Quando
a parceria entre o Metallica e Lou Reed foi anunciada, a primeira
reação que tive foi: “que merda”. A razão para isso foi que,
para mim, seria inconciliável que duas sonoridades tão distintas
conseguissem conviver harmonicamente, construindo algo de qualidade.
Mas, ao ouvir o primeiro single do projeto, confesso que mudei de
opinião.
Lulu,
o disco que Reed e o Metallica gravaram juntos e que chegará às
lojas no próximo dia 31 de outubro, estará sujeito a avaliação de
dois grupos bastante extremistas. De um lado os fãs de Lou Reed, um
dos maiores músicos da história do rock, fundador e líder de uma
das bandas mais influentes do gênero – o Velvet Underground – e
dono de uma carreira solo pra lá de consistente, ainda que pródiga
a flertes esporádicos com sonoridades experimentais que, de um modo
geral, deram com os burros n'água. O ápice disso é o inaudível
Metal Machine Music, de 1975, que, quando muito, serve apenas
para enfeitar a mesa de sua sala de estar.
No
outro extremo temos os apreciadores do Metallica, ao lado do Black
Sabbath e do Iron Maiden a banda mais influente da história do heavy
metal e, em termos comerciais e número de vendas, indiscutivelmente
o maior expoente do gênero em todos os tempos. Como todo fã de
metal, os do Metallica também apresentam, de modo geral, uma visão
conservadora e saudosista, que vai na contramão do que a banda
aspira. Enquanto os fãs cultuam – de forma totalmente justa, que
isso fique claro – os álbuns iniciais da carreira do grupo, o
quarteto sempre se mostrou inquieto, levando o seu som para os mais
diversos caminhos, expandindo as fronteiras do heavy metal em álbuns
que nunca foram muito bem aceitos pelos fãs – vide a dupla Load
e Reload.
No
meio disso tudo, abstraídas as opiniões apaixonadas, resta a
música, pura e simplesmente. E ela, ao contrário do que poderia se
supor, não é ruim. “The View”, o primeiro single de Lulu,
surpreende positivamente. Com riffs pesados e arrastados que remetem
diretamente aos já citados e controversos Load e Reload, a
faixa conta com os característicos vocais falados de Lou Reed, uma
de suas marcas registradas. A interpretação de Reed é primorosa,
narrando a letra como um conto, sendo interrompido de tempos em
tempos por um raivoso James Hetfield cuspindo frases como “I am
the root, I am the progress, I am the agressor”, em uma
analogia explícita às gigantescas diferenças que existem entre o
universo sonoro de Reed e do Metallica.
É
como se, ao se unirem, tanto Reed como o Metallica saíssem ganhando.
Lou recebe o acompanhamento poderoso de uma das maiores bandas da
história da música, enquanto, para o Metallica, o benefício está
não só na concretização das suas aspirações artísticas, mas,
principalmente, no tão sonhado reconhecimento por executar um som
mais sério e profundo – ainda que os fãs estejam pouco se
importando com isso.
“The
View” é uma boa música. Não é uma obra-prima, mas está longe
de ser ruim. E, ao contrário do que todo mundo pensava, lança uma
luz de esperança sobre um trabalho que, de modo geral, todos
enxergavam com desconfiança. Confesso que, depois de escutá-la,
minha curiosidade pelo disco completo cresceu assustadoramente.
Que
o dia 31 de outubro, data em que se comemora o Halloween, chegue
rápido e com boas notícias, e não com o pesadelo que, em um
primeiro momento, parecia trazer.
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