Quem ainda consome música à moda antiga, comprando discos de vinil ou CDs, conhece bem o ritual que começa pela retirada do disco da embalagem e vai até a exploração minuciosa do encarte, pôster e outros adereços que possam acompanhar o material.
Analisar a arte da capa é outro prazer que acompanha as mídias físicas, especialmente as capas de LPs, maiores e geralmente mais complexas.
Criar a estampa de um disco já deve ter tirado o sono de artistas plásticos e fotógrafos tanto quanto dos músicos que produzem o trabalho em si. Não é para menos. A concepção visual de um disco pode muitas vezes extrapolar a simples função de ilustrar sua embalagem e se tornar a representação estética de uma banda, fazendo-a ser identificável mesmo quando sua logo ou nome não estão impressos na arte.
O artista plástico britânico Storm Thorgerson fez isso com o Pink Floyd. Suas imagens não só criaram um mundo particular facilmente relacionável à banda como também se tornaram ícones da cultura pop do século XX, como a enigmática capa de The Dark Side of the Moon, que ainda mexe com o imaginário de muita gente mesmo depois de quase 40 anos de seu lançamento.
A ligação de Storm com o Floyd começou quando ele, ainda adolescente, conheceu Syd Barret e Roger Waters na Cambridge High School for Boys. “Storm e Roger eram mentes brilhantes, faíscas saíam de suas cabeças quando conversavam”, conta Jill Furmanovsky, fotógrafa que acompanhou a gravação do disco Wish You Were Here em 1974, sobre a afinidade entre os dois artistas.
Nos anos 1960 Storm se tornou membro do grupo Hipgnosis, e mesmo sem saber desenhar ou fotografar ajudou a criar capas de discos para vários grupos e músicos como Led Zeppelin (Houses of the Holy e In Through the Out Door), Black Sabbath (Technical Ecstasy), Peter Gabriel (primeiro e terceiro discos solo) e, claro, o Pink Floyd, com quem criou seus trabalhos mais famosos. Desde os anos 70, boa parte do material gráfico, pôsteres e até vídeos relacionados à banda e à carreira solo de alguns de seus integrantes tem a assinatura de Storm ou do Hipgnosis, que também teve como membros os artistas Aubrey (Po) Powell e Peter Christopherson.
O trabalho de Storm, no entanto, vai muito além da sua ligação com o Pink Floyd. Além de artes de capa, ilustrações e pôsteres para vários nomes da música, o artista também se aventurou pelos videoclipes. Em seu catálogo está “Owner of a Lonely Heart”, do Yes. As capas de uma reedição de 2001 da série O Guia do Mochileiro das Galáxias, do escritor inglês Douglas Adams, também foram recriadas pelo artista.
Mesmo com uma vasta obra, Storm e seu imaginário deixam rastros que permitem identificar sua arte. O homem e a natureza são elementos frequentes em suas imagens surreais, representados desde a icônica vaca de Atom Heart Mother (1970) do Pink Floyd até criações mais recentes como a capa de Skunkworks (1996) de Bruce Dickinson, Rude Awakening (2002) do Megadeth e Absolution (2003) do Muse.
Há mesmo um homem pegando fogo na capa de Wish You Were Here. Storm prefere compor suas criações com elementos reais - quando possível, é claro – mesmo que isso represente horas de trabalho extra ou muito dinheiro. “Pensávamos que Storm escolhia os lugares mais distantes e caros do mundo, assim poderia sair um pouco e se divertir as nossas custas por alguns dias”, disse David Gilmour no documentário sobre a gravação de Wish You Were Here.
Antes de atear fogo em alguém, o conceito que se tornaria a capa do disco gerou a foto que foi usada em um cartão postal, e que para ser feita exigiu uma viagem ao lago Mono, na Califórnia, e algumas horas de paciência de um yogi, mergulhado de cabeça para baixo apoiado em uma cadeira. “Esse homem teve que segurar a respiração para não fazer bolhas. Essa foto é toda verdade, não foi retocada, nem cortada. Foi muito difícil, essa foto foi uma tortura”, lembrou Aubrey (Po) Powell, em depoimento para o documentário sobre o disco.
Também são reais a estação de energia Battersea, em Londres, que ilustra a capa de Animals (1977), e as camas na capa de A Momentary Lapse of Reason (1987). Mesmo com a existência de recursos tecnológicos que poderiam replicar apenas uma, Storm preferiu o hercúleo esforço logístico de enfileirar mais de 700 camas de hospital na praia de Saunton Sands, em Devon, Inglaterra. Não dá pra dizer que o resultado não valeu a pena.
(por Nelson Júnior)
Criar a estampa de um disco já deve ter tirado o sono de artistas plásticos e fotógrafos tanto quanto dos músicos que produzem o trabalho em si. Não é para menos. A concepção visual de um disco pode muitas vezes extrapolar a simples função de ilustrar sua embalagem e se tornar a representação estética de uma banda, fazendo-a ser identificável mesmo quando sua logo ou nome não estão impressos na arte.
O artista plástico britânico Storm Thorgerson fez isso com o Pink Floyd. Suas imagens não só criaram um mundo particular facilmente relacionável à banda como também se tornaram ícones da cultura pop do século XX, como a enigmática capa de The Dark Side of the Moon, que ainda mexe com o imaginário de muita gente mesmo depois de quase 40 anos de seu lançamento.
A ligação de Storm com o Floyd começou quando ele, ainda adolescente, conheceu Syd Barret e Roger Waters na Cambridge High School for Boys. “Storm e Roger eram mentes brilhantes, faíscas saíam de suas cabeças quando conversavam”, conta Jill Furmanovsky, fotógrafa que acompanhou a gravação do disco Wish You Were Here em 1974, sobre a afinidade entre os dois artistas.
Nos anos 1960 Storm se tornou membro do grupo Hipgnosis, e mesmo sem saber desenhar ou fotografar ajudou a criar capas de discos para vários grupos e músicos como Led Zeppelin (Houses of the Holy e In Through the Out Door), Black Sabbath (Technical Ecstasy), Peter Gabriel (primeiro e terceiro discos solo) e, claro, o Pink Floyd, com quem criou seus trabalhos mais famosos. Desde os anos 70, boa parte do material gráfico, pôsteres e até vídeos relacionados à banda e à carreira solo de alguns de seus integrantes tem a assinatura de Storm ou do Hipgnosis, que também teve como membros os artistas Aubrey (Po) Powell e Peter Christopherson.
O trabalho de Storm, no entanto, vai muito além da sua ligação com o Pink Floyd. Além de artes de capa, ilustrações e pôsteres para vários nomes da música, o artista também se aventurou pelos videoclipes. Em seu catálogo está “Owner of a Lonely Heart”, do Yes. As capas de uma reedição de 2001 da série O Guia do Mochileiro das Galáxias, do escritor inglês Douglas Adams, também foram recriadas pelo artista.
Mesmo com uma vasta obra, Storm e seu imaginário deixam rastros que permitem identificar sua arte. O homem e a natureza são elementos frequentes em suas imagens surreais, representados desde a icônica vaca de Atom Heart Mother (1970) do Pink Floyd até criações mais recentes como a capa de Skunkworks (1996) de Bruce Dickinson, Rude Awakening (2002) do Megadeth e Absolution (2003) do Muse.
Há mesmo um homem pegando fogo na capa de Wish You Were Here. Storm prefere compor suas criações com elementos reais - quando possível, é claro – mesmo que isso represente horas de trabalho extra ou muito dinheiro. “Pensávamos que Storm escolhia os lugares mais distantes e caros do mundo, assim poderia sair um pouco e se divertir as nossas custas por alguns dias”, disse David Gilmour no documentário sobre a gravação de Wish You Were Here.
Antes de atear fogo em alguém, o conceito que se tornaria a capa do disco gerou a foto que foi usada em um cartão postal, e que para ser feita exigiu uma viagem ao lago Mono, na Califórnia, e algumas horas de paciência de um yogi, mergulhado de cabeça para baixo apoiado em uma cadeira. “Esse homem teve que segurar a respiração para não fazer bolhas. Essa foto é toda verdade, não foi retocada, nem cortada. Foi muito difícil, essa foto foi uma tortura”, lembrou Aubrey (Po) Powell, em depoimento para o documentário sobre o disco.
Também são reais a estação de energia Battersea, em Londres, que ilustra a capa de Animals (1977), e as camas na capa de A Momentary Lapse of Reason (1987). Mesmo com a existência de recursos tecnológicos que poderiam replicar apenas uma, Storm preferiu o hercúleo esforço logístico de enfileirar mais de 700 camas de hospital na praia de Saunton Sands, em Devon, Inglaterra. Não dá pra dizer que o resultado não valeu a pena.
(por Nelson Júnior)
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