A história de "Thriller", o disco mais vendido de todos os tempos


Sérgio Scarpelli
Colecionador e Jornalista
Jazz Masters

Depois de lançar o álbum mais vendido de todos os tempos, nem Michael Jackson nem a música foram mais os mesmos.

A história de Thriller começa bem antes de 1982, ano do seu lançamento. Voltemos para 1978, com a produção do filme The Wiz, uma adaptação do musical da Broadway lançado em 1975, que recontava a história do Mágico de Oz sob a ótica negra, tanto que a peça e o filme foram totalmente dirigidos ao público afro-americano. Só participaram atores e cantores negros.No cinema a produção teve a assinatura da gravadora Motown, e foram escalados para o elenco Diana Ross e Michael Jackson, entre outros. A trilha sonora ficou por conta de Quincy Jones. E é aí que o Thriller entra na história. Durante a produção deste filme Jones se aproximou de Michael e ambos decidiram firmar uma das parcerias mais bem sucedidas da história da música.

O inesperado sucesso do álbum Destiny, dos Jacksons, e a brilhante perfomance de Michael, tanto como cantor como compositor, fez a Epic dar carta branca a MJ para produzir o seu primeiro álbum solo em idade adulta. Michael Jackson e Quincy Jones então começaram a trabalhar em Off the Wall, uma espécie de pai do Thriller.

Off the Wall causou furor entre o público e a mídia especializada. A mistura de black music e disco music do álbum tornou-se referência nos anos seguintes. Em muito pouco tempo já era o disco de black music de maior sucesso da história, superado depois apenas por Thriller. O fato é que Off the Wall já colocava Michael Jackson em outro patamar. Para se ter uma idéia, com apenas um disco ele vendeu muito mais do que em onze anos ao lado do Jackson 5.

01 de Dezembro de 1982, Thriller é lançado


Voltando à história de
Thriller, três anos depois do lançamento de Off the Wall a Epic pressionou tanto Jones quanto Jackson a fazer mais um LP. Na verdade deram três meses para que o disco fosse produzido. Quincy Jones pediu então mais noventa dias. Ou seja, o maior álbum da história teve apenas seis meses de produção. Eles foram inteligentes e levaram em conta a máxima de que "em time que está ganhando não se mexe".

Rod Temperton foi chamado para compor algumas músicas, assim como tinha feito em Off the Wall. Thriller deu sinal de vida com o single "The Girl is Mine", num dueto brilhante de Jackson com Paul McCartney. A música chegou ao primeiro lugar da Billboard. Era uma baladinha bem legal, mas ela não dava nenhuma dica do furacão que estava por vir.

Pois bem, em 1º de dezembro de 1982 Thriller finalmente chegava às lojas já com cara de antológico, com "Billie Jean" tocando sem parar nas rádios. Lembro até hoje quando eu fui comprar o disco. Um amigo meu trabalhava em uma loja chamada Hi-Fi e me ligou dizendo que o novo disco de Michael Jackson havia chegado. Lembro que eu voltei umas onze vezes na faixa "Billie Jean", pois eu não acreditava no que estava ouvindo.


Ouvi "Beat It" também, e me causou estranheza aquela guitarra pesadona. Mas por mais que eu visitasse outras faixas, "Billie Jean" era algo que eu nunca tinha escutado antes. Mas esta impressão não foi só minha. Apenas dois meses depois, Thriller alcançava o primeiro lugar entre os discos mais vendidos, e permaneceria por lá durante 37 semanas.

Michael Jackson tornou-se o primeiro cantor na história a tomar posse, simultaneamente, da primeira posição em todas as paradas de black e pop music nos Estados Unidos. Além de um sucesso de vendas, Thriller foi também um marco na luta contra a discriminação racial na indústria da música. Em março de 1983 o videoclipe de "Billie Jean" estreou na MTV, fazendo de Michael o primeiro negro cuja música ganhou espaço na emissora.


E por falar em clipes, Michael Jackson revolucionou a linguagem ao substituir a técnica da colagem de imagens por enredos nos vídeos de "Billie Jean" e "Beat It". O astro acabou criando um novo conceito de produção. Com o curta-metragem gravado para "Thriller", Michael e o diretor John Landis estabeleceram ainda novos horizontes para a concepção dos clipes, que passaram a ser vistos como pequenos filmes.

A festa dos 25 anos da Motown


Na noite de 16 de maio de 1983 três mil celebridades norte-americanas lotaram um teatro em Los Angeles para assistir a uma apresentação comemorativa aos 25 anos da gravadora Motown. De suas casas, mais de cinquenta milhões de norte-americanos acompanharam pela TV a apresentação dos vários artistas da Motown, até que Michael Jackson começou a cantar "Billie Jean", o hit do ano até então.

De repente Michael parou de cantar, andou até o canto esquerdo do palco e voltou ... deslizando de costas! Foi impressionante! Eram três mil queixos caídos! Naquela noite, mais do que mostrar pela primeira vez o passo que batizou como "moonwalk" ("andando na lua"), Michael Jackson foi dormir consagrado como nada menos que o Rei do Pop.

"Foi aquele momento que cristalizou o status de celebridade de Michael Jackson", falou a revista norte-americana Rolling Stone. Moonwalk, no mundo do entretenimento, só é comparável ao andar de vagabundo de Chaplin, à sequência de Gene Kelly em Dançando na Chuva ou aos passos de Fred Astaire. E não é que depois daquela apresentação, tanto Astaire quanto Kelly foram atrás de Jackson para parabenizá-lo? Eu acho que este momento mágico, aliado à qualidade do disco e ao videoclipe de "Thriller" foram os grandes responsáveis pelos números astronômicos deste disco.

Thriller em números


- 104 milhões de cópias vendidas
- 132 semanas em primeiro lugar
- sete compactos lançados, três deles alcançando o primeiro lugar
- sete compactos no top#10 da
Billboard
- 97 prêmios
- 8
Grammys no mesmo ano
- 37 semanas como o disco mais vendido (recorde até hoje)
- 82 semanas entre os mais vendidos
- Disco internacional mais vendido da história no Brasil
- 14 milhões de VHS vendidos do clip de
Thriller


Comentários faixa a faixa:

1 - Wanna Be Startin' Somethin' (Michael Jackson)

É a música mais Off the Wall do disco, uma espécie de evolução do que Michael já tinha feito em "Working Day and Night". É um funk/disco de primeira linha, com um baixo antológico de Louis Johnson (um dos Brothers Johnson).

2 - Baby Be Mine (Rod Temperton)

Talvez seja o melhor lado B que eu já tenha ouvido. Uma das duas músicas que não foram lançadas em single. É um Michael Jackson soberbo aqui. Outra com gostinho de
Off the Wall, com um comecinho bem na linha de "Rock With You".

3 - The Girl is Mine (Michael Jackson)

Baladinha deliciosa que foi o primeiro single de
Thriller. Saiu antes do próprio álbum. Era inaugurada aqui a parceria entre Michael Jackson e Paul McCartney. Eles ainda gravariam "Say Say Say" e "The Man", que fez parte do álbum Pipes of Peace, de McCartney. Depois que Jackson comprou o catálogo de músicas dos Beatles os dois romperam a amizade.

4 - Thriller (Michael Jackson e Rod Temperton)

Um musicão, daqueles balanços que enchem qualquer pista. O baixo aqui é fantástico. E o "rap" de Vincent Price, grande astro do cinema de terror B, deu um charme todo especial à faixa. Tenho os originais da gravação de Price. A música realmente causou furor depois do lançamento de seu vídeo, e tornou-se um ícone da própria carreira de Michael Jackson.

5 - Beat It (Michael Jackson)

Pra mim é a segunda melhor música do disco, mas não apenas isso. É uma das melhores composições de Michael Jackson. Aqui tudo beira a perfeição. Os vocais de Michael são irrepreensíveis, e a guitarra de Eddie Van Halen é simplesmente antológica. Por causa de sua letra "Beat It" se transformou em um hino anti-gangues, chegando ao primeiro lugar da Billboard. Seu vídeo também foi uma revolução, e foi premiado pela MTV. "Beat It" foi a primeira faixa tocada em uma rádio de rock norte-americana vinda de um negro, um feito até então inédito.

6 - Billie Jean (Michael Jackson)

Essa é "A" música! Não se limita apenas a ser a melhor de Michael Jackson, está entre as cem músicas do século e foi eleita o maior hit de todos os tempos. "Billie Jean" é perfeita, e simples. Tem toda sua base na bateria de Leon Ndugu Chancler e no baixo de Louis Johnson. E um detalhe é incrível: o vocal de Jackson foi feito em um único take. É a música número um da minha vida!

7 - Human Nature (Porcaro/Betis)

Essa faixa foi feita originalmente para o grupo Toto, mas Michael Jackson a ouviu e quis por que quis incluí-la em
Thriller. O desejo do Rei do Pop foi atendido. O mais incrível é que o Toto acompanha Jackson nesta gravação. Uma música deliciosa.

8 - P.Y.T. (Pretty Young Thing) (James Ingram/ Quincy Jones)

A única composição de Quincy Jones que está em Thriller. Ele a fez em parceria com seu pupilo James Ingram, que figura como coadjuvante. A faixa segue bem a linha das produções de Jones naquela época. Poderia muito bem fazer parte do seu álbum The Dude ou em algum álbum do Brothers Johnson.

9 - The Lady in My Life (Rod Temperton)

Esta foi a outra música de
Thriller que não se tornou single. Michael Jackson sempre foi um ótimo cantor de baladas black. Fazia isso muito bem quando era criança. Belíssima canção. É a que tem menos apelo comercial no disco inteiro. Para ouvir a meia luz.

25 anos depois


Thriller é mais que um álbum, é mais que uma moda, é mais do que a marca de um grande popstar. Thriller é um acontecimento. E sem dúvida é o eterno maior álbum de todos os tempos. Não existe a menor chance de alguém chegar a cifra de 104 milhões de discos vendidos. Daqui a cinquenta anos, quando alguém folhear as páginas do Guinness Book na parte de música, Thriller ainda estará lá como o maior recordista.

E não poderia ser diferente. Tudo começou com um filme chamado
The Wiz, e esta história que completou 25 anos em 1º de dezembro de 2008 é pura magia mesmo!

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