Por Marcelo Vieira
Jornalista e Colecionador
Collector´s Room
Cotação: ****
Dois anos após o lançamento do ótimo Scorpion Tales – tributo ao Scorpions que conta com a participação de 12 renomados vocalistas do hard/heavy mundial –, George Lynch retoma sua carreira solo com Orchestral Mayhem. Como o próprio nome já diz, o disco é 100% instrumental e foi inteiramente gravado com uma orquestra – não me perguntem qual –, colocando o ex-guitarrista do Dokken no mesmo patamar de outros ases do instrumento, como o sueco voador Yngwie Malmsteen.
Logo de cara, contrariando as expectativas por um tracklist limitado a compositores clássicos, temos uma releitura para "Bittersweet Symphony", dos Rolling Stones – que muita gente até hoje acha que é do The Verve devido ao sucesso que a versão fez à época de seu lançamento, em 1996. Na sequência, Lynch estupra "Fur Elise", de Beethoven – coisa que o supracitado Malmsteen já fazia nos anos oitenta –, preservando somente seu tema principal, que com certeza alguém já ouviu ao telefone à espera de uma transferência de ramal ou ao tocar a campainha da casa da tia avó.
A famigerada "Carmina Burana" (Carl Orff) recebeu um tratamento especial e é o primeiro destaque. O nível se mantém nas alturas com o primeiro movimento de "Eine Kleine Nachtmusik" (Mozart), que é presença garantida no repertório de qualquer orquestra que se preze. Da ópera Carmen, de Bizet, temos "Habarena", e a coisa só melhora com "Venetian Boat Song", de Mendelssohn, onde Lynch despeja um feeling absurdo mesmo nos momentos mais "bululus", no melhor estilo Malmsteen – sim, caro leitor que está com preguiça de ler a resenha inteira, este disco aqui é Malmsteen puro, desde os timbres até a capa, onde o nome de Lynch aparece grafado em letras medievais, tal como o balofo fazia nos tempos de magreza e Jeff Scott Soto.
Um dos meus prediletos – sim, eu ouço música erudita –, Rachmaninoff tem seu "Prelúdio em Sol Menor" executado com brilhantismo e doses generosas de improviso. A abertura de "William Tell" (Rossini), que este que vos fala usou durante tempos como ringtone no celular, aparece logo em seguida no mesmo esquema. Impressionante como a qualidade do trabalho vai crescendo após as duas primeiras músicas. Conselho que eu dou é que ambas sejam puladas. Comecem a audição por "Carmina Burana" e sigam em frente com o volume no talo!
Se fosse ser tocada ao vivo, "Valsa das Flores" seria o momento jam da noite. Lynch transformou a obra-prima de Tchaikovsky num backtrack ideal para improvisações. E confirmando a preferência dos virtuosos por Mozart, o compositor austríaco é relembrado novamente no quarto movimento de sua "Eine Kleine Natchmusik". "Clair de Lune" – ou "Moonlight", como quiserem –, de Debussy prepara o terreno para o grand finale, que traz versões absurdas para "Wizards in Winter" (Trans-Siberian Orchestra) e "Christmas Eve / Sarajevo 12/24" (Savatage), e tem tudo para deixar os adeptos de Jon Oliva com as calças ensopadas.
Maluquices e esteróides a parte, George Lynch é um músico que se renova a cada trabalho – seja solo, comandando seu Lynch Mob ou mesmo atacando de free-lancer em projetos diversos –, e aqui não é diferente. Orchestral Mayhem, ao passo que é audacioso, consiste em um de seus álbuns mais consistentes, mostrando ao mundo que ele pode sim figurar entre o alto escalão dos virtuosos do rock.
Faixas:
1. Bittersweet Symphony
2. Für Elise
3. Carmina Burana
4. Eine Kleine Nachtmusik, 1st Movement
5. Habanera
6. Venetian Boat Song
7. Prelude In G Minor
8. William Tell Overture
9. The Waltz Of The Flowers
10. Eine Kleine Nachtmusik, 4th Movement
11. Clair De Lune
12. Wizards In Winter
13. Christmas Eve / Sarajevo 12/24
Um dos melhores guitarristas surgidos nos anos 80. O trabalho dele no Dokken e no Lynch Mob é de cair o queixo!
ResponderExcluirO texto é meu, Cadão! hahaha
ResponderExcluirPronto, corrigido. João Renato e Marcelo, desculpe a falha. E fiquei muito curioso pra ouvir esse disco!
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