Castiga!: o belo e único disco solo de Paul Kossoff


Por Marco Antonio Gonçalves
Colecionador

Back Street Crawler é o primeiro e único trabalho solo de Paul Kossoff, um dos meus guitar heroes de predileção. Lançado em 1973, o álbum é na verdade uma compilação de jam sessions gravadas em estúdio com a participação de todos os parceiros do Free – o trio Paul Rodgers (vocal), Andy Fraser (baixo) e Simon Kirke (bateria), e ainda Tetsu Yamauchi (baixo) e Rabbit (órgão e piano) -, além de outros músicos camaradas. Sem titubear, coloco este maravilhoso registro no mesmo patamar de outras obras clássicas da banda inglesa, como Tons of Sobs (1968), Free (1969), Fire and Water (1970) ou Highway (1970).

Na época do lançamento deste play, Kossoff se encontrava em estágio avançado de auto-aniquilação, consumindo heroína de forma alucinada e sem condições físicas ou mentais de gravar um disco inteiro. Em fase barra-pesada total, este debut discográfico chegava em boa hora, já que sem dúvida alguma é um dos pontos altos de sua carreira. Em apenas cinco faixas o guitarrista traduz o seu talento em performances arrebatadoras e exibe algumas de suas características marcantes: solos agressivos, vibratos mágicos, a incrível classe na economia das notas e um feeling descomunal.


O lado A do vinil é inteiramente ocupado pela monstruosa “Tuesday Morning” com seus 17 minutos de improvisações, quebradeiras e passagens distintas, num instrumental peso-pesado onde a guitarra de Kossoff impõe um som escabroso e rude. Uma pérola do rock setentista, com direito a uma cozinha de respeito conduzida pelo baterista Alan White (Yes) e pelo baixista Trevor Burton (The Move). Rabbit aparece com estilo nos teclados, aumentando o rol de intervenções debulhantes. Great sound!

A ultra suingada “I’m Ready” abre o lado B numa levada rítmica cheia de malandragem, com Jess Roden rasgando nos vocais. “Time Away” expõe um instrumental de arrepiar, com solos de guitarra chapantes, timbres singulares e um feeling impressionante. Para acompanhar o inspirado Kossoff um trio formado por Tetsu, Simon Kirke e o guitarrista John Martyn. Um blues rock de primeira!

Um dos destaques do LP é a bela “Molten Gold”, onde os integrantes do Free se reúnem para executar uma balada intensa e emocionante. O vocal impregnado de soul de Paul Rodgers e as investidas de guitarra de Mr Koss são de arregaçar a alma. “Back Street Crawler” encerra o álbum, com o quarteto Kossoff, Conrad Isidore (bateria), Clive Chaman (baixo) e Jean Roussel (teclados) mandando ver em mais um instrumental excepcional. Baita disco!


Para os bolhas que viviam dizendo que o único defeito do álbum era a sua curta duração, com poucas faixas e tal, a boa notícia chegou em 2008: Back Street Crawler foi relançado pela série Deluxe Edition da Universal britânica. A edição dupla contém não só o álbum original remasterizado digitalmente como 15 versões inéditas, takes alternativos, covers para “The Lady is a Tramp” e “May You Never”, além de fotos raras e um encarte especial. Taí um bom motivo para falir, sem dó nem piedade!

Alguns meses após a sua estréia solo, Kossoff utilizaria o nome do disco para batizar a sua nova banda, o Backstreet Crawler. O combo gerou dois discos –
Play On (1975) e Second Street (1976) -, mas sem a mesma repercussão dos tempos do Free.

Infelizmente, o talento de Kossoff para a guitarra era proporcional ao seu vício em heroína. O genial guitarrista morreu em 19 de março de 1976, com apenas 25 anos, depois de sofrer um ataque cardíaco durante um vôo entre Los Angeles e Nova York. Era o fim da linha desta lenda chamada Paul Kossoff.

Comentários

  1. Pérola Perdida... a faixa 1 é de arrancar lagrimas de tanto felling... imagino oque este cara faria sem drogas e com uns 30 anos de idade...realmente uma pena....

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