um álbum que cresce com o tempo, revelando camadas a cada nova audição. É uma peça essencial não apenas por sua importância histórica, mas porque representa o momento exato em que Jimi Hendrix deixou de ser apenas um fenômeno e passou a ser, definitivamente, um artista completo.
Um clássico que talvez não grite tanto quanto outros, mas que fala fundo, direto e com autoridade.
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Meu album favorito do Jimi. Até coloquei na biblioteca pois faz tempo que não ouço. Abraço, Ricardo!
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