São mais de sessenta álbuns oficiais lançados pelo mestre. Frank Zappa costumava chamar sua obra de Projeto-Objeto, e um grande desafio para qualquer aficcionado por música é o estudo de sua vasta discografia. Solos de guitarra, improvisos incansáveis, discursos cômicos, contestamentos sarcásticos, sacanagem ou simplesmente pura gozação - tudo isso merece ser desbravado.
O título diz tudo: só o que foi para o rádio. É lógico que não tem sentido em se fazer uma coletânea de Zappa. Vale como presente para a namorada conhecer, ou para a sogra que adora sertanejo (melhor ainda, dê o Lumpy Gravy para ela!). Belo encarte e dezenove excelentes faixas nessa compilação.
Aqui estão os dez primeiros a serem adquiridos. Para quem se habilita, aí vai:
Primeiro registro do Mothers of Invention, que tinham Zappa como incontestável líder. É pioneiro em todos os sentidos: primeiro disco duplo e conceitual da história do rock, todas as faixas giram sobre um mesmo tema (uma revolução para a época) e foi nele que se ouviu pela primeira vez a guitarra com wah-wah. Em "Trouble Every Day", Zappa vomita toda sua revolta com a sociedade da época, onde diz "Não tem como curtir, com esses problemas aparecendo todos os dias". Passados mais de quarenta anos (!), a letra ainda cai perfeitamente nos dias de hoje.
Genial! A sangue frio, Zappa esfaqueia o flower power, o estilo de vida hippie, a alienação juvenil, os Beatles, a cultura da droga e tudo o que aquela geração adorava. Todos os maneirismos musicais da época foram devidamente satirizados no disco: as vinhetas entre as faixas, a voz anasalada e tudo mais.
A palavra "punk" foi usada pela primeira vez ("flower punk"), e se por um lado Zappa tirava sarro de tudo, por outro os Mothers faziam um dos mais mortíferos e ácidos coquetéis musicais. Misturavam música séria, eletrônica, jazz, doo woop e fragmentos falados do teatro absurdo, transformando tudo numa psicótica base rock and roll.
A capa, uma sátira a Sgt Peppers dos Beatles, atrasou o lançamento em oito meses. Zappa pediu autorização para Paul McCartney, que não gostou nada da ideia e ameaçou um processo. A solução foi lançar o disco com a capa invertida e com um adesivo ensinando ao consumidor como desdobrá-la após a compra.
Dica: fuja daquela primeira edição em CD da Ryko (com a capa original). Zappa regravou as partes de baixo e bateria para aquela ocasião, o que trouxe um som falso e moderno demais para a loucura toda que era o disco original.
Primeiro disco onde Zappa atinge o status de virtuoso. Basicamente instrumental, o álbum é precursor na fusão do jazz com o rock. Canjas de Jean Luc Ponty e Captain Beefheart valorizam o trabalho. A faixa de abertura, "Peaches En Regalia", sintetiza em menos de quatro minutos toda a riqueza e musicalidade de Zappa.
Curiosidade: ao contrário do que muitos pensam não é Frank Zappa quem está na capa, e sim uma groupie muito chegada dele, que inclusive se tornou babá de sua filha Moon até morrer de overdose em 1972.
Depois de uma fase jazz rock experimental, explorada a fundo com os discos Waka Jawaka e The Grand Wazoo, ambos de 1972, Frank Zappa obteve repercussão apenas entre músicos, pois comercialmente falando ambos foram um fiasco.
Era hora de mudar, e Zappa não exitou em formar um combo de primeira para esse novo projeto. George Duke, Jean Luc Ponty, os irmãos Fowler (Tom e Bruce) e o casal Ruth e Ian Underwood brilham nesse que era um disco mais acessível e trazia temas que passaram a ser sempre executados nas apresentações ao vivo dali por diante, como "Montana", "Dinah-Moe Humm", "I'm The Slime", "Zomby Woof" e "Dirty Love". Com esse disco Zappa passou a frequentar as paradas americanas de sucesso.
Foi o disco que alcançou a maior posição nas paradas americanas. Com ele Zappa se tornava o maior gozador da América, aqui descrevendo as peripécias de um esquimó chamado Nanook. Musicalmente o álbum é perfeito. Basta checar a maravilha que é "Uncle Remus" e o primal baixo de Jack Bruce na faixa-título. O único senão é a curta duração do play.
O preferido dentre muitos zappólatras, o álbum é uma verdadeira viagem. O solo histórico de "Inca Roads", a maravilhosa valsa "Sofa" (dividida aqui em duas partes), a pesadíssima "Florentine Pogen" e o balanço de "San Ber'dino" são o chamariz. Dessa vez, o destaque vai para o batera monstro Chester Thompson e para a interpretação de Johnny "Guitar" Watson.
A versão de Zappa para um simples disco de rock, onde o próprio dá um show, tanto em composição como em atuação. A formação que consta na capa não é a mesma que gravou o álbum, com exceção do batera Terry Bozzio. A sacana "The Torture Never Stops" e seus quase dez minutos de duração é ideal para ser tocada durante aquele almoço de domingo com os avós! Na canção, Zappa, além de tocar guitarra, baixo e teclados, recita o tema enquanto uma garota geme durante toda a música. Uma pérola da guitarra é "Black Napkins", gravada originalmente ao vivo no Japão, onde Zappa tira sons inacreditáveis de seu instrumento. O bom humor peculiar do músico também se faz presente em "Disco Boy" e "Wind Up Workin' in a Gas Station".
Na maioria das vezes é com esse disco que os fãs começaram a ouvir Frank Zappa (pelo menos aqueles que estão na casa dos trinta), talvez por ser o mais famoso LP do músico aqui no Brasil, graças ao enorme sucesso da faixa "Bobby Brown". Altamente recomendável, o álbum mescla gravações ao vivo e em estúdio. A influência punk está à toda em "Broken Hearts Are For Assholes" e "I'm So Cute". Adrian Belew está genial fazendo uma imitação de Dylan em "Flakes", e a disco music é devidamente ridicularizada em "Dancin' Fool".
Importante: prefira a edição dupla em LP, pois contém a faixa "Wild Love" na íntegra, enquanto no CD ela aparece editada.
Lançado originalmente como um LP simples (Act I) e um duplo (Acts II & III), hoje está disponível como um CD duplo contendo os três atos. Uma excelência em ópera rock. Aqui, Zappa se transporta para um futuro onde a arte de se fazer música é considerada crime. Uma fábula em contrassenso à toda aquela desavença de Zappa com Tiper Gore e a PMRC. Justiça seja feita: Zappa mostra que está entre os maiores da guitarra na quase new age "Watermelon in Easter Hay".
O título diz tudo: só o que foi para o rádio. É lógico que não tem sentido em se fazer uma coletânea de Zappa. Vale como presente para a namorada conhecer, ou para a sogra que adora sertanejo (melhor ainda, dê o Lumpy Gravy para ela!). Belo encarte e dezenove excelentes faixas nessa compilação.
Cuidado: a edição em CD não contém a música "Bobby Brown", sucesso "strictly" tupiniquim. Ponto para a edição em vinil: a bolacha, além de ser dupla e conter duas faixas a mais que o CD (uma delas é "Bobby Brown"), ainda tem o charme de ser limitada e numerada.
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