Por Jamari França
Jornalista
O Globo
Cotação: ****
Em Wilco (The Album), o grupo norte-americano Wilco desfila, em 42 minutos e 54 segundos, onze canções de uma fase mais serena, com faixas lentas e em midtempo. Jeff Tweedy diz que está mais equilibrado depois de se livrar do vício em analgésicos há cinco anos, porque já não sofre mais os efeitos secundários terríveis, que incluíam vômitos durante os shows num balde colocado atrás do palco.
"Eu nunca estava numa boa quando estava na pior. Tudo na minha vida está melhor, sou uma pessoa feliz e tenho uma base sólida que me permite avaliar o passado. Eu contesto aquela imagem de o artista ter que ser angustiado, o mito do sofredor, mas muita gente não aceita isso" disse ele ao New York Times.
As bases do CD foram gravadas na Nova Zelândia. Numa entrevista à revista American Songwriter, Tweedy disse que o grupo foi até lá gravar um disco beneficente com Neil Finn - do grupo Crowded House -, com o Radiohead e com Johnny Marr. Eles curtiram a vibe e gravaram algumas bases. Gostaram do resultado e estenderam a estadia para gravar todas as bases antes de voltar para os finalmente, em Chicago.
O álbum tem o sabor das primeiras gravações da banda, agora com toda a experiência de mais de dez anos de estrada acumulada. Mesmo tendo apenas Jeff e o baixista John Stirratt como membros originais, o Wilco conseguiu manter sua personalidade musical intacta e evoluir com a formação atual, em vigor desde 2004. Além dos citados formam o line-up Glenn Kotche (bateria), Pat Sansone (guitarra, teclados e percussão) e Mikael Jorgensen (piano e teclados), além do excepcional guitarrista Nels Cline. A sonoridade evoca o lado mais calmo de Neil Young, Tom Petty and the Heartbreakers e George Harrison na música, e primeiro single "You Never Know", com vocais e uma guitarra slide que poderiam muito bem ser uma gravação do ex-Beatle.
Além de colocar o nome da banda como título, numa espécie de auto afirmação, o disco abre com "Wilco (The Song)", uma louvação aos (pseudo) poderes de auto ajuda da banda: "Você está deprimido? / Alguém está enfiando uma faca nas suas costas? / Você está passando por tempos difíceis? / Wilco vai te amar baby". Diante da esperada surpresa de muita gente, Tweedy diz que é uma gozação e que ele achou engraçado fazer uma canção assim. A cantora canadense Feist aparece em "You and I", faixa sobre briguinhas de um casal que escapa por pouco de ser uma baladinha pop.
Felizmente há canções mais interessantes, como "Bull Black Nova", com sangue para todo lado, que Jeff disse ser sobre pessoas que fazem coisas erradas e não podem fugir da responsabilidade. Guitarras martelam as notas na levada e tudo explode em ruídos no final.
A balada “Country Disappeared” ecoa os temas do DVD recém lançado pelo grupo (Ashes of American Flags), ao falar de cidades esmagadas como se fossem insetos e de tiros disparados para alimentar a fome de notícias dos noticiários da TV. Apesar do tema, a canção tem uma bela melodia, como boa parte das demais aqui, boas de assobiar, mesmo que tenham uma mensagem pesada. Mais leves são a já citada "You and I", boa para shows graças a um refrão fácil e repetitivo, e "Solitaire", balada envolvente com instrumentação simples e uma boa guitarra slide, que conta a história de alguém que acreditava na solidão como a melhor escolha: "Levei muito tempo para perceber que estava errado em acreditar apenas em mim mesmo", conclui Jeff.
Parêntese: a canção mais bonita que conheço sobre a solidão é “I Am a Rock,” de Simon and Garfunkel. Conhecem? Fecha parêntese.
Wilco é uma daquelas bandas em que não se passa imune pela audição de seus álbuns. Sempre nos acrescenta algo. Poucas conseguem isso hoje em dia. Ponto para Jeff Tweedy e seus camaradas.
Parêntese: a canção mais bonita que conheço sobre a solidão é “I Am a Rock,” de Simon and Garfunkel. Conhecem? Fecha parêntese.
Wilco é uma daquelas bandas em que não se passa imune pela audição de seus álbuns. Sempre nos acrescenta algo. Poucas conseguem isso hoje em dia. Ponto para Jeff Tweedy e seus camaradas.
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