Nino,
em primeiro lugar apresente-se aos nossos leitores: quem você é e o
que você faz?
Olá,
leitores do Collector's! Não me reconheço por outra alcunha que não
seja a de Nino Lee. Me considero um filho do rock and roll e
admirador da contracultura, da cultura pop e do que é ou foi feito
de maneira inteligente e diferenciada. Fiz de tudo um pouco ligado a
isso em meus 42 anos de vida. Fui DJ durante boa parte dos anos 80,
vivi bem de perto o furor do rock nacional e a efervescente cena do
rock gaúcho dos 80 e 90. Os locais que freqüentei eram justamente
onde rolavam shows com as bandas emergentes da cena de 80.
Grande parte delas iria marcar seus nomes para sempre na história.
Também fui músico no cenário roqueiro gaúcho durante toda a
década de 90 passando por várias bandas. Não tinha como ser
diferente respirando aquele ar por tanto tempo. Aqui no Rio Grande do
Sul o bicho pegava em termos de rock, desde a época do Iapi, nos
anos 60, um bairro local e tradicional de trabalhadores, condomínios
bem aos moldes da arquitetura londrina antiga. Dali saíram ou
perambularam artistas como Liverpool, Bixo da Seda, Hermes Aquino,
Vôo Livre e Elis Regina.
Toda
essa história passada intensificou-se e atingiu um bombástico auge
nos anos oitenta quando cada boteco tinha uma banda tocando e muitas
delas acabaram gravando seus discos e até sendo reconhecidas
nacionalmente. Eu vi o despertar disso tudo, foi uma época mágica.
Quando
virei DJ foi o momento em que passei a ter contato com o
rock que vinha projetado do centro do país de cima para baixo. Já
eram os fenômenos do rádio, das vendas de discos, ainda era época
do Chacrinha, Perdidos na Noite, Globo de Ouro. Bons tempos,era
divertido à beça.
Não
consegui ser nada diferente na vida, seria um mendigo não fosse a
música. O único emprego que tive com carteira assinada foi em uma
loja de discos. Os clientes eram os mais intrigantes seres do
planeta. Tinha os intelectuais do jazz, os freaks sequelados do rock,
sobreviventes do período ácido dos anos 60 e 70, os antenadinhos e
descolados, os sabe-tudo, os populares, os extremistas do peso,
os punk rock xiitas, os curiosos por compreender o máximo que
pudessem, os amantes do blues, os instrumentistas, os colecionadores
de relíquias, os fanáticos de uma banda só ... A gente tinha que
saber de tudo, cara, ser muito bem informado para tornar aquele
possível cliente um cliente fiel, por isso estudávamos muito,
líamos muito sobre tudo possível que pudesse nos aprimorar, e
fazíamos de tudo para descolar coisas que surpreendessem aquele fã.
Isso me satisfazia muito: ver um cliente contente diante de algo que
ele achou que nunca encontraria. Essa experiência me fez um cara
super eclético musicalmente. Para aprender a ver alma, atitude,
verdade e sangue em algo artístico é preciso se livrar de amarras e
aprender a respeitar e compreender raízes e gostos. Aprendi muito
dissecando e valorizando mentes com conhecimentos diferenciados e
profundos. Quando o assunto é a profundidade e verdade na história
do rock em tudo há algum valor importante, mesmo no ostracismo.
A história está lotada de casos assim, onde, infelizmente, o
reconhecimento virá ou veio apenas num futuro muito distante, ou
jamais, mas sempre há a possibilidade de que as pessoas possam
estar maduras o suficiente para entender. Odeio o radicalismo, mas
por outro lado odeio música feita para ser usada e descartada, e te
digo que é complicado ser assim. A probabilidade de você nunca ser
compreendido é imensa, mas foi uma opção que eu fiz, e que não
tem volta.
Isso foi minha escola de vida. Nunca ser um “mais do mesmo” e saber o máximo que você puder sobre algo artisticamente verdadeiro, mesmo que nunca ninguém tenha ouvido falar, pela condenação ao esquecimento da indústria ou do tempo. Em muitos os casos realmente a unanimidade é burra.
Vivi
meu passado com bicos aqui e ali, me aventurei como produtor,
empresário. A vinda da cultuada banda alagoana Mopho, lançando seu
primeiro e clássico disco em Porto Alegre, e a primeira vinda do
Raimundos à capital gaúcha considero minhas grandes conquistas
nesse lado. Volta e meia ainda me arrisco, mas foco mais em fazer o
meio de campo do que me envolver totalmente. A dor de cabeça é
grande e nem tenho mais saco pra isso, não tenho mais a menor
paciência.
Às
vezes quebro a rotina escrevendo para alguns blogs e sites como o
Whiplash. Tenho ajudado a divulgar por aqui a banda canadense Danko
Jones, prestando apoio à gravadora Badtaste Records. Tenho
o blog Nino Lee Rocker (http://ninoleerocker.blogspot.com/), de onde
retiro a base dos textos que vão direto para o blog do site de nossa
grife de camisetas. Tive alguns programas de rádio como o Transarock
na rádio Transamérica na grande Porto Alegre, e já faz sete anos
que estou no
ramo de camisetas online com a Marka Diabo camisetas - www.markadiabo.com. A Marka hoje vem crescendo muito e ocupa o tempo que antes
tinha para me dedicar a outras coisas paralelas, mas isso me realiza
muito.
Qual
foi o seu primeiro disco? Como você o conseguiu, e que idade você
tinha? Você ainda tem esse álbum na sua coleção?
Meu
primeiro disco foi o Thriller, de 1982, mas ganhei, o que é
diferente de comprar. Eu tinha 12 anos, música ainda não era o
lance, colecionar figurinhas me empolgava mais (desenhos
animados eram o grande barato de se colecionar). Desenhos e seriados
que logo acabariam me deixando viciado nisso eram o grande barato de
se assistir na TV, como Elo Perdido, Chip’s, A Família Robinson,
Lancelot Link, Banana Split, Spectreman, Ultraman, Swat, Perdidos no
Espaço, Terra de Gigantes, Profissão Perigo, Super Herói
Americano, Hulk, Sítio do Picapau Amarelo, o Carga Pesada original.
Logo vocês verão que meu lado “colecionador” vem do fato de ter
bebido nessas fontes e as consequências de tê-la provado. Isso era
como uma bola de neve que já havia se desencadeado alguns anos antes
da chegada de meu primeiro LP. A música até então estava conectada
às trilhas-sonoras destas coisas que eu me amarrava muito, uma boa
música tema o cara nunca esquece quando nos marca. “Frete”. do
Renato Teixeira é um exemplo disso, “Pavão Misterioso” também.
Também
era muito legal sair catando tampinhas que valiam prêmios,
posters, ioiôs, refrigerantes grátis, comprar picolé na esperança
de um palito premiado, encher os bolsos de goma de mascar por causa
das figurinhas de fórmula 1 ou de alguma copa de futebol, aqueles
cards gigantes então ... Aquilo foi memorável, a mídia sabia
entreter a gurizada, era a cultura pop, sempre foi assim. Quando se
curtia a parada era legal demais, desde ondas que se propagavam nas
escolas. Posso lembrar das bolas de gude, e muito especialmente das
bicicletas cross, coisa que fui viciado ao extremo. Cheguei a fazer
parte de uma das equipes da Caloi Cross! Sabe Ricardo, quando topei
responder a essa entrevista eu quis repassar todos esses aspectos,
não apenas no fator “vinil”, porque aqui trata-se de um um site
dedicado a colecionadores e em cada detalhe que citei acima havia
um lado colecionador relacionado a qualquer uma destas coisas. Isso
que, se eu adentrasse na parte em que falaria de minha paixão pelos
clássicos cult cinematográficos, não haveria espaço suficiente.
Bom,
então vamos ao primeiro disco. Esse Thriller do Michael Jackson
pegou muita gente em cheio e era uma novidade para mim, que ainda não
tinha um apego forte o suficiente para começar uma coleção de
discos. Eu era ingênuo musicalmente, embora considere um grande
álbum e que me despertou muita coisa. Costumo dizer que ele tinha
uma pitada heavy metal homeopática, mas eficiente, graças à
presença de Eddie Van Halen em “Beat It”, e um foco no lance de
horror, que eu acho que se relacionaria, mesmo que indiretamente e
talvez inconscientemente, aos álbuns que chegariam depois, não
relacionados em nada ao disco de Michael, mas que usariam o tema
sobrenatural e assustador em suas capas e temáticas. No meu caso,
Thriller foi tão legal que passei mesmo a curtir esse lado. Achava
um barato sair à caça de filmes de terror, e o melhor é que na
época assustava muito mais. Hoje a gente olha e pensa "porra,
como eu me assustei com isso um dia?" (risos).
Esse clássico do Michael foi um presente de meu pai. Talvez ele tenha chegado em uma loja e perguntado para o vendedor qual seria um bom presente para uma criança, e aquele disco era realmente um fenômeno. Não tenho mais a cópia original que ganhei, mas tenho o disco de edição da época que recomprei depois e também possuo esse relançamento duplo de aniversário, mas esperava muito mais para um relançamento desse nível. Pelo menos a gramatura é melhor que a nacional.
Você
lembra o que sentiu ao adquirir o seu primeiro LP?
O
primeiro disco que comprei foi o Blizzard of Ozz do Ozzy. Foi próximo
de 1983, e quando conheci o rock pesado foi atração instantânea,
vício imediato. Foi algo bem naquele período em que você começa a
fazer seus primeiros amigos de verdade, começa a sair em bando, ir a
festas, tomar os primeiros tragos, viver mais na rua do que em casa,
matar as aulas pra vadiar. Alguns amigos tinham suas coleções em
vinil ou essas coleções pertenciam a algum irmão mais velho e
doidão deles. Foi onde comecei a sacar que existia esse tal de rock
and roll e que aquela batida era irresistível. Assim
acabei conhecendo Ozzy, Dio, Sabbath, AC/DC, Rush, Judas,
Nazareth, Motörhead, Scorpions, Queen, Iron ...
O
Ozzy foi meu primeiro ídolo no rock, foi o primeiro LP que peguei
emprestado sem possuir nenhum disco ainda e ouvi por uma semana sem
parar admirando cada aspecto, capa e som, antes de devolver e decidir
comprá-lo.
Quando
consegui comprar aquele disco foi muito emocionante, o começo de
algo muito impactante, especial. Realmente não dá para descrever a
sensação que tive ao sair da loja com aquele disco embaixo do
braço. É engraçado, sabe ... a mente ainda cheia de espaço para
armazenamento é tão cristalina, e isso fazia com que cada
descoberta tivesse um brilho muito forte, as cores eram muito mais
vibrantes. Era como a experiência com um ácido ou algo similar.
Havia um modo muito diferente de absorver as coisas. Hoje a gente
vive com a cabeça abarrotada, hoje essa taça vive a transbordar e
nunca mais se consegue sentir o mesmo que outrora sentíamos. A
vibração tinha uma intensidade e durabilidade muito maiores
Comecei minha coleção por ele por que havia um vasto material para se conseguir pela frente. Haviam todos aqueles discos fantásticos com o Sabbath, já existia uma carreira solo com três excelentes álbuns na época, além de que o cara era envolto a todos aqueles mitos que o circulavam. Começava a rolar um certo fascínio no lance do ocultismo e tal. Parecia uma fantasia real. A gente às vezes ouvia alguns discos com medo (risos), mas tudo era como assistir a O Exorcista: causar o efeito era essencial. Acho que não éramos tão cheios de dedos em tudo, não éramos tão radicais, era um lado mais inocente. Foi uma época inesquecível!
O
primeiro LP foi esse, mas não demorou muito para que eu me tornasse
um consumidor voraz de uma amplitude de outros gêneros e vertentes
musicais do rock.
Porque
você começou a colecionar discos, e com que idade você iniciou a
sua coleção? Teve algum momento, algum fato na sua vida, que marcou
essa mudança de ouvinte normal de música para um colecionador?
Com
12 anos meu pai tinha me dado o Thriller, logo em seguida veio o
descobrimento do heavy metal (Eddie Van Halen já fazia parte no
Thriller, aquilo não era por acaso, era questão de muito pouco
tempo pro metal conquistar a molecada). Comecei com LPs relacionados
ao Ozzy e logo estava ligado nas bandas mais faladas do segmento. As
informações eram escassas na época, pra tudo era uma luta de se
descobrir, sacar a parada direito não era moleza, tinha que ralar
muito porque era como um legítimo garimpo mesmo.
Uma
mudança que observei como vital para nós que já curtíamos um som
de maneira mais séria no Brasil na época dos 80 foi a chegada do
Rock in Rio. O festival abriu caminho para o som pesado. O
evento e os milhares de admiradores do estilo de certa forma ajudaram
muito a colocar mais bandas e informações na roda. Foi uma grande
mudança. Creio que as gravadoras passaram a investir mais e havia
mais material à disposição. Nesse ponto, desde que o primeiro Rock
in Rio começou a ser divulgado, foi quando comecei a adquirir bem
mais discos. O som pesado, apesar de ser tratado como uma caricatura
pela mídia, não passou despercebido. O volume era muito grande para
ser ignorado. Mesmo que odiados por quase todo mundo, éramos como
criaturas bizarras. Ninguém via um headbanger com bons olhos, mas
gostando ou não, nossa força representava uma boa quantia de
cifrões para os cofres de multinacionais e selos independentes.
Assim
como o Rock in Rio, outro acontecimento fez com que meus horizontes
de colecionador, admirador e pesquisador aumentassem muito mais. Foi
quando, em meados dos anos 80, descolei uma vaga como DJ em três
casas noturnas de Santa Catarina (uma rede chamada Circus) e passei a
manter contato com o universo pop rock que na época era algo bem
legal e possibilitava centenas de diferenciais para se conhecer.
Aliei tudo com base no ecletismo. Curtia tudo que considerava legal,
sem preconceito, e isso foi algo que sempre achei ideal: o não
radicalismo. Ao final dos anos 80 minha coleção já contava com
centenas de discos. Não ter estagnado numa coisa só foi importante,
bastava ser algo bom.
Alguém
da sua família, ou um amigo, o influenciou para que você se
transformasse em um colecionador?
Posso
dizer que fui iniciado por cinco mestres nessa vida, cinco pessoas
que entraram no momento certo para que eu aprendesse muita coisa de
uma maneira consistente e irreversível. Ricardo Barão, que nos anos
80 apresentava o programa Central Rock na Rádio Ipanema FM e que
rodava tudo o que existia de legal, fosse novo ou clássico
no rock. Esse programa em especial deixou muita saudade. Nunca
esquecerei quando, por intermédio dele, ouvi o Thin Lizzy pela
primeira vez. Era ”Angel of Death”. Era aquele lance do tipo:
Thin Lizzy? Que sonzeira! E os caras já tem uma penca de discos?
Como vou achar isso? O
Central Rock me deixava enlouquecido atrás de bandas, era como se eu
me alimentasse só daquilo. Fui conhecê-lo pessoalmente muitos anos
depois, quando ele deixou o rock para se aprofundar em world music, e
era legal, porque havia a mesma paixão no cara por explorar coisas
que de outra maneira nunca chegariam até você. É sempre preciso
que alguém faça a mão, jamais acontece se ninguém toma uma
atitude. O falecimento dele foi algo muito triste para mim.
O José Roberto Mahr é outro cara que também considero muito relevante. Ele era uma plataforma de lançamento de bandas gringas, importadas e impossíveis de se descolar facilmente. Ele apresentava o Novas Tendências, um programa de radio clássico nos anos 80. Muita banda legal eu conheci ali. A voz do cara era sensacional e nunca esqueço o slogan "Novas Tendências no ar ,fique ligado!".
O professor
Getúlio Costa, dono da loja Boca do Disco eu considero meu Pai Mei
nos ensinamentos do lado obscuro e brilhante do rock. Com ele eu me
aprofundei na escola dos venenos, progressivos, garage bands,
psicodélicos, folks, hards. Esse cara me mostrou e me ensinou que o
rock não era apenas aquilo que a história básica nos contava como
se fosse a única real, havia muito mais. Não faço nem ideia de
quantos discos e conhecimentos musicais essa loja me colocou na roda
e na cabeça.
Deixar de falar no Miranda como alguém que me marcou muito é impossível também. Esse cara me influenciou muito no que tenho de diferente em mim. O Miranda é como uma eterna criança e seus brinquedos malucos. Se você for na casa dele vai descobrir do que falo. Acho que sou assim também. O conceito de brodagem foi outra das lições importantes que aprendi com ele e foi algo que jamais deixei de usar em meu caminho.
Por
último vou citar um falecido tio, Tio Loreni. Talvez ele seja o
embrião da minha ânsia de colecionar o que acho bacana e admirar a
arte. Ele possuía uma coleção bastante surreal e
psicodélica, colecionava borboletas, tinha as espécies mais raras.
Era muito fascinante e diferente ele ter aquele mostruário em seu
quarto. Só vi algo similar em um dos vários filmes clássicos de
faroeste de Django, o qual não lembro o título agora, mas
o lance das nuances psicodélicas estava muito forte
naquela coleção, e isso seria despertado depois de outras formas. O
próprio Hendrix vivia dizendo que o segredo estava nos tons das
cores, no quanto elas podiam ser vibrantes e isso afetar nossa mente
de forma criativa e imaginária. Era louco saber que aquelas formas
pinceladas magicamente em asas eram fruto de algo muito poderoso e
muito além do que poderíamos imaginar. Talvez eu tenha um
pouco disso de ser diferente como ele era. Sinto falta do que aquele
cara tinha em sua personalidade. Borboletas duram no máximo uma
semana de vida, talvez por isso ele possuísse essa paz de espírito
ao sacrificá-las. Era muito bela aquela coleção, ele conhecia
profundamente cada uma das espécies e sempre me ensinava sobre isso.
Acabei
virando um colecionador que ao mesmo tempo pode também ser chamado
de arqueólogo. Busco coisas que para mim tenham o sentido de um
tesouro, uma jóia rara, seja ela algo de extrema raridade ou não. O
valor para mim, como colecionador, tem de ser antes de tudo
emocional, um momento da vida da gente.
Inicialmente,
qual era o seu interesse pela música? De quais gêneros você
curtia? O que o atraía na música?
Como
muita gente da minha idade, a música chegou discretamente e sem que
eu a procurasse. Meu primeiro contato com ela foi pelo toca-fitas do
meu pai, quando tinha que ouvir as coletâneas do Julio Iglesias que
ele rolava sem parar. O velho era fissurado! Embora eu não fosse
chegado, não posso negar que eram impagáveis as bizarras
interpretações que meu coroa fazia dublando os sons do romântico
espanhol. A música estava no ar, sempre. Os ouvidos captavam, só
não havia a ponte direta. Nas casas de parentes haviam discos dos
Bee Gees, Roberto Carlos, Tim Maia, mas a música apenas pairava no
ar, flutuando sem que me motivasse a virar um fã mesmo. Mas quando
ela fluía eu ouvia com atenção. Quando criança não posso negar
que ouvia A Turma do Balão Mágico bem mais que tudo isso pela
televisão (risos).
Depois
veio o que já falei, o Michael Jackson, a explosão do heavy, a
chegada do thrash, do black metal, a new wave, o punk rock, o
progressivo,o hard rock, o pop, os venenos.
Meu
interesse não se situava apenas na sonoridade. Claro que, em
primeiro lugar, eu tinha que curtir o som. Depois era crucial que o
interesse passasse a ser o de saber tudo sobre tal banda, de onde
veio, onde se influenciaram, quais foram suas ramificações, em que
gênero se enquadravam. Sempre fui muito curioso, gostar de uma banda
não era e nunca foi apenas gostar, era antes de tudo ter mentalmente
visualizado toda sua biografia, toda sua trajetória. Era uma forma
de estar em constante aprendizado.
O
que me atrai na música?
Me
atrai que ela seja uma história de atitude e paixão e entrega
total. Muitos morreram por ela.
Quantos
discos você tem?
Discos
são um papo delicado. Na real, tive três coleções ao longo da
minha vida. A primeira eu adquiri entre os anos 80 e começo dos 90.
Cheguei a 1.500 discos, era meu orgulho. Eu não tinha grana pra
levar tudo que eu queria, o que era muito frustrante sempre.
Quando
botaram o CD na roda, eu, erroneamente - e esse é um dos maiores
arrependimentos da minha vida - comecei a substituir gradativamente
os LPs pelos CDs. A desvalorização do vinil foi brutal. Muita banda
nova foi surgindo sem lançar vinil, e diversos catálogos já
raríssimos foram sendo repostos pelas gravadoras, só que nesse novo
formato, causando uma ânsia louca de possuí-los.
Acabei
me livrando de toda uma coleção. O CD me atraiu no começo,
conseguiu com que eu fosse muito mais fundo nas minhas pesquisas.
Começaram a pintar os chamados “venenos”, aquelas bandas
obscuras dos anos 60 e 70, fora de catálogo em LP. Bandaças que,
embora desconhecidas, tinham discos matadores que só constavam em
registros escritos em bíblias do rock, oriundos de selos
totalmente especializados e eram privilégio de muito poucos
afortunados. O legal do começo do CD foi esse lado. O ruim foi o
dinheiro investido em jogadas comerciais que considerei nefastas
com o passar do tempo. Era ridículo comprar a coleção de uma banda
que algum tempo depois tinha o catálogo relançado em edições com
faixas bônus, e como se não bastasse eram relançadas mais tarde
com faixas bônus e edições remasterizadas com acabamento de arte
luxuosos. Isso era algo que me causava nojo, porque era como fazer
papel de otário. A magia estava sendo dizimada da face da terra. Eu
iniciava uma coleção, e quando via tinha de me livrar de toda ela
em detrimento da mesma coisa pela terceira ou quarta vez. Isso que
nem comecei a falar do processo de oxidação que devorou dezenas de
discos. Acho que em CD cheguei a uns 500, 600 discos. Iria mais longe
se não os usasse como moeda de troca na hora de adquirir mais. Não
dava pra ficar com um monte de cópias de um mesmo disco, eu optava
pela de melhor refinagem. Porém, a indústria do CD virou algo que
para mim perdeu toda a graça muito rápido, então só me restava
lamentar a perda dos meus velhos discos de vinil. Havia um
número incontável de encalhes sendo lançados pelas gravadoras em
CD, lixos que davam vontade de quebrar em mil pedaços e ficar com
aquela sensação de ser enganado.
A
trajetória de agonia e declínio do CD foi uma parada dura. Esse
lance dos mp3, dos downloads gratuitos, podia ser algo legal por um
lado. Para um colecionador ou pesquisador sério era, mas por outro
eram um pé no saco, porque qualquer Zé Mané da noite para o dia
vinha dizer que possuía todas as coleções de todas as bandas
possíveis e impossíveis, e expressavam isso como se tivessem
real conhecimento ou contato verdadeiro com aqueles discos e bandas
como nós, colecionadores reais que investíamos pesado,
tínhamos. Toda aquela parada que a gente absorvia e vivia na pele
quando saíamos à caça e descolávamos pérolas perdidas batendo pé
em tudo que era loja, sebo, troca-troca. O papo era outro, o feeling
era outro. Ouvíamos disco a disco, faixa a faixa. Cada um dos álbuns
de nossas coleções tinham uma importância tremenda, um valor
agregado que hoje é muito raro de se ver. Eu via um lado muito fake,
muito superficial, vindo à tona velozmente. Algo sem base, sem
referencial, sem ponto de partida. Nesse ponto confesso que desanimei
geral de gastar em discos. É uma coisa que só quem viveu sabe: tudo
o que vem fácil tem muito menos valor. A internet é um meio
maravilhoso de informação, mas a quantidade de falsidade,
aparências e lixos de tudo que é tipo é hoje um fator, ao meu ver,
perigoso e altamente emburrecedor de cérebros.
Só
comecei a me empolgar novamente quando blogs feitos por pessoas
sérias e entendidas em cultura começaram a aparecer. Foi
preciso readaptar meu lado analógico para essa nova e irrefreável
realidade virtual. Até que os LPs voltaram a pintar nas paredes das
lojas para minha surpresa geral, e num belo dia eu disse a mim mesmo:
vou voltar a colecionar discos de vinil.
Recomecei
meu interesse há dois anos e meio atrás. Primeiro descolei um prato
vintage Technics, que fundiu em seguida. Depois descolei um Stanton
zerado, o que me deu base para extrair um bom som antes de recomeçar.
Ironicamente
o único LP que havia sobrado era o velho Blizzard of Ozz, hoje com
30 anos de vida.
Atualmente
estou com cerca de 700 discos, porém o processo hoje é muito mais
seletivo do que antigamente. Não é nada barato adquirir uma boa
joia rara, mas é legal sair novamente na procura, sejam de
discos que ainda se acham por aí ou aqueles álbuns mais valorizados
ou raros. O investimento vale porque o item é valioso e limitado.
Com a atual procura a tendência é sumirem rapidinho de nosso raio
de visão. Vai ser muito difícil recuperar tudo que perdi, mas
tá valendo.
Sei
que você não coleciona apenas vinil. O que mais você curte?
Bom,
como aqui o papo é coleção, devo dizer que as minhas não se
restringem somente a discos. Coleciono bonecos, action figures e
miniaturas, na maioria de personagens clássicos do cinema, rockers,
motos clássicas, carros. Hoje possuo algo em torno de 300 peças,
a maioria armazenadas em uma vitrine expositora que projetei por anos
excepcionalmente para isso, para preservação dos itens. Levei dez
anos até que ela ficasse como eu planejava, o que só consegui
tornar realidade alguns meses atrás. O restante dos itens estão
espalhados por todos os cantos da casa, alguns ainda esperando por
espaço que terei de usar o cérebro para inventar.
Também
coleciono DVDs de shows e filmes cult. Hoje já devo ter bem mais de
800 unidades, pelo menos tinha isso da última vez que contei, e só
parei de contar porque não consigo mais local para armazená-lo,
então já tem muita coisa indo parar em caixas, o que é um inferno
quando se quer achar algo que estou com muita vontade de ver e não
se sabe exatamente onde está.
Curto
muito literatura também. Tenho muita coisa do Bukowski, mas Stephen
King predomina, devo ter uns 30 livros dele.
Livros
ligados à arte e fotografias da história do rock são outra de
minhas paixões. Vivo procurando obras sobre capas, artes e
memorabílias de rock dos anos 60 e 70. Sou fã em particular
dos caras da Hipgnosis, e coisas sobre o movimento punk old school
também me atraem muito, além de biografias de grandes mestres.
São vidas fascinantes.
Álbuns
de figurinhas, que foram as primeiras coisas que colecionei. Ainda
guardo muita coisa e volta e meia cato algo raro ou novo, só pela
sensação bacana de abrir os pacotinhos, completar as páginas. O
primeiro contato com álbuns foi quando devia ter uns 12 anos e fui
bisbilhotar um galpão onde um de meus tios guardava suas
antiguidades. Ali encontrei um baú abarrotado de álbuns. Cara, algo
em torno de 1.000 deles. Era fascinante de se ver, cada um sobre um
tema específico, e não sei nem precisar o quanto eram antigos -
certamente havia coisas dos anos 50 para trás, abrangendo toda
a cultura pop do tempo dele, quase tudo ainda desenhado, muito pouco
em fotografias, um relicário do estilo. É um prazer falar isso
aqui, relembrar esse momento. Tinha um pé de goiabeira atrás do
velho galpão e comer goiabas (como o Chico Bento) era a desculpa que
eu dava para minha tia me deixar ir para os fundos da casa dela, pois
eu sabia que meu tio não deixava ninguém tocar naquilo. Tudo me
traz tanta saudade ... muita gente já criticou minha nostalgia, mas
posso voltar no tempo. Nos momentos mais felizes, apenas lembrá-los
é um retorno, seja mentalmente ou tendo algo que os traga de volta
exposto, da mesma forma que não posso negar que o presente também é
um momento de felicidade plena, e sei também que amanhã ele será
passado, só o presente há, por isso ignoro pessoas que dizem que
vivo em outra época. Tem também aqueles que não vêem nada nisso,
acham uma tremenda bobagem, mas cara, sei lá, apenas sou eu e aquilo
que um dia ficará como um mapa genealógico da minha vida.
Qual
gênero musical domina a sua coleção? E, atualmente, que estilo é
o seu preferido? Essa preferência variou ao longo dos anos, ou
sempre permaneceu a mesma?
Nenhum
gênero musical domina minha coleção. Quando saio pra comprar busco
alguma coisa em todas as seções - psicodélicos básicos,
psicodélicos raros, folk básicos e clássicos, as grandes
obras-primas, venenos de respeito, heavy clássicos, new waves e punk
rockers old school, hard rockers, pop rock anos 80, funk anos 70, alt
country, stoner, garage bands, novidades. Mas o grande barato de um
colecionador maluquete é ele ser surpreendido por algo que não
esperava. Quando entro em uma loja entro com essa esperança. Nunca
sei o que vou encontrar lá dentro. Posso sair sem nada fora do
normal ou sair com algo que eu realmente não acreditava que um dia
encontraria.
Eu
não consigo dizer que tenho um estilo específico, isso vai muito do
clima que estou em determinado momento para ouvir um som. Das novas,
o Danko Jones eu escuto muito. O disco Below the Belt é um grande
passo na evolução do cara. O Brothers do Black Keys é fantástico,
o Let Them Talk do Hugh Laurie é surpreendente, magnífico. Mas eu
sou imprevisível nesse lance de saber se o que vou estar curtindo
hoje eu estarei na mesma pilha amanhã. Curto esse “não saber”.
Achei o último do Foo Fighters, Wasting Light, um disco genial, tá
furando de tanto rolar no prato.
O
metal atual me surpreendeu com o álbum de estréia do Ghost (heavy
old school de altíssimo nível). O Mastodon e o Black Mountain
também são coisas da safra nova que mesclam peso com outras
sonoridades e chamam muito minha atenção, excelentes bandas que
mereceram ter o vinil.
Não
posso esquecer do Fly From Here, o novo do Yes, fantástica viagem
progressiva. O novo Matanza também é um dos LPs que mais ando
escutando, os caras estão cada vez mais surpreendentes. A banda solo
do Taylor do Foo Fighters também é animal.
Fora
isso, o barato é volta e meia pegar um disco aleatoriamente e botar
pra tocar. Ficou mais legal fazer isso depois que descolei a maleta
vitrolinha da Phillips - boto as pilhas e levo pra qualquer canto.
O segredo é ter de tudo um pouco em sua discoteca básica. Hoje é muito mais fácil separar o joio do trigo, ter certeza do quanto um disco tem mesmo valor agregado ou não. Na época original de cada um não dava para se ter certeza. Os novos álbuns das bandas eram lançados, e mesmo que você curtisse ou não logo na primeira audição você levava pra casa e se arrependia ou não.
Algo que acontece volta e meia é quando não sai nem o CD nem o LP e a gente tem de catar os sons na internet numa pesquisa cansativa, mas que rende bons achados. Nesse caso específico, o que mais tem rolado recentemente são os sons da trilha sonora das três temporadas da série Sons of Anarchy, um borbardeio de refinamento musical que oscila entre stoner rock, rock de garagem sixtie, alt country, country rock e belas canções estradeiras. Muita gente nova e surpreendente nessa trilha cara, genial!
De resto, semanalmente busco LPs clássicos do rock, os discaços, os que marcaram cada banda em suas gerações. As três mais recentes aquisições foram os quatro primeiros discos do Cactus, que são uns pataços, e o Space in Time do Ten Years After.
Vinil
ou CD? Quais os pontos fortes de cada formato, para você?
Vinil,
direto! Pela capa, pelo som, pelo astral, pelo sentimento, pelo
passado ligado direto na vida da gente de maneira muito mais forte
que o CD. Mas ainda há problemas para consegui-los por não ser
mais o formato atual de mercado. Comprar discos importados com
prensagens atuais e de gramatura decente é caríssimo no Brasil.
A
gente é nostálgico. Não somos colecionadores porque está na moda
comprar vinil, e esse lance é meio onda hoje. Tem gente que compra
mesmo sem ter onde tocar porque é coisa de hype, o que é ridículo.
É meio delirante que a gente ache que tudo voltará a ser como no
passado, que os catálogos serão prensados novamente no Brasil com
força total, que aparelhos entrem no mercado popular. A música vai
ficar cada vez mais virtual e vai tender a perder o aspecto físico,
é isso que eu acho. Vai tudo parar no pendrive e sei lá o que irão
inventar pela frente, mas não me importa.
Mas
talvez o LP ainda tenha muito a surpreender. Algum tempo atrás nem
se ouvia mais falar, agora você vai em uma loja especializada em
rock e há vinis decorando as paredes.
O
CD tinha a vantagem de ser mais compacto, ouvir no carro. O melhor de
sua chegada foi a possibilidade de relançamento de pérolas do rock,
discos que nunca se imaginou que seriam recolocados em catálogo. Os
boxes são coisas que não poderiam existir se não fosse por esse
formato, a exemplo dos Nuggets, das caixas com takes alternativos
extraídos das sessões de grandes álbuns. Há coisas muito belas
lançadas somente em CD, e não vou negar que o CD possibilitou o
MP3, que possibilitou que você ouvisse algo antes de comprar. A
gente sabe que muita coisa que foi jogada no mercado é encalhe, é
coisa de obrigações contratuais de terceiros, discos com material
de péssima categoria, como muita coisa do Hendrix e do Marc
Bolan por exemplo. Detalhes desse portal infinito que se
abriu com o download na rede.
Existe
algum instrumento musical específico que o atrai quando você ouve
música?
Isso
é muito relativo, depende da banda em particular. Cada banda sempre
acaba destacando algo, mas se fosse optar para não deixar essa
pergunta sem resposta acho que escolheria uma bateria cavalar. Sou
fissurado em bateristas animais.
Qual
foi o lugar mais estranho onde você comprou discos?
O
lugar mais estranho que comprei discos foi em um brique de móveis
velhos. A especialidade do lugar era só móveis mesmo,
condomínios de cupins e baratas. Lembro que na época todos
aguardavam o álbum novo do Red Hot Chili Peppers, o cultuado Blood
Sugar Sex Magik. Havia muito comentário e badalação em torno
daquele lançamento porque o disco tinha sido produzido pelo Rick
Rubin e tal, era duplo, e a banda tava pegando legal na cabeça da
moçada.
O
álbum, na época, não havia saído no Brasil ainda e não havia
saído oficialmente nem lá fora. Aconteceu que, passando na frente
dessa espelunca, acabei enxergando uma caixa com alguns vinis dentro
e fui dar uma olhada como quem não quer nada e, inacreditavelmente e
pra meu espanto total, naquela caixa havia uma cópia exclusiva de
divulgação gringa do falado álbum! Puts, foi uma surpresa e
tanto, Ricardo! Foi um achado, porque acabei descolando o disco
primeiro, antes de qualquer um. Provavelmente alguém da gravadora lá
fora havia pego o disco, presenteado algum amigo brasileiro que o
vendeu assim que chegou por aqui. e por um troco qualquer.
O
xarope foi que todos os camaradas passaram dias batendo na
minha porta pra ouvir o vinil ou pedir emprestado. Na época não
havia “vazamento” de disco novo. Esse foi um lance que não
esqueço! Sempre tive essa mania de correr pra pegar um lançamento
ou alguma raridade de alguma banda. Sempre fui um fissurado, um
doente por vinil, mas aquele acontecimento foi surreal!
E
cara, tem um acontecimento bastante surreal que rolou também, um
fato bem na época em que eu estava na viagem alucinada de curtição
do Killers, do Iron Maiden. A noticia da entrada de um novo vocal já
rolava e me assustava um pouco, porque eu realmente era doido por
aquela fase inicial. O Maiden naquele começo bombástico me pegou de
cheio e bateu forte pacas, e não havia como saber como seria dali
por diante e muito menos quando eu teria aquele vinil para ouvir, me
decepcionar, ou não. Mas eis que num belo dia um camarada do meu
grupo de bicicross, que era de uma família crente, embora ele
tentasse ter seu gosto pelo rock, a família o proibia, mas o cara
tinha sido ousado e importou uma cópia do The Number of the Beast
com um parceiro dele que havia ido ao exterior. Bom, foi só o
trabalho de entrar pela porta e a mãe bater os olhos na capa do
álbum, the dream it’s over ... Esbravejando, a mãe do guri mandou
que ele se livrasse daquela coisa do diabo naquele mesmo instante, e
como ele sabia que eu curtia a banda foi bater lá em casa e me
disse: "Nino, você quer um LP do Iron Maiden de graça, porque
eu não posso ficar com ele, tenho de me livrar o mais rápido
possível".
Vocês
devem imaginar a cara que fiquei quando vi que o disco era
o novo dos caras! No ato eu aceitei e agradeci, e me livrei do
camarada pra colocar aquele álbum desesperadamente no toca-discos.
Meu Deus, o Maiden estava inacreditavelmente mais forte e imbatível,
e o tal Bruce Dickinson era animal! Confesso que curto os dois
vocais, as duas fases, mas aquele álbum era um passo para o
estrelato certo, era impossível dar errado. Foi algo que até hoje
não sei como aconteceu de tão surreal (risos).
Qual
foi a melhor loja de discos que você já conheceu?
Tem
algumas lojas que marcam a gente. A Pop Som, em Porto Alegre, foi uma
delas. Eles foram a loja mais legal nos anos 80, reinaram soberanos
por um tempão. A Megaforce é inesquecível também, era ponto de
encontro do pessoal que curtia som pesado. Todo sábado eu ficava
vagabundeando por lá, trocando figurinhas (matérias importadas) e
informação com a turma do metal. Os discos eram importados e caros,
o lance era gravar as fitas que eles comercializavam. Era muito
maneiro! Teve uma época em que o andar de cima da loja virou sessão
de cinema e passava shows muito irados, deixou saudades.
A
Disco Voador também foi lendária.
Hoje
não consigo citar uma loja que seja a mais legal. Seria injustiça
com os proprietários, pois onde vou acabo ficando amigo deles, tipo
a Boca do Disco, a Zeppelin, a Toca do Disco de Porto Alegre, as
lojas das galerias do centro de Sampa, as lojas especializadas que
visitei em cada canto que fui pelo Brasil. Acho que o grande barato
não é ser a melhor loja. O grande barato pra mim é entrar em um
lugar novo e passar um pente fino em cada disco. O legal é encontrar
algo que a gente não esperava. É o efeito surpresa. Pode acontecer
aonde a gente menos espera.
Conte-me
uma história triste na sua vida de colecionador.
Foi
me desfazer de toda a primeira coleção de vinil. Isso é algo que
nunca vou deixar de lamentar porque, se tivesse guardado, hoje
eu teria uns 5 mil discos. Me desfazer de todos os CDs, dos
brinquedos que destruí, dos álbuns que rasguei em pedacinhos quando
era uma criança peralta (um álbum da turma da Hanna Barbera 1977
hoje custa em média 300 reais no mercado), dos livros que perdi por
pura desatenção (tenho sérios problemas por falta de atenção, a
biografia do Sepultura hoje não sai por menos de 300 reais e eu
tinha). Mas tudo bem, é a vida, shit happens.
Como
você organiza a sua coleção? Dê uma dica útil de como guardar a
coleção para os nossos leitores.
Eu
não tenho muito a acrescentar como dica, sou meio bagunçado. Leva
um tempão para organizar, mas quando você desorganiza é um pé no
saco. Se você tem centenas de discos o que mais dá certo é a
separação por ordem alfabética, o resto é saber cuidar. No
mais é ter carinho por aquilo que você estima. Só quem coleciona
sabe valorizar, só quem um dia perde algo que teve e curtia muito é
que depois vai sentir na pele o que é não reencontrar o que perdeu.
Não
são todos que compreendem o que é colecionar algo. A gente acumula
discos e tem álbuns que talvez a gente nem vá ouvir
novamente antes de morrer, mas só o fato de uma obra estar ali
significa que está ali por algum motivo, por alguma época de sua
vida, por algum acontecimento que te marcou - pelo menos nas minhas
coleções cada item tem o seu porque.
Uma
dica é sempre limpar um LP usado quando você compra. Faça isso na
hora, se deixar pra depois você se perde. Use algum produto de
limpeza especial se você tiver, ou simplesmente um detergente
líquido. Enxague bem em um pano bem macio, passe sobre os sulcos em
sentido horário (não há problemas se molhar o rótulo, pois eles
secam), depois retire a espuma na água corrente, e de resto é
só deixá-los em algum local para secar apoiados de pé em algo, sem
muita luminosidade refletindo neles, pois isso irá retirar toda
estática do disco (o excesso de ruídos que não são da gravação,
as famosas "pipocas", embora isso dê um certo charme na
audição, em exagero incomoda) e melhorar muito a vida útil do
item.
Além
da música, que outros fatores o atraem em um disco?
Capas
e artes. Ter um bom trabalho gráfico é genial, sou fissurado nesse
lado. O vinil possibilita muito espaço para uma bela arte. Por
ser maior causa mais impacto e tem vários detalhes legais, como
o tradicional cheiro que um vinil novo (ou velho). Quando o lance é
CD eu curto quando há um puta trabalho artístico em cima. Um belo
box tem o seu valor, os itens adicionais que vem junto, livros,
réplicas imitando LPs, posters. Geralmente nos LPs não costuma ser
assim, até existem exceções, mas nem sempre há money pra
comprá-los.
Quais são os itens mais raros da sua coleção?
Eu
vou falar no geral, e vou esquecer um monte de coisas. Há itens que
às vezes acho que saíram de catálogo, mas que volta e meia
reaparecem à venda hipervalorizados em algum lugar. Centenas de
coisas que possuo em minhas coleções, se alguém garimpar bem
garimpado, acaba encontrando, ou se não achar em algum momento a
parada acaba surgindo em algum canto algum tempo depois, então vou
tentar citar alguns que realmente nunca mais vi por aí.
-
A réplica da batera psicodélica do Keith Moon é uma preciosidade
que guardo em uma redoma de vidro. Só pra ter uma idéia, é como
uma pérola.
-
Os bonecos do Cheech and Chong do filme Up in Smoke são raríssimos
também, porque foram lançados na época do filme e retirados das
prateleiras pela policia logo em seguida. Hoje não se acha isso em
lugar nenhum.
-
Algumas edições raras de bonecos do Star Wars lançados nos anos 80
também são muito raros.
-
Recentemente adquiri uma raríssima réplica da Harley Davidson usada
pelo Peter Fonda no filme Easy Rider, um de meus filmes prediletos.
Foi uma disputa a tapa pra descolar essa belezinha, mas levei a
melhor.
-
Na coleção dos carros, o item mais raro é a réplica do Impala 67,
o mesmo carro usado na série Supernatural.
Em
termos de vinil não sei dizer exatamente o que está fora de
catálogo, isso é muito relativo. Um colecionador sempre tem em
mente que algo que não encontrou em determinado momento pode
aparecer em outro. Um bom colecionador tem que estar sempre ligado,
diariamente, nos meios de obtenção do que ele busca, sejam raros ou
não, mas posso citar alguns que não são fáceis de encontrar e,
quando aparecem à venda, os fãs não perdem tempo pra obtê-los.
-
Tenho todos os LPs triplos lançados pelo Motörhead. São belas
edições luxuosas com vinis coloridos dos álbuns clássicos da
banda, assim como livros e boxes deles.
-
Também tenho o No Remorse, a clássica coletânea da banda, na
edição com a capa de couro, que foi lançada de forma bem
limitada.
-
Black Sabbath é outra das bandas que tenho muita coisa legal, não
só em discos mas também em livros e tralhas importadas. Destaco os
duplos de luxo com o selo original da Vertigo e várias faixas
inéditas lançados alguns anos atrás (o primeiro, o Paranoid e o
Master), sem contar toda coleção europeia lançada pela Earache
Records em edições de luxo.
- Alguns álbuns mais obscuros e clássicos também habitam minha coleção, e são discos que curto pacas, como o Love and Poetry do Andwella’s Dream, o Parachute e o S.F. Sorrow do Pretty Things, o primeiro do It’s a Beautiful Day, o primeiro e o segundo do Dust, os primeiros do Cosmic Dealer, Armaggedon, Demian, Three Man Army, Armaggedon, Gandalf, Buffalo, Kak, November, Music Machine, Quicksilver Messenger Service, toda a coleção do Dr Feelgood, do Bob Seger, metade da coleção do Cash, toda a coleção do Thin Lizzy, Terry Reid (Seeds of Memory) que acho fantástico, os LPs do Elf com o Dio - que aliás tenho tudo também, inclusive com o Rainbow e em carreira solo -, as versões duplas de luxo do Hendrix (sonoridade matadora em vinil!), tudo do The Who - inclusive o Who's Next triplo, o Sell Out duplo, o original completo do Live at Leeds com pôster e itens sobre o evento e 22 DVDs da banda.
- O E Pluribus Funk na versão moeda, o Village Green dos Kinks em versão original, o Neil Young Harvest em versão original de época, o The Faces Oh La La original com a clássica capa que se move, Savoy Brown (Street Corner Talking), ZZ Top (Fandango, Tres Hombres e Deguello, que são os três melhores deles ao meu ver), Crossfire (See you in Hell, esse eu citei porque tem uma capa muito maneira e é um disco também muito raro), o primeiro LP do Keane - que hoje é quase impossível de se descolar em vinil -, The Dirtbombs (Ultraglide in Black, que descolei autografado e que pra quem não conhece é uma banda atual de Detroit que arrasa, e esse disco só de covers é ainda mais matador, mistura de soul music com "zumbideira" de garagem sixtie).
- A versão dupla, em bege transparente do Songs for the Deaf do Queens of the Stone Age lançada pela Ipecac Records, gravadora do Mike Patton, foi um achado raro.
-
O Probot (um dos discos que achei que jamais conseguiria) foi outro.
- Os álbuns top da era psicodélica e dos anos 60 eu creio que tenho de tudo um pouco.
-
Do ACDC também possuo toda coleção e até renovei ela adquirindo
as versões com gramatura maior e um acabamento de arte mais bacana
lançados recentemente.
-
Coisas legais da cena old school punk tipo Stooges, MC5, New York
Dolls, Dead Boys, Pistols, Dead Kennedys, Ramones importados, Black
Flag, Damned, The Tubes, clássicos da new wave e surf australiana
tenho um bocado também, tipo Joe Jackson, Romantics, The Knack,
Plimsouls, Hoodoo Gurus, Australian Crawl, Sunny Boys, Ultravox (o
Rage in Eden é bem raro de se achar e é um puta disco), o Jack
Green, do qual cito o Humanesque, essencial álbum de surf new
wave muito raro de se achar hoje.
-
Algumas bandas novas ou da última década tenho bons petardos
também, e ainda estou na luta para obter alguns títulos fora
de catálogo de nomes como Monster Magnet, Foo Fighters, Danko Jones,
The Hives, Kasabian, Hellacopters, Gluecifer, Dandy Warhols, bandas
que já descolei tipo uns 2 ou 3 álbuns de cada, mas fico sempre
de olho nos leilões do eBay para ver se pinta o que falta - essa
parte aliás é a mais chata para um colecionador.
- Dessas bandas novas que curto e que consegui completar toda coleção foi o Muse, acho uma banda fantástica.
-
Por último não tem como esquecer da cópia autografada pelo David
Grohl do primeiro disco do Foo Fighters, descolado em um show da
banda ainda no começo deles, na fase dos pubs bem menores.
Na real a lista é longa, citei itens que tive um grau de dificuldade maior para conseguir e sei que grande parte não se acha em qualquer lugar, para conseguir tem wur ir fundo. Os três boxes dos Nuggets e o The 70’s Punk Rebbelion também me deram um trabalho danado pra descolar.
Das recentes aquisições consegui o box oficial do Beavis and Butthead, caixa dourada luxuosa com 10 DVDs contendo tudo lançado por eles na época na MTV, um item fantástico e também muito raro hoje.
Você
tem ciúmes da sua coleção?
Bom,
hoje moro no interior do Rio Grande do Sul, vivo meio isolado, meio
eremita. Antigamente, quando morava na capital e não havia internet,
o ciúme era maior, porque aquele que pedia algo emprestado era
porque não havia como ele descolar para ouvir se não fosse de outra
forma. O raro era raro mesmo, esse lance de importação era coisa da
qual ainda não se tinha nenhuma noção, só rolavam plays
importados se algum abonado trazia de uma viagem ao exterior.
Uma
vez houve um incidente que me deixou irado. Eu não curtia emprestar
discos, mas os camaradas às vezes choravam muito pra levar um dos
meus pra casa e eu acabava emprestando. Em uma das vezes larguei um
disco que eu curtia pacas na mão de um brother meu que eu confiava,
mas já havia recusado de emprestar o mesmo disco pra outro cara que
havia me pedido antes. Eu não ia muito com a lata do sujeito, e da
minha coleção só saía algum disco se eu confiasse muito na
pessoa. Aconteceu desse cara bater na casa do meu camarada enquanto
ele trabalhava e dizer para o irmão dele que eu havia liberado pra
lançar o disco pra ele. Na inocência o guri entregou o disco pro
cara, que levou o LP pra casa. Só que o sujeito se vingou, riscou os
sulcos com um prego de fora a fora nos dois lados e devolveu ao irmão
do meu camarada na mesma tarde, sem que meu brother nem percebesse
que ele havia saído dali.
Quando
fui pegar o disco de volta e vi o estrago eu fiz um escândalo, saiu
briga de porrada, armei um barraco. Era um LP dos Sisters of Mercy
(eu curtia muito aquela época gótica e idolatrava pacas o Sisters).
Foi quase de pintar a polícia, nunca esqueço disso e até hoje nem
posso ver aquele trouxa na minha frente. Depois disso ficou muito
difícil sair qualquer coisa da minha casa.
Aqui onde moro não tenho muitos amigos conectados ao universo do vinil, na real acho que só um camarada está ativando uma coleção, mas é cada um na sua, então não tem muito isso de emprestar. Nos anos 80 era só vinil, então pra ouvir você tinha de ter o disco ou o k7, a coisa rodava muito mais e era uma outra espécie de valorização também. Quando se curtia um disco ouvia até furar. Hoje, ouvir o vinil é um momento quase ritual.
A ciumeira bate mais na coleção dos action figures, miniaturas e réplicas. Cara, me apavoro só de pensar em uma criança chegando perto. Não desgrudo nem o olho quando tem alguém limpando a casa. A réplica do Impala 67 já perdeu um retrovisor, e isso me deixou deprê (risos).
Quando
você está em uma loja procurando discos, você tem algum método
específico de pesquisa, alguma mania, na hora de comprar novos itens
para a sua coleção?
Cara,
na real quando entro em algum lugar onde sinto cheiro de que vá ter
algo que me interessará, mesmo sem saber se terá ou não, eu ativo
o “modo procura”. A mania é fuçar tudo, olhar em cada canto.
Descolar algo surpreendente nesse “modo procura” deixa um
colecionador feliz. O colecionador é compulsivo, se achar vários
itens a única coisa que vem à cabeça é a pergunta: “Onde vou
encontrar isso novamente?”. É
osso duro brother, o cara sempre gasta mais do que deve dentro do
orçamento que tem disponível como limite estipulado. Às vezes não
rola, e aí o cara fica emburrado e com um beiço enorme.
Eu
sou maníaco mesmo, preciso de acompanhamento psicológico para lidar
com essa ânsia de colecionar, porque nessas até um io-iô da
Coca-Cola tem valor, uma tampinha de refri da época tem valor, um
brinquedo antigo tem valor, álbuns antigos, gibis, figurinhas,
livros. Quando eu ponho uma ideia na cabeça é foda de tirar. Se vou
a alguma capital que possui lojas bacanas e estou com a família é
extremamente agonizante, porque é bem capaz de eu passar uma tarde
inteira dentro do local. Tento agilizar, mas a sensação de ter de
me apressar me frustra, porque sempre acho que acabo perdendo alguma
boa descoberta.Vou te confessar um segredo de maluco: eu queria muito
era descolar uma bala Xaxá, muito comum nos anos 80, só pra guardar
como relíquia. Um Ploc, ou aquelas balas que vinham numa tripinha
colorida com vários desenhos, mas nem lembrar o nome do item eu
consigo. Só posso ser doente, né? (risos)
O
que significa ser um colecionador de discos?
Acho
que para nós, colecionadores, significa preservar a cultura da
qual fizemos parte ou da qual estivemos e estamos conectados.
Em
cada disco que possuo tem um pouco da minha história, algum som que
marcou. É algo do qual eu ouvi bastante quando descobri ou
representa algum momento especial na vida da gente. Cada coleção
sempre tem algo de muito pessoal a cada um, pelo menos penso assim.
Minha natureza é de cunho nostálgico. Tem muita gente que
pode achar supérfluo, mas eu penso muito pelo contrário. Eu
sei que a gente vive no presente, mas mesmo o passado um dia foi esse
presente. Tudo é sempre um eterno presente. Quatro gerações são
suficientes para armazenar muita coisa.
O
que mudou da época em que você começou a comprar discos para os
dias de hoje, onde as lojas de discos estão em extinção? Do que
você sente saudade?
Cara, acho
que na medida em que o tempo vai passando em nossa vida, no meu caso
já na reta dos 45, a gente já não absorve mais as coisas com
aquele brilho fantástico da adolescência, da juventude. Sei lá,
acho que nossa mente é como um imenso HD, e chega um ponto em que
ele começa a perder a capacidade de absorver e sentir as coisas com
a mesma magia que um dia fez. A gente meio que começa a transbordar
de tanta informação que acumulou.
Acho
que a gente viveu momentos muito intensos onde novas gerações
se manifestaram na cultura mundial de maneira
bombástica. Vivemos toda aquela intensidade dos anos 70 e ainda
sentindo forte os ecos das gerações que recém haviam passado, a
vibe dos anos 60 totalmente conectada ao Blues e aos anos 50.
Não
vou negar que os anos 80 foram meu despertar, e os anos 80 foram uma
continuidade daqueles momentos. Mesmo que a música tivesse atingido
um patamar mais pop e comercial, não se pode negar que até aquela
década a efervescência ainda era mágica e eternizou-se. Os anos 90
foram legais também, muita coisa boa, vivida no timing, mas a partir
do final daquele ponto comecei a me perguntar se nunca mais iria
passar aquele filme que eu queria ver de novo, sabe?
Existem
ótimas bandas no mundo hoje, tem discos muito legais sendo lançados,
mas sinto falta de como tudo era antes. Ainda há muita informação
a ser absorvida, descoberta, mas hoje tudo é tão cômodo. Não que
seja ruim, é mais fácil para nós, mas nada se compara aos tempos
em que eu juntava uma grana, saía num sábado bem cedo de casa e
partia rumo ao centro da cidade para fazer aquela clássica tour por
todos as lojas que vendessem discos. Era muito mágica a sensação,
sair sem saber o que ia se descolar de legal. Você podia voltar sem
nada ou com vários discos bacanas que passaria a semana toda ouvindo
em seu aparelho. Sei lá, o vinil tem sua magia né, aquela época
tinha sua magia. Nada caía do céu, nada era fácil demais, era meio
loteria a nota que a gente dava para alguma novidade ou surpresa
que encontrava pelo caminho, por isso a gente dava mais valor. Foi
uma grande pena quando a indústria desvirtuou tudo isso com a
invenção do CD. Pode até não ser um atraso tecnológico, afinal
tudo caminha para a frente, mas algo deu errado, tanto é que o
formato está condenado, ou literalmente morto.
Nunca
ouvi ninguém dizer que ter um LP era ter um objeto trambolhão,
gigante, desengonçado, feio e ultrapassado. Isso de rebaixar o
formato vinil foi invenção da mídia pra vender a novidade. O
problema é que essa novidade cabia dentro de um computador com a
maior facilidade do mundo, e possibilitou que uma música virasse um
arquivo facilmente possível de surfar pelas ondas da rede mundial.
Se ainda fosse o vinil, duvido que tudo estivesse tão dramático
para a vida da indústria fonográfica. Tudo tem seu lado bom e seu
lado ruim. Creio que o LP não quebraria a indústria de maneira tão
feroz, mas o CD se encaixou onde o vinil não ia, só que toda
concepção, todo o plano era o de compactar o formato cada vez mais,
só que a tecnologia andou rápida demais e fulminou o formato físico
do CD muito mais rápido do que se imaginava. Hoje, o lance é jogar
500 músicas num pen drive e levar pra tudo que é lado.
Mesmo
nostálgico, mesmo sendo um cara vintage, eu não desprezo as lojas
virtuais porque temos de viver com elas, e elas conseguem o que a
gente quer. A Amazon é uma baita loja, os LPs saem muito em conta
comprando por lá. No eBay também, se você ficar ligado nos
arremates é capaz de descolar um bom vinil por até 10 dólares
tendo paciência de ir até o último minuto, só que às vezes tenho
muito receio e dou preferência por comprar em lojas nacionais
especializadas porque não se corre o risco de ter seus produtos
confiscados na alfândega, a pior das dores de cabeça.
Além
dos discos, você é um dos criadores da Marka Diabo Camisetas, onde,
na minha opinião, você consegue produzir itens que demonstram não
só a sua paixão pela música, mas também um sentimento geral que
acompanha quem vive essa realidade. Conta pra gente como surgiu a
Marka Diabo.
Surgiu
da vontade de fazer algo com o que eu tinha dentro da minha cabeça,
surgiu da vontade de colocar na roda informações que
poderiam ficar condenadas para sempre como um sonho dentro
de mim se não fizesse algo do tipo. Eu iria estagnar com toda
certeza. Vivi momentos que me possibilitaram conhecer muitas coisas,
tinha ido muito mais fundo onde normalmente um fã de música ou
cultura vai. Eu já tinha feito muita coisa na vida quando, em 2005,
resolvi encarar essa ideia no peito. Já tinha passado por várias
etapas, já tinha incorporado vários segmentos musicais e elementos
da cultura pop com toda força. Ser um roqueiro e xiita era algo
eterno, mas precisava focar em algo que fosse concreto, precisava
acreditar em algo que pudesse ser legal, real, diferencial, e
expor o que para mim era um tesouro.
Eu
queria expressar a vontade de lutar pela divulgação da cultura por
meio das camisetas, não havia capital algum. Isso ao mesmo tempo me
fazia batalhar por uma causa também artesanal, sem nada de produções
em série. Era um sentimento contra a ignorância da qual eu sentia
que toda uma nova geração estava sendo aos poucos submetida, oca e
sem raízes fundamentais, sem o culto aos ancestrais, sem a sabedoria
da fonte. Para
viver é preciso ousar, arriscar, conhecer e não estagnar no
comodismo, na zona de conforto tal qual o mundo parece caminhar
atualmente, consumir sempre o que nos é empurrado goela abaixo com
campanhas publicitárias milionárias que tentam sempre nos convencer
de que o legal, o descolado, o inteligente, é o que é por eles
imposto. Isso é massificação, e vejo isso muito na cultura. Na
real sempre teve disso na história que a gente mesmo curte. Foi
assim desde que o rock virou mainstream, mas havia genialidade e
diferencial, havia frescor e surpresa. Isso vem desde que o Allan
Fred botou um Chuck Berry pra tocar em seu programa de rádio e o
rock passou a incomodar e, consequentemente, virar sinônimo de
grana. Porém, as coisas hoje parecem como se tivéssemos
voltado no tempo. Antes disso acontecer, se Allan Fred não tivesse
existido, como seria? O rock ainda estaria entrando pela porta do
fundo das casas de shows? A futilidade de grande parte da
cultura é tão desprezível, mas não vê isso como ruim, é
business, são negócios. Se não interessar mais que seja popular
não será, ao menos que você faça barulho forte. Não é justo
pegar qualquer coisa e transformar em sucesso porque algum babaca sem
noção acha o certo, mas é a realidade e sempre foi muito antes de
qualquer coisa. Na real, o que importa é que precisamos que as
pessoas caminhem por elas próprias de encontro a quem tem talento,
porque isso te fará tirar a venda dos olhos e ver o que é bom. É
questão de tempo e raciocínio próprio, mas te digo uma coisa: há
tanto no rock (presente, passado e futuro) que daria pra passarmos
centenas de vidas pesquisando e não descobriríamos tudo de bom que
há gravado.
Eu sonhava em algo que juntasse todo esse referencial histórico sem preconceitos, bastava separar o joio do trigo de tudo que foi relevante, não importava quanto mais fundo eu fosse em meus estudos, não importava se o “trigo” fosse algo que 99% do mundo ignorou estupidamente, quando havia indícios para que pudesse ser o contrário.
Quando
saí da Maria do Relento, em 2002, eu saí com a cabeça doente, com
problemas pessoais. Haviam sido mais de 12 anos tocando sem parar e a
vida na estrada vinha produzindo e piorando sequelas que ficariam
irreversíveis se eu não desse um basta na loucura. Larguei tudo,
fui para outro estado, peguei um trampo comum e passei os dois anos
seguintes pensando na vida, isolado como um eremita, lendo, lendo,
lendo, apreciando sons e discos como se apreciam bons vinhos. Foi uma
época de intensidade no foco por aumentar meu conhecimento cultural,
mas ao mesmo tempo uma época de profundas mudanças. Enfrentei uma
separação conjugal e assumi a guarda de minha filha pequena.
Foi quando se deu o start na história das camisetas, que naquelas alturas já estava fortemente enraizada na minha cabeça. Eu sempre curti as t-shirts, sempre produzi as estampas das bandas que tocava, era algo totalmente ligado ao esquema "do it yourself", o lema que o punk me ensinou, que refletia nos fanzines que eu fazia descompromissadamente nos anos 80. Mas a Marka Diabo tinha de ser encarada com a intenção de ganhar estrutura empresarial, crescimento, o que surgiu sem que ninguém ao nosso redor acreditasse, porque apostávamos justamente no lado oposto, no lado esquecido, no lado nostálgico, no contra-sistema, e acabou se tornando uma das empresas do ramo que mais tem crescido e feito a cabeça de quem manja do riscado cultural. Porém, estamos cientes de que desde que começamos nossos trabalhos que a estrutura bem dizer vive sustentando seu próprio peso adquirido. Escolhemos por um caminho braçal onde cada camiseta sofre todo o processo de elaboração serigráfica para que apenas ela seja impressa ao cliente, mas o que importa é ser algo compensador ao coração. O que mais vale no nosso trabalho é sermos reconhecidos como um baú de raras pérolas de nossos tempos. É um cliente entrar no site e dizer: "Cara, não acredito que encontrei isso aqui!".
Ter
conhecimento de causa e vontade de lutar por um sonho é o que
mais importa para mim. Eu vejo a nossa curtição como
uma grande banda independente, que respeita seus fãs, que possui um
compromisso com seu fã e que não se entrega á formulas
passageiras.
Hoje
já contamos com uma equipe bem maior do que em 2005. Nossos
parceiros oficiais Danny the Geek e Fernanda e nossa equipe guerreira
de produção, Alison, João e Matheus, os desenhistas Paulo Coruja
(vocal da Cracker Blues) e Romulo Carniel, fora a turma técnica que
nos acompanha
na
assistência, que vão de advogados a consultores, sem contar nossos
fiéis "markeiros".
De
onde vêm as ideias para produzir as estampas das camisetas?
Em
primeiro lugar tentamos fugir o máximo possível do mais do mesmo
que existe espalhado por aí, mesmo que na imensidão da internet
isso às vezes seja impossível.
Eu, o Danny e a Fê vivemos com um bloco de anotações nas
mãos, e estamos sempre com a cabeça catando ideias. O trabalho de
pesquisa é muito intenso, estudos são realizados em diversos
segmentos, filmes são revistos assiduamente procurando referencias
inéditas. A gente curte muito misturar ícones, isso já nos rendeu
grandes momentos, como as duas vezes em que fomos escolhidos como
camiseta do mês pela revista Bizz.
Ser
diferencial é o que nos move, principalmente na escolha de artistas,
bandas ,filmes, referências. E um lance bem arqueológico, que vem
da nossa própria vivência e conhecimento cultural. No momento, por
exemplo, estou lendo cinco livros referentes a movimentos culturais
ao mesmo tempo, prestando total atenção a cada frase e anotando
tudo. Confesso que, às vezes, na hora de sentar no computador para
pensar nas artes. chega a dar um nó no cérebro (risos).
Vários
músicos já foram vistos por aí usando camisetas da Marka Diabo.
Quem já vestiu a marca?
Nossa,
a lista seria interminável. Esse lance da Marka apoiar os artistas é
algo que vem diretamente daquilo que comentei acima e que aprendi com
o Carlos Eduardo Miranda, O CONCEITO DA BRODAGEM.
Desde a época em que vivi na estrada com a banda que a
motivação por fazer amigos sempre foi algo latente em minha pessoa.
Conheci muito fera na estrada que percorri. A gente viveu momentos
muito intensos com a Maria do Relento. Dividimos o palco com muitos
ídolos e bandas de força nacional como os Titãs, Ira!, Marcelo
Nova, Barão Vermelho, Rita Lee, Paralamas do Sucesso, Cidade
Negra, Jorge Ben, Skank. Tocamos mais de 20 shows dividindo o bus e o
palco junto com o Raimundos em sua fase incendiária inicial,
entre o primeiro e o segundo discos, sem contar que a banda percorreu
a trilha da mídia de massa como Programa Livre ,Jô Soares, MTV e
vários outros canais de TV e mídia impressa. Foi uma rotatividade
muito alucinante na época, algo muito doido.
Todo
esse conhecimento e amizade fez com que o conceito da Marka se
espalhasse entre a classe artística. Os amigos ajudaram muito
vestindo a ideia, falando a respeito, no boca a boca, usando nos
programas de TV.
Vou
tentar lembrar alguns que usam direto nossas camisetas. O Matanza
usa direto, é banda da casa. A aparição do Jimmy no Rock in Rio
usando nossa camiseta exclusiva foi um momento muito importante para
nós, e agora vem o Metal Open Air ... Velhas Virgens,
Cachorro Grande, Roger Moreira e o pessoal do Ultraje também usam
direto, e agora aparecem diariamente em âmbito nacional
e pelo menos um deles sempre usa algo nosso no programa Agora é
Tarde, da qual eles são banda fixa. Cracker Blues, Tomada, King
Bird, Baranga, Léo Jaime, Renato Piau (ex-guitarrista da Vitória
Régia), Biquini Cavadão, Kiara Rocks, Rock Rocket, Desvio
Padrão, Marcelo Nova, Nasi, Wander Wildner, Maria do Relento,
Sigma 7, Skank, Graforréia Xilarmônica, Rosa Tattooada, Acústicos
e Valvulados, Reação em Cadeia, Erasmo Carlos, Mopho, Edu K,
Raimundos, Chuck Hippólito, Débora Falabella, Blues Etílicos, The
Headcutters, Nenhum de Nós, Roberto Sadovski, Marcelo Adnet e o
Kiabbo... Peço desculpas aqueles que acabei esquecendo aqui.
Dentro dessa resposta não posso esquecer que tem camiseta nossa no couro do Mickey Dee, Matt Sorum e até do Allan Moore!!!!
As
capas de discos servem de inspiração para criar novas estampas?
Sim,
algumas sim, mas tentamos sempre fugir da imagem mais conhecida em
geral. Captar algum ponto específico de alguma clássica capa tem
sua importância e sai do lugar comum, e para um bom entendedor meia
palavra já basta. A gente usa muito isso, externa ou
internamente.
Quando
você vê uma capa interessante já pensa nela como uma possível
camiseta?
Depende.
Primeiro tem de ser algo diferente, incomum. Na real curto mais
viajar por cada centímetro de uma arte de capa, ou algo presente na
capa, algum mero detalhe. Transformar, variar. Às vezes vejo uma
capa mas não penso em utilizá-la ao todo, mas sim apenas alguma
referência, alguma parte dela, que só quem manja sabe. É como
falei acima, o lema na Marka é: pra bom entendedor, meia
palavra basta. E fã que é fã manja mesmo, é um campo até
perigoso, onde o risco de uma gafe gera uma feroz advertência do
admirador nato.
Você
vive viajando por aí. O espírito de liberdade do rock and roll faz
parte da sua vida, certo?
Cara,
com banda eu experimenteitotalmente esse espírito de liberdade. Foi
maravilhoso ter passado todos aqueles anos na estrada. Vivíamos a
vida rodando em ônibus de cidade em cidade, de quinta a domingo,
agenda cheia, casa cheia, um público forte onde abrangíamos bem,
principalmente nos três estados do sul do país. Os três discos e
as três tours que participei renderam algo em torno de 600, 700
shows, mas ao mesmo tempo foi super frenético, passou voando. Eu
fiquei dependente daquilo e de tudo que vinha no pacote de estar em
uma banda de relativa exposição nos anos 90, onde tudo soprava a
favor. A pressão era absurda. Gravadora é números, contratante é
números. Estar exposto não era legal quando passava a ser
secundário, mecânico. Às vezes num bus indo para algum show haviam
algo do tipo três ou quatro pessoas estranhas junto da gente que
estavam “intermediando” as apresentações. A gente era uma fatia
de bolo sendo cortada totalmente. Muitas vezes era sinistro
lidar, por não sabermos o que se passava de sincero dentro daquelas
cabeças.
Mas paguei o preço por muitas coisas e nem tudo pelo que paguei foi bom pra mim. Os excessos eu confesso que até hoje me fazem sentir sequelas deixadas por ter ultrapassado limites, e às vezes, hoje em dia, parte de algum sentimento chamado “liberdade” consiste em vencer isso no dia a dia. Os anos de estrada e excessos distorceram meus conceitos de liberdade, e quando caio nessa ideia que traz todo gosto do passado novamente à tona eu fraquejo, e isso leva parte de mim para um lugar sem volta. Converso muito com o Jimmy do Matanza sobre isso, porque sei que ele também prejudicou-se muito por excessos que cometeu.
Hoje as coisas são diferentes, o rock and roll não está mais na estrada como antes, está totalmente dentro da gente, da nossa casa, do nosso trabalho. Àss vezes preciso domar algo semelhante a um “maluco beleza”, e às vezes preciso libertá-lo. Tive que aprender a ter esse discernimento. Sinto falta da estrada, aquilo sempre me fazia pensar que tudo era como estar vivendo o Sem Destino.
Mas os tempos mudaram, tenho outras metas. Tem a ver com família, às vezes planejar alguma viagem sozinho quando rola, mas priorizo tentar não ser tão ausente desse conceito chamado lar. Minhas filhas, hoje tento extrair um pouco mais sem que seja tudo tão rápido como foi no passado, onde pessoas, cidades, culturas, diversões, rock and roll, iam e vinham sem que ao menos pudéssemos memorizar aquilo de uma forma inesquecível onde se pudesse lembrar de mínimos detalhes depois, o que 70% eu realmente não me recordo mais. Eu vivo do que o rock fez de mim, do que o rock fez por mim, e creio que isso ainda continua sendo uma grande e talvez a maior estrada de todas, percorrendo-a dia a dia dentro da minha realidade ideológica que meu trabalho propicia.
Cada
banda que a gente apoia são parceiros que, de certa forma, é como
se estivéssemos juntos em cada canto que eles vão, caindo na
estrada, levando nossa ideia no peito, tipo quando conhecemos o
Baranga em Floripa. Depois de anos apoiando a banda só fomos nos
conhecer pessoalmente na abertura deles ao Motörhead, e foi uma
festa, foi fantástico. É legal saber que tudo isso veio de algo que
a gente criou e faz com paixão, que vai além de uma simples loja. É
uma casa de grandes amigos. A Markadiabo é como a casa do tal rock
and roll e sabe-se lá que mais surpresas legais teremos ainda pela
frente.
O
espírito de liberdade do rock definitivamente faz parte da minha
vida. Ter todas essas grandes histórias de lendários mestres do
rock e da arte estão dentro da gente, são personagens que a gente
colecionou e absorveu ao longo de todos esses anos. Jamais me
arrependerei por ter, na encruzilhada, optado pela estrada de nome
rock and roll.
O
que você acha desse papo de que música boa só existiu nos anos
1960 e 1970, e de que hoje não se faz música de qualidade?
Não
vou negar que essas duas décadas nos presentearam com alguma bela
porcentagem de tudo o que de melhor foi feito no mundo da música,
mas os anos 80 para mim também possuem um valor inestimável e a
década de 90 também. Talvez de certa forma as ultimas décadas não
tenham tido aquela magia que pairava no ar entre 60 e 70, havia um
senso de inspiração inacreditável naqueles dias. Hoje
ainda se faz muita música de qualidade, a diferença é que o numero
de porcarias talvez seja superior ao que vale realmente ser
classificado como “sonzeira de primeira”, e isso ofusca o que é
feito de legal. A onda dos hypes avacalha geral e as bandas não
conseguem passar de seus primeiros álbuns. As boas bandas estão
onde você mal pode perceber, mas não se deixe enganar, pois as boas
bandas existem e são muitas, você só tem de querer saber da
existência delas que novos universos começam a
surgir diante de você. Sou fã de muita coisa nos dias de hoje.
Nino,
muito obrigado pelo papo. Pra fechar, o que você está ouvindo e
recomenda aos nossos leitores?
Estou
ouvindo a trilha sonora na íntegra do seriado Sons of
Anarchy, já há um CD oficial com um apanhado de coisas bem
legais da trilha, mas como é muito som fica tarefa impossível
reduzi-la de tanta coisa legal. O material sonoro de todas as quatro
temporadas tem de se catar pela internet que ainda é capaz de
rolar. Se você tem o soulseek dá para tentar, mas já está
escasseando, principalmente depois do aperto e dissolução do
Megaupload e a retirada de outros meios de download. Se tivesse um
box em vinil, mesmo que tivesse dez LPs eu compraria certo. São
mais de 100 sons geniais e estradeiros entre folk, alt country,
stoner, rock pesado e blues. Não é especificamente um disco, é
garimpo. Fica aá a dica porque vale a pena, e caso você não tenha
nada das trilhas da primeira e segunda temporada vá à caça, porque
é coisa muito refinada e indicada exclusivamente para aqueles que
não acharam seus ouvidos no lixo.
Excelente, maravilhosa matéria, parabéns Cadão e Nino!
ResponderExcluirMuito legal a entrevista. Itens ali que eu fiquei babando hehehe E a marka diabo é muito legal, já comprei camisetas deles e são realmente excelentes. Parabéns pela entrevista!
ResponderExcluirNão me lembro de ter lido recentemente uma entrevista tão legal....
ResponderExcluirE muito engraçado tem tanto cara abitolado em metal e bandas de rock q fica criticando os outros estilos, como Michael jackson um grande astro da musica. ai vem o nino e diz q seu 1 album foi o Thriller muito legal o meu primeiro diz foi Thriller também musica não tem estilo tem q ser boa e o que importa valeu otima materia
ResponderExcluirFazia tempo que não tínhamos uma entrevista e uma bela coleção, e quando foi, apareceu essa monstruosidade de relíquias! Parabéns mesmo, esses vinis são lindos!
ResponderExcluirE o Nino falou demais e de tudo que é possível! A entrevista ficou ótima!
Casa de Rock, eu adoro heavy metal, e o meu primeiro disco também foi o Thriller, que tenho até hoje. Escuto metal, pop, jazz, blues - música boa tem em todos os gêneros.
ResponderExcluirMuito legal a entrevista. Podemos dizer que esse é um cara que tem o que dizer...rs
ResponderExcluirParabéns pelas coleções e pelas histórias...
Olha Ricardo, certamente foi a melhor entrevista com colecionador publicada até agora. Sinceridade e conhecimento transbordam nas respostas do Nino. Inspirador, emocionante e até acalentadora entrevista. Já era cliente da MD, agora virei fã do Nino, um dos caras por trás da marca. Vida longa!
ResponderExcluirbela entrevista, boa e variada coleção... mas o melhor foi ir no site das camisetas e descobrir uma do STYX! Fiquei emocionado, vou encomendar! :)
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