Por Ricardo Seelig
Cotação: ***
Duffy surgiu em 2008 como uma surpresa. Seu primeiro disco, Rockferry, lançado em março daquele ano, vendeu mais de 6 milhões de cópias e conquistou o mundo com um pop soul cheio de balanço e um bem-vindo tempero vintage em sua sonoridade.
O álbum rendeu cinco singles - “Rockferry”, “Mercy”, “Warwick Avenue”, “Stepping Stone” e “Rain on Your Parade” -, ficou entre os cinco mais vendidos do mundo em 2008 e teve uma de suas faixas, “Mercy”, tocada à exaustão em todos os cantos do planeta. Além disso, deu também um Grammy para a bela cantora.
Passados pouco mais de dois anos, em 29 de novembro último chegou às lojas o novo álbum de Duffy, Endlessly. De cara, o que chama a atenção é a sonoridade totalmente diferente. No lugar do elegante soul com cara dos anos 1960, as dez faixas de Endlessly bebem sem medo no pop dos anos 1980.
Após o breve desapontamento inicial e a estranheza natural por ouvir algo inesperado, somos levados por faixas que se alternam entre momentos inspirados e outros nem tanto. A abertura, com a agradável e ensolarada “My Boy”, começa os trabalhos com o pé direito. A bela balada “Too Hurt to Dance”, com orquestrações muito bem encaixadas, nos leva de volta aos anos cinquenta e conta com uma excelente interpretação de Duffy. “Keeping My Baby” é uma espécie de “Papa Don´t Preach” do novo milênio, com Duffy se arriscando sem medo pela familiar sonoridade de Madonna.
Mas o caldo entorna violentamente em “Well, Well, Well”, primeiro single de Endlessly, e que conta com a participação do The Roots na parte instrumental. Com um refrão grudento ao extremo, que fica ainda mais evidente devido ao peculiar timbre de voz de Duffy - agudíssimo, e em que alguns momentos soa como uma criança cantando -, “Well, Well, Well” é séria candidata à música mais irritante do ano. Para piorar, deve tocar incessantemente nas rádios. Confira no clipe abaixo e tire as suas próprias conclusões.
O trem volta aos trilhos na bonita “Don´t Forsake Me”, baladaça onde a cantora não se arrisca, transitando com absoluta segurança pelo caminho que a consagrou em seu primeiro disco – o neo soul com pitadas vintage. Destaque, mais uma vez, para as excelentes orquestrações.
Mas, quando somos levados a pensar que já ouvimos tudo, surge com a faixa-título do trabalho. “Endlessly” traz Duffy manhosa em uma composição com arranjo minimalista, com instrumentos muito bem encaixados, resultando, provavelmente, na melhor faixa do disco.
Já “Breath Away” é mais do mesmo, uma composição feita sob medida para emplacar nas paradas e com um refrão repetitivo e chatinho. Se der sorte, aqui no Brasil pega no máximo uma trilha de novela global, e olha lá.
As três últimas faixas - “Lovestruck”, “Girl”, e “Hard for the Heart” - passam a sensação de existirem apenas para preencher espaço, já que não agregam nada ao álbum, pelo contrário, puxam a sua qualidade para baixo.
Infelizmente, não há comparação entre o excelente Rockferry e o apenas mediano Endlessly. Ainda que o tenha bons momentos – e eles são evidentes em faixas como “My Boy”, “Too Hurt to Dance”, “Keeping My Baby” e “Don´t Forsake Me”, isso sem falar na ótima faixa título -, Endlessly deixa uma sensação de decepção no ar. Seja pela expectativa causada pelo primeiro disco, seja pela mudança de sonoridade apresentada, em seu segundo disco Duffy não apresenta o brilho que a destacou em sua estreia, e ainda que esteja longe de cair no lugar comum que infesta o pop, fica evidente que o sinal amarelo acendeu.
Fica para a próxima.
Faixas:
1 My Boy
2 Too Hurt to Dance
3 Keeping My Baby
4 Well, Well, Well
5 Don't Forsake Me
6 Endlessly
7 Breath Away
8 Lovestruck
9 Girl
10 Hard for the Heart
Não conheço o disco, nem gosto do estilo, mas quero ressaltar uma coisa: um disco com 10 faixas onde se consegue destacar cinco é muito raro nos dias de hoje, onde a maioria dos discos tem duas ou três músicas que se sobressaem e o resto é lugar-comum...
ResponderExcluirBah, a foto da capa parece a Angelina Jolie!
ResponderExcluirRealmente, a vozinha dela é muito irritante, mas me servia para ficar lavando os pratos.
ResponderExcluirMairon, ouça o primeiro disco, Rockferry, que é muito bom, bem diferente desse. Vale a pena, parece uma Amy Winehouse limpa e muito mais bonita.
ResponderExcluirvlw
ResponderExcluira amy tem uma voz q eh dificil achar hj em dia. Se se cuidasse um pouco e tivesse dignidade, tava lavando os pratos la em casa ha algum tempo soh pra ficar cantando na cozinha
Pô Cadão, li sua resenha e me decpcionei. Baixei o disco e... Que pena uma boa cantora, com um potencial enorme, se perdeu em escolhas erradas e fez um disco que não mereçe mais do que isso: Uma baixada algumas ouvidas e depois ser jogado fora do HD sem dó.
ResponderExcluirTiago, realmente ele é bem inferior ao Rockferry, mas tem várias faixas interessantes, como as que eu apontei no texto.
ResponderExcluirAbraço.
Tiago, realmente ele é bem inferior ao Rockferry, mas tem várias faixas interessantes, como as que eu apontei no texto.
ResponderExcluirAbraço.
Não conhecia essa mina. Fui atrás do primeiro disco e gostei mais. Boa indicação. Agreguei mais essa.
ResponderExcluirFrancisco, o primeiro disco é mais legal, com uma sonoridade vintage que cai muito bem.
ResponderExcluirAbraço.
Ricardo, acho que fui vítima da "Well, Well, Well". Esse refrão é grudento mesmo. Faz dois dias que estou cantarolando esse troço!
ResponderExcluirNão que isso seja ruim. Essa música é mais pegajosa que "Crazy" do Gnarls Barkley. Aquele "Make me craaaaazyyy... Make me craaaaaazyyyyy" ficou na minha cabeça por meses.
Essa "Well..." está no mesmo caminho. Me deixando louco.
Bando de sem noção o cd é super legal tem mtas músicas lindas principalmente hard for the heart e breath away
ResponderExcluirInteressante, no momento em que está em alta um estilo soul mais tradicional, com raízes, mais analógico, como o de Adele e ainda em rescaldos dos trabalho da Amy e da própria Duffy, ela aparece com esse som pasteurizado e popinho mediocre. Isso é ruim como Britney Spiers. Isso tem cara de mão de chefão de gravadora e produtor. Um fiasco artistico e certamente um sucesso comercial. Li uma manchete na corrida (acho que foi no The Guardian), de como estragar uma carreira, ou algo como a síndrome do 2º disco. Esperemos pelo próximo, porque talento ela tem.
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