Tom Waits, um ícone norte-americano


Por Fábio Pires
Colecionador

Gostaria de falar sobre um artista quase que inigualável da cultura norte-americana a partir da segunda metade desse século: Tom Waits. No mesmo nível de Gershwin, Cole Porter ou Duke Ellington, esse músico multi-facetado tem, ambientado no universo jazzístico que fique bem claro, um valor grandioso para a cultura underground de seu país. Adoro o termo underground (que perdeu-se em meados dos anos 90, para mim) pois ele determina a música infalível daquilo que é o oposto do gosto das grandes massas. O jazz é a música que não se encaixa nas massas, definitivamente não.

Bem, ouvi Tom Waits pela primeira vez em 1988 no álbum "Rain Dogs" (que conta com a participação de Keith Richards na guitarra). Não entendi muita coisa, pois para uma pessoa que era jovem (14 anos apenas) e que ouvia rock inglês, escutar Waits era ouvir um estilhaço de vidros se quebrando ou um panelaço de som distorcido e incompreensível. Tom Waits soava assim para mim naquela época. 

Ele já havia produzido coisas maravilhosas como "Swordfishtrombones" (com o vídeo "In the Neighbourhood", onde contracena e canta numa marcha fúnebre típica dos enterros de New Orleans) e "Frank's Wild Years" (sua peça magistral, ao estilo do diretor norte-americano Bob Wilson) e estava num profundo experimentalismo, já bem diferente do estilo vocal "Sinatra acompanhado de whiskey e cigarros" do começo de sua carreira. 

Waits estava na fase multi-instrumental que o acompanha até hoje. Artista discípulo de Louis Armstrong e Cole Porter, ele também trabalhou em filmes como "Ironweed" (ao lado de Jack Nicholson) ou em "Cotton Club"(como host do clube de jazz famoso nos EUA, filme esse que conta com uma ótima atuação de Richard Gere), entre outros. 

Sua voz rouca e inconfundível é notada em suas canções e é capaz de seduzir até a mais sisuda das mulheres. Falo de Tom Waits em minha visão particular, e penso que ele é o artista solo mais importante que ouvi na minha vida, dentro de uma abordagem musical nada convencional ou popular. Quando lembro de Waits lembro de um tio que faleceu sem deixar nenhum vestígio: era simpático, misterioso e tinha todo um visual típico da década de 1950 em plenos anos 1980. Assim é Waits: um homem do passado que nos visita com suas obras no momento presente. Um verdadeiro crooner, sem sê-lo exatamente.


Algumas informações a respeito de Tom Waits:

Thomas Alan Waits é um músico, instrumentista, compositor, cantor e ator norte-americano. Sua voz grossa e rouca é inconfundível para seus apreciadores, possuindo uma legião de fãs ao redor do mundo. Tem sido indicado a um grande número de prêmios musicais, tendo ganho o Grammy Awards por dois álbuns, "Mule Variations" e "Bone Machine".

Tom Waits nasceu em Pomona, Califórnia, a 07 de dezembro de 1949. Seu pai era descendente de irlandeses e escoceses, e sua mãe de noruegueses. Aprendeu a tocar guitarra e piano aos dez anos de idade. Lançou o seu primeiro album, "Closing Time", em 1973. É casado com Kathleen Brennan, co-letrista de parte do seu trabalho musical, e pai de três filhos.

A música de Tom Waits não está presa a um gênero musical determinado. Pode-se facilmente encontrar em seus álbuns rock, jazz, folk, blues, dentre outros tantos gêneros e estilos musicais.


Discografia:

1973 - Closing Time - ****1/2
1974 - The Heart of Saturday Night - **** 
1975 - Nighthawks at the Diner - Gravado ao vivo no estúdio em duas apresentações para uma platéia pequena - ***1/2
1976 - Small Change - ****
1977 - Foreign Affairs - ***1/2
1978 - Blue Valentine - ****
1980 - Heartattack and Vine - ***1/2 
1982 - One from the Heart - Trilha sonora para o filme de Francis Ford Coppola - ***
1983 - Swordfishtrombones - *****
1985 - Rain Dogs - *****
1987 - Franks Wild Years - Colaboração com Benoît Christie - ****
1988 - Big Time - Ao vivo - ***1/2
1992 - Night on Earth - Trilha sonora para o filme de mesmo nome, de Jim Jarmusch - ***
1992 - Bone Machine - ****1/2
1993 - The Black Rider - Colaboração com William S. Burroughs e Robert Wilson - ***1/2
1999 - Mule Variations ****
2002 - Blood Money - Música para a adaptação de Robert Wilson's para a peça Woyzeck - ****
2002 - Alice - Música para a adaptação de Robert Wilson's para peça de mesmo nome - ****
2004 - Real Gone -***1/2
2006 - Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards - Álbum triplo com uma coleção de músicas novas e antigas - *****


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