Tradução
de Ricardo Seelig
Heritage,
lançado pelo Opeth em 2011, é um dos melhores discos do ano. A
sonoridade explorada pela banda no álbum, repleta de referências
setentistas, causou estranheza nos fãs em um primeiro momento, mas
quem se aventurou por suas faixas descobtiu um trabalho belíssimo,
que colocou o Opeth em outro patamar.
A
revista inglesa Classic Rock bateu um papo com o vocalista e
guitarrista Mikael Akerfeldt, líder do grupo, e com o guitarrista
Fredrik Akesson, sobre quais discos influenciaram a banda durante o
processo de composição de Heritage. Confira as revelações
da dupla, e descubra novos e ótimos sons para a sua vida
Cressida
– Cressida (1970)
Mikael
- Quem me mostrou este disco foi Russ Smith, jornalista da
Terrorizer. Ele me deu uma fita k7 – sim, um k7, há bastante tempo
atrás, lá por 1993 – com Forest de um lado e Cressida em outro.
Nós nos correspondíamos e recomendávamos bandas um ao outro. Ele
era muito fã de doom metal, então eu não esperava que ele me
indicasse algo assim. E eu adorei! A gravação foi feita de um vinil
e o som era suingado, com uns toques de jazz, um prog com muito –
muito mesmo – órgão. Eu nunca tinha ouvido algo parecido, e
fiquei obcecado por aquilo. Encontrei o segundo álbum em CD em uma
loja de Estocolmo, com uma ótima capa de Keith 'Keef' MacMillan.
Passei um tempão procurando este disco em vinil, me correpondendo
com diversas pessoas, ainda sem internet. Eu vinha da cena do metal
extremo, então não tinha amigos que pudessem me ajudar nesta
busca.
Gracious
– Gracious! (1970)
Mikael
- Depois que conheci o Cressida fui atrás de outras coisas da
Vertigo. Este é o debut do Gracious. A capa não chamava muita
atenção, mas ao abrir o gatefold dei de cara com uma belíssima
pintura psicodélica. E a música era super cool! O vocalista, Paul
Davis, havia participado de uma montagem de Jesus Christ Superstar
um ano antes. O som do Gracious tinha muito mellotron. Era como o
Moody Blues e o Spring, eles construíam o seu som ao redor do
instrumento. Os antigos teclados, especialmente o mellotron, soavam
de maneira bem demoníaca. A faixa “Hell” tinha uns sons que
pareciam samplers de filmes de terror para mim.
Tudor
Lodge – Tudor Lodge (1971)
Mikael
- O lado folk da Vertigo, e também muito bom. Por volta de 2004 eu
fui fotografado para uma revista segurando este disco, e John
Stannard, integrante da banda, entrou em contato com a nossa
gravadora perguntando se poderia se encontrar com a gente. Pensei
“pô, que legal”, e o convidei para um de nossos shows na
Inglaterra. Então nos encontramos antes do show, conversamos e ele
me contou que ainda estava envolvido com música. John me deu um CD
com uma nova cantora que soava exatamente como ele – era uma
garota, talvez sua filha. Porém, nós não nos encontramos depois do
show. Acho que ele ficou surpreso por sermos uma banda de death metal
e não de folk rock.
Scott
Walker – The Drift (2006)
Mikael
– Na época que Walker gravou este álbum ele estava bastante
introvertido e fazendo um som bem anti-comercial. Seu trabalhos
anterior foi vendido como um disco pop, e foi um dos menos vendidos
da história da Virgin. The Drift influenciou muito o Opeth.
Eu tentava cantar como Walker, mas soava mais como David Bowie. Fiz
uma música para o OSI (projeto de Jim Matheos, do Fates Warning, e
Kevin Moore, ex-Dream Theater) onde tentava cantar de maneira
profunda e lenta, mas só consegui soar como um Bowie ruim.
Cornelis
Vreeswijk – Cornelis Sjunger Taube (1969)
Fredrik
– Esse disco lembra a minha infância. Meu pai gostava muito dele.
Cornelis era um holandês maluco que fez a sua carreira na Suécia
tocando folk jazz. Eu lembro do meu pai me mostrando essa capa.
Mikael
– Um barbudo pelado?
Fredrik
– Sim, um choque para os olhos. Meu pai tocava violão e cantava.
Acho que ele queria ser como Cornelis, ou uma espécie de folk hero.
Esse cara era tipo um ícone boêmio, e era muito controverso.
Mikael
– Ele era um rock star também, bebia um monte, vivia cercado de
mulhares, tomava drogas …
Fredrik
– Ver a coleção de discos dos meus pais espalhada pela casa me
fez começar a minha própria coleção. Não com Cornelis, é claro,
mas com For Those About to Rock e Piece of Mind.
Jan
Johansson – Jazz Pa Svenska (1964)
Mikael
– Este disco é muito famoso na Suécia. É música sueca tocada em
forma de jazz, apenas com piano.
Fredrik
– É lindo!
Mikael
– É o mais belo disco já gravado!
Fredrik
– A primeira faixa de Heritage foi baseada nele.
Mikael
– Eu pedi para Joakim (Svalberg, tecladista do Opeth) escrever uma
introdução para o álbum, e quando ele me mostrou soava como este
disco. Perfeito! Não dei nenhum direcionamento para ele, mas estava
em nosso subconsciente. Este é um álbum que ouvimos durante todas
as nossas vidas. Todos amam este disco, mesmo as pessoas não
interessadas em música, porque ele é sobre a Suécia. Eu não sou
um desses caras patrióticos, mas ele faz parte das nossas raízes.
Fredrik
– Jan é o pai do jazz sueco, e seus filhos Ander e Jens também
estão na música, envolvidos com o Stratovarius e com Malmsteen.
Bobak,
Jons, Malone – Motherlight (1970)
Mikael
– Li sobre este disco no brilhante livro Tapestry of Delights,
de Vernon Joynson, sobre obscuridades do rock inglês entre 1963 e
1976. Ele foi gravado por três caras de estúdio – engenheiros,
produtores e arranjadores -, e é um dos discos mais psicodélicos
que eu ouvi em toda a minha vida. O LP foi lançado por um selo
criado pelo lendário Morgan Studios, em Londres, que tinha clientes
como Pink Floyd, Led Zeppelin e Yes. O cantor, Wil Malone, depois
gravou também um álbum solo, e se alguém que estiver lendo isso o
tiver na edição lançada pela Fontana em vinil, entre em contato
comigo, pois eu quero. É impossível de encontrar! É um grande
disco de rock psicodélico. As músicas são realmente estranhas, há
algumas partes onde os guitarristas tocam muito alto. Você se sente
como se estivesse bêbado ao ouvir isto, ou prestes a vomitar.
Cromagnon
– Cave Rock (1969)
Mikael
- Um grupo americano que lançou apenas um LP, não sei muito sobre
eles. A primeira faixa tem vocais como os de death e black metal –
isso em 1969! É super estranho, muito bom e demoníaco. A foto dos
caras na contracapa mostra eles como pessoas normais, mas a banda
produzia música que pode matar as pessoas. O som é psicótico! Se
você vai passar uma noite com a sua garota, essa, definitivamente,
não será a trilha sonora. Isso é o que um esquadrão de
fuzilamento ouviria antes de fazer o seu trabalho. Eu não sei se
isso é bom, mas ao ouvir o disco pela primeira vez meu queixo caiu e
eu pensei: “Que diabos é isso?”.
White
Noise – An Electric Storm (1968)
Mikael
– Um dos primeiros álbuns prog lançados pela Island Records, com
um line-up formado pelo compositor David Vorhans, Delia Derbyshire e
Brian Hodgson. Esta é a estreia da banda e é experimentação pura,
com os caras descobrindo novas sonoridades com os primeiros
sintetizadores. Mas é também um disco divertido. Delia canta a
minha música favorita, “Here Come the Fleas”, que é hilária.
Eles tem uma faixa chamada “Black Mass”, muito sacana, e “The
Sound of Loving” tem uns sons incríveis ao fundo. Eu nunca ouvi
nada parecido como este disco. O fato de eles terem feito
experimentos eletrônicos tornou este álbum lendário. O grupo
certamente me impressionou. Este é um álbum de uma época onde
havia senso de humor na música experimental.
Culpeper's
Orchard – Culpeper's Orchard (1971)
Mikael
- Esta é uma das minhas 10 bandas favoritas de todos os tempos. Eles
são dinamarqueses, contavam com um cantor inglês chamado Cy Nicklin
e com o baterista Rodger Barker, que eu já conhecia das minhas
pesquisas sobre o Cressida. Quando encontrei este primeiro disco,
descobri uma banda de hard rock fantástica lançada apenas na
Dinamarca e na Alemanha, e que havia vendido apenas umas 10 cópias
de seus álbuns (risos). Mas as canções … há um lance meio Led
Zeppelin nas baladas, meio Purple, meio Jethro Tull, e músicas
absolutamente fantásticas. Estas canções são tão clássicas para
mim quanto qualquer disco do Black Sabbath. Eu fiquei obcecado pela
banda, e tentei encontrar Cy. Um amigo meu encontrou a sua irmã em
uma feira de discos, pegou o seu número, mas ele estava sempre
desligado. Não sei se este cara ainda faz algo na música, mas ele
significa o mesmo para mim que Tony Iommi. Se eu tivesse que escolher
apenas um disco para ouvir o resto da vida, seria este.
Animal, vou gastar um bom tempo pesquisando essa lista, valeu!
ResponderExcluirLegal demais, podiam explorar mais as influências dos artistas. É um material fantástico para conhecer.
ResponderExcluirSó conheço o White Noise e o Cressida. E pela qualidade desses, vale muito a pena ir atrás dos demais da lista.
ResponderExcluirhttp://themetropolismusic.blogspot.com/
Essa lista foi extremamente surpreendente pra mim!
ResponderExcluirCressida, Gracious, Tudor Lodge, Culpeper's Orchard...gosto muito de todos!!
Jamais iria imaginar que o pessoal do Opeth se influenciou por esses discos...
Ronaldo, sei que não é a sua praia, mas você chegou a ouvir o 'Heritage'? Se não, dá uma escutada, vale o play.
ResponderExcluirAbraço, e obrigado pelos comentários, pessoal.
esse disco do Cromagnon – Cave Rock (1969) e o maior lixo que escutei em toda minha vida, isso não é musica, lixoooo.
ResponderExcluirCadão, já vi duas músicas deste trabalho do Opeth pelo Youtube, a partir dos muitos comentários que surgiram sobre o disco aqui na CR. Me surpreendi, achei muito bem composto e bem gravado. Não sou muito familiarizado a alguns trechos mais pesados, mas achei essa amostra do trabalho muito boa!
ResponderExcluirTá aí uma ótima oportunidade de conferir um pouco mais...mais uma que fico devendo pra CR! ehehehe
Amo Opeth - uma de minhas bandas favoritas - e adorei esta lista. Mikael Akerfeldt é um dos caras mais geniais da música contemporânea e seu extremo bom gosto está bem evidente em tudo que ele faz - e ouve. É curioso observar que o Culpeper's Orchard, por exemplo, está presente na música do Opeth há bastante tempo, bem como o Cressida. Apenas agora ele focou em uma sonoridade mas específica, se aproximando mais das estruturas Clássicas - com resultados Magníficos, novamente. Grande Opeth.
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