Rush: crítica de ‘Clockwork Angels’ (2012)



Nota: 8,5


Hoje, 8 de junho, o novo álbum do Rush pousa nas lojas de todo o mundo. O décimo-nono trabalho de estúdio do trio foi gravado em Nashville e Toronto e tem produção da própria banda e de Nick Raskulinecz, o mesmo do disco anterior, Snakes & Arrows (2007). Clockwork Angels traz doze novas faixas para o amplo catálogo do grupo, sendo que as duas primeiras - “Caravan” e “BU2B” - já são conhecidas dos fãs por terem sido lançadas como single em 1 de junho de 2010 e executadas durante a última turnê dos caras, batizada como Time Machine e que passou pelo Brasil em outubro de 2010.


Acontece algo interessante com o Rush. Com 44 anos de carreira - a banda nasceu em 1968, mas só lançou o seu primeiro LP em 1974 -, Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart já experimentaram os mais variados caminhos sonoros. Do hard rock ao prog, passando pela new wave e por composições com excessos de teclados, a banda foi a extremos e acertou a mão na maioria das vezes. Hoje em dia, entretanto, o trio parece se contentar em manter o seu porto seguro dentro do universo do hard rock, explorando as infinitas possibilidades que o gênero permite. E a experiência de quem sempre ousou com flertes com outros estilos é aplicada de maneira cirúrgica em Clockwork Angels, um trabalho com qualidades para se transformar em um dos discos preferidos dos fãs.


Bastante pesado, Clockwork Angels traz o Rush soando moderno e cheio de energia. As faixas são longas, porém jamais cansativas. As composições são intrincadas, mas sem trechos desnecessários e auto-indulgentes. Todos essas características demonstram a maturidade do trio, ainda mais levando-se em conta que a própria banda produziu o play, ao lado de Raskulinecz. 


Há pouco de prog em Clockwork Angels. Se você quer um termo para definir como o disco soa, poderia defini-lo como rock moderno, sem exageros e excessos. Tudo está no lugar e na quantidade certa. 


Lee, Lifeson e Peart acertaram a mão violentamente. A faixa-título arrepia e é uma das melhores composições do Rush em décadas. “The Anarchist” tem um astral que remete aos tempos de Fly By Night (1975) e 2112 (1976) e uma trabalho sensacional de baixo e bateria - uma redundância em se tratanto de Rush, porém um elogio necessário. “Carnies” possui ecos de “The Spirit of Radio” em certas passagens - não sei se de forma intencional o não -, além de uma aula de Alex.




A inspiração é constante. O peso, onipresente. O feeling, inquestionável. As composições são fortes, donas de uma beleza que impressiona. Os flertes com o passado estão em todo o disco. A linda “The Wreckers” tem uma guitarra que remete à British Invasion e belas linha vocais de Lee e grandes melodias. “Headlong Flight” é, provavelmente, a melhor faixa de Clockwork Angels, e cheira a futuro clássico. Cheia de dinâmicas distintas, mostra o que de melhor o Rush sempre soube fazer: rock pesado e complexo, mas sempre audível. 


Todas as faixas exploram o mesmo tema - a jornada de um jovem por um mundo alternativo, em busca de seus sonhos. Neil Peart se inspirou na obra Candide, escrita por Voltaire no século XVIII. E a coisa irá além: o escritor de ficção científica Kevin J. Anderson (Duna, Arquivo X, Star Wars), amigo de longa data de Peart, está escrevendo um livro explorando de maneira mais profunda toda a trama criada pelo baterista para o trabalho.


É possível afirmar, sem medo de errar, que Clockwork Angels será figura certa nas listas de melhores de 2012. O álbum é coeso, forte, cativante, e mostra um Rush focado no presente e com os olhos no futuro, porém sem renegar, em nenhum instante, o seu glorioso passado. 


Envelhecer fazendo música de qualidade é difícil. Envelhecer produzindo rock de qualidade, mais ainda. O Rush, com mais de quatro décadas de carreira, segue relevante e surpreendente, passando por cima e atropelando nomes muito mais novos e, teoricamente, com muito mais energia e apetite para mostrar o seu trabalho.


O ditado “aprenda com os mais velhos” poucas vezes soou tão verdadeiro como aqui. 




Faixas:
  1. Caravan
  2. BU2B
  3. Clockwork Angels
  4. The Anarchist
  5. Carnies
  6. Halo Effect
  7. Seven Cities of Gold
  8. The Wreckers
  9. Headlong Flight
  10. BU2B2
  11. Wish Them Well
  12. The Garden

Comentários

  1. Escutei esse álbum somente duas vezes e não fiquei tão empolgado, porém depois de ler esta coluna vou escutar com mais carinho. Bela resenha!

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  6. Muito bom o review, o ruim é que agora bateu a vontade de escutar o álbum. Esperar ele aportar pelas lojas para adquirir o meu.

    Só em ver BU2B e Caravan, no DVD Time Machine, dá para imaginar o que vem de lá para cá, um "rock moderno" de fato.

    Ficar agora na expectativa pela turnê, e torcer para que ela passe pelo Brasil.

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  7. Estou longe de ser um conhecedor e fã do Rush, conheço pouquíssimo o som deles, mas curti a resenha e resolvi ouvir o álbum novo deles. Achei um álbum excelente, talvez por não conhecer a discografia deles não posso fazer grandes referências, mas curti, soa moderno e coeso demais, um hard rock vigoroso e como você mesmo disse, mesmo com músicas longas, não soa nem um pouco cansativo. O trabalho do baixista Geddy Lee ficou fodastico. Com certeza um dos álbuns que irá figurar entre os melhores do ano.

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  8. Dream Theater confirma 5 apresentações no Brasil em agosto

    24/8 - Porto Alegre, Brasil - Pepsi on Stage
    26/8 - São Paulo, Brasil - Credicard Hall
    29/8 - Belo Horizonte, Brasil - Chevrolet Hall
    30/8 - Rio de Janeiro, Brasil - Citibank Hall
    01/9 - Brasília, Brasil - Ulysses Guimarães

    http://www.heavymetalcenter.net/2012/06/dream-theater-confirma-5-apresentacoes.html?

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  9. Mais um excelente review!
    Eu achei um discaço, mas sou suspeito pra falar... rs

    Ricardo, por favor, poderia tirar uma dúvida?

    Você chegou a adquirir/encomendar a versão desse disco pela Classic Rock Magazine?

    Estou pensando em adquiri-lo, mas não faço ideia se demora pra entregar aqui no Brasil (SP). Nunca comprei nada de fora.

    Pode dar alguma dica por favor?

    Abraço!
    Tiago.

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