Bad Religion: crítica de True North (2013)

Quando uma banda passa dos 30 anos de estrada e atinge a marca de 16 discos de estúdio, chega a ser ingênuo esperar por grandes novidades. Em geral, as inovações ficam para o começo da carreira, aquele momento único onde o grupo encontra o seu próprio som e a sua personalidade.

Ao lançar Suffer, em 1988, o Bad Religion combinou a simplicidade do punk e a velocidade do hardcore com a sensibilidade pop dos Beatles, vocais melódicos e backing vocals impecáveis (influenciados por Beach Boys e Adolescents), formando assim as bases do que hoje é conhecido como hardcore melódico. Sua influência em toda a cena é incontestável e a banda reinventou-se diversas vezes, porém sem grandes desvios de rumo.

De qualquer forma, o que se espera de um grupo com uma trajetória longa como a do Bad Religion é muita maturidade nas composições e, se possível, a mesma vitalidade dos tempos áureos. Felizmente, energia é o que não falta em True North. Inspirados pelo último lançamento do Pennywise e por discos antigos do seu próprio catálogo, como o já citado Suffer, No Control e Against The Grain, a dupla de compositores Greg Graffin e Mr. Brett Gurewitz decidiu apostar mais uma vez em canções rápidas e concisas. O resultado é um álbum coeso, onde mesmo as poucas músicas mid-tempo são curtas. Prova disso é a duração do álbum, com 16 músicas em pouco mais de 35 minutos.

True North abre com cinco pauladas rápidas e melódicas, sem dar um segundo sequer para o ouvinte respirar, com destaque para a ótima "Robin Hood in Reverse", incluindo uma citação esperta ao Sham 69 na letra. Apesar do bom começo, é a partir da sexta canção, "Dharma And The Bomb", que o disco começa mesmo a engrenar. Grande surpresa do álbum, "Dharma" é um powerpop irresistível cantado por Mr. Brett, fato inédito na carreira do grupo. A música seguinte, "Hello Cruel World" é a mais lenta do álbum e segue a tradição de "Infected" e "Streets Of America", com ótimas melodias vocais e uma levada irresistível.

A partir de "Vanity", o disco volta a velocidades supersônicas muito bem conduzidas pelo excepcional baterista Brooks Wackerman, cada vez mais impondo o seu DNA ao grupo. Este bloco de excelentes canções continua com "In Their Hearts Is Right" e "Crisis Time", a primeira com um refrão inspiradíssimo e a segunda com um riff que lembra as melodias de guitarra do Iron Maiden.

Linear no estilo mas não necessariamente em qualidade, True North dá uma caída nas faixas seguintes, com as apenas medianas "Nothing To Dismay" e "Popular Consensus". Mas o alto nível volta logo com a sequência que fecha o álbum. "My Head is Full of Ghosts" tem uma intro muito bem sacada e um instrumental que lembra bastante NOFX - dá até para imaginar o Fat Mike cantando. "The Island" usa o riff e alguns backings de "When" (do disco Suffer), uma auto-referência que acaba funcionando perfeitamente com o conteúdo filosófico da letra. Pra finalizar, guitarras gêmeas no maior estilo Thin Lizzy / Iron Maiden conduzem "Changing Tide", que encerra o disco de forma dramática e magistral.

Liricamente, a banda continua muito acima da média não somente do cenário punk rock, mas da música contemporânea como um todo. Alguns temas recorrentes voltam a aparecer aqui, como a crítica à religião organizada e a política americana, desta vez refletindo muito bem as causas e os efeitos da crise econômica do mercado financeiro.

True North mostra um Bad Religion  em grande forma, olhando para o próprio passado como inspiração e, por isso mesmo, já é sério candidato a um dos melhores discos do ano.

Nota 8



Faixas:
1 True North
2 Past is Dead
3 Robin Hood in Reverse
4 Land of Endless Greed
5 Fuck You
6 Dharma and the Bomb
7 Hello Cruel World
8 Vanity
9 In Their Hearts is Right
10 Crisis Time
11 Dept. of False Hope
12 Nothing to Dismay
13 Popular Consensus
14 My Head is Full of Ghosts
15 The Island
16 Changing Tide

(por Fabian Oliveira)

Agora que você já leu o review, ouça True North na íntegra no player abaixo:

Comentários

  1. Eu sinceramente achei esse álbum apenas razoável. Claro que tem bons momentos, mas pouco acrescenta na carreira do Bad Religion (ao contrário do antecessor, o ótimo "The Dissent Of Man").

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  2. Bad Religion, pra mim, é uma banda de coletânea. Raro um disco que realmente seja precioso. Mas obrigado pela resenha.

    E deles, pega a coleta que pega o período 80-85 deles, lançada em 1991: http://en.wikipedia.org/wiki/80-85

    28 músicas. Gosto de todas!
    Depois disso, acho que eles tem alguns hits.

    Enfim, vamo todo mundo chutando aí elogios e críticas. O que vale é compartilhar info.
    Falou

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  3. Em todo lugar alguém apontando este álbum como "o melhor do ano", este é o único que diz que ele é um "possível candidato", o que melhora um pouco. Este disco está muito abaixo da expectativa (e o mal é este, esperar muito de uma banda que já tem mais de 30 anos de carreira e que não tem mais nada pra provar pra ninguem), falo como fã da banda desde os anos 90. Com tudo, ainda acho ele bem melhor que anterior, me agrada porque é Bad Religion, apenas, não fosse isto, não haveria motivos pra sequer escuta-lo. "True North" é fraco e pouco inspirado, um disco mediano de uma ótima banda!

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