
Por Pablo Tavares
Jornalista
Os Armênios
Uma das coisas pela qual eu sou sempre criticado nos meus textos é o fato de eu não "perdoar ninguém". Sei que muita gente não gosta que eu fale mal de certas bandas ou artistas, mas azar. Sou honesto e impiedoso.
Em uma das passagens mais interessantes do filme Quase Famosos, o personagem de Lester Bangs, vivido pelo ator Philip Seymour Hoffman, dá um conselho ao aspirante à jornalista William Miller, papel do estreante Patrick Fugit: "No nosso meio (jornalismo musical) precisa-se construir uma reputação de honesto e impiedoso". Foi essa frase que regeu toda a vida de Bangs.
Embora Lester Bangs já tenha morrido há mais de 20 anos, somente recentemente um pequeno resquício de sua obra foi lançado no Brasil. Reações Psicóticas (Conrad, 2005) é uma complicação de artigos que Bangs escreveu para revistas como Creem, Rolling Stone e Village Voice, entre outras, nos anos 60 e 70.
Quando o rock "era mais popular que Jesus Cristo", Bangs era único. Ele praticamente criou os termos punk e heavy metal, falou mal do Jethro Tull numa época em que Ian Anderson e asseclas dominavam os EUA de leste a oeste. Bangs endeusava o grupo sueco ABBA, mas dispensava Jim Morrison e seu Doors.
Lester Bangs fazia uma linha totalmente voltada para o jornalismo gonzo, ou seja, o New Journalism de Tom Wolfe que fora violentado por Hunter Thompson, com todas as regras da vertente jornalística: textos em primeira pessoa, fatos que ficam na beira da ficção com a realidade. Afinal, Bangs, certa vez, entorpeceu-se de anfetaminas e álcool para entrevistar Lou Reed, sendo que só achincalhou com a cara do cantor do Velvet Underground. Outra vez, pegou um álbum do já citado Jethro Tull, voou para o Vietnã para falar com o presidente do país e pergunta-lo o que ele achava daquela banda tocando som vietnamita, ao que só ouviu: "Cara, eu gosto é de jazz".

Em outra cena de Quase Famosos Bangs dá outro conselho à William Miller: "Cara, o rock acabou. Você só vai presenciar alguns resquícios (…), por isso vá ser advogado ou algo assim". Bangs encontrou o rock, mas não o rock que o resto das pessoas encontrou. Viu nos canadenses do Guess Who uma afronta ao establishment, e nos Stooges (principalmente em Iggy Pop) o início do punk. Certa vez, perguntado sobre para onde o rock estava indo, respondeu: "Ele está sendo tomado pelos alemães e pelas máquinas", fazendo alusão ao grupo alemão Kraftwerk, banda que definiu todo o som e a estética da década de 80.
Honesto e impiedoso, Lester Bangs fez tudo o que quis, escreveu o que lhe deu na telha e é como Greil Marcus escreveu na introdução da edição norte-americana: "Talvez o que este livro exija do leitor seja disposição em acreditar que o maior escritor norte-americano tenha escrito apenas análises de discos".
Se o rock acabou em 1973 eu não sei. Agora, por que eu, que só estou pegando o resquício dos resquícios (e não venham me dizer que essa coisa que o Franz Ferdinand e as bandas do gênero fazem é rock) deveria ser desonesto? Enquanto o lixo predominar, eu não vou me calar.
Em uma das passagens mais interessantes do filme Quase Famosos, o personagem de Lester Bangs, vivido pelo ator Philip Seymour Hoffman, dá um conselho ao aspirante à jornalista William Miller, papel do estreante Patrick Fugit: "No nosso meio (jornalismo musical) precisa-se construir uma reputação de honesto e impiedoso". Foi essa frase que regeu toda a vida de Bangs.
Embora Lester Bangs já tenha morrido há mais de 20 anos, somente recentemente um pequeno resquício de sua obra foi lançado no Brasil. Reações Psicóticas (Conrad, 2005) é uma complicação de artigos que Bangs escreveu para revistas como Creem, Rolling Stone e Village Voice, entre outras, nos anos 60 e 70.
Quando o rock "era mais popular que Jesus Cristo", Bangs era único. Ele praticamente criou os termos punk e heavy metal, falou mal do Jethro Tull numa época em que Ian Anderson e asseclas dominavam os EUA de leste a oeste. Bangs endeusava o grupo sueco ABBA, mas dispensava Jim Morrison e seu Doors.
Lester Bangs fazia uma linha totalmente voltada para o jornalismo gonzo, ou seja, o New Journalism de Tom Wolfe que fora violentado por Hunter Thompson, com todas as regras da vertente jornalística: textos em primeira pessoa, fatos que ficam na beira da ficção com a realidade. Afinal, Bangs, certa vez, entorpeceu-se de anfetaminas e álcool para entrevistar Lou Reed, sendo que só achincalhou com a cara do cantor do Velvet Underground. Outra vez, pegou um álbum do já citado Jethro Tull, voou para o Vietnã para falar com o presidente do país e pergunta-lo o que ele achava daquela banda tocando som vietnamita, ao que só ouviu: "Cara, eu gosto é de jazz".

Em outra cena de Quase Famosos Bangs dá outro conselho à William Miller: "Cara, o rock acabou. Você só vai presenciar alguns resquícios (…), por isso vá ser advogado ou algo assim". Bangs encontrou o rock, mas não o rock que o resto das pessoas encontrou. Viu nos canadenses do Guess Who uma afronta ao establishment, e nos Stooges (principalmente em Iggy Pop) o início do punk. Certa vez, perguntado sobre para onde o rock estava indo, respondeu: "Ele está sendo tomado pelos alemães e pelas máquinas", fazendo alusão ao grupo alemão Kraftwerk, banda que definiu todo o som e a estética da década de 80.
Honesto e impiedoso, Lester Bangs fez tudo o que quis, escreveu o que lhe deu na telha e é como Greil Marcus escreveu na introdução da edição norte-americana: "Talvez o que este livro exija do leitor seja disposição em acreditar que o maior escritor norte-americano tenha escrito apenas análises de discos".
Se o rock acabou em 1973 eu não sei. Agora, por que eu, que só estou pegando o resquício dos resquícios (e não venham me dizer que essa coisa que o Franz Ferdinand e as bandas do gênero fazem é rock) deveria ser desonesto? Enquanto o lixo predominar, eu não vou me calar.
Good night and good luck!
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