Black Debbath: crítica de Nå får det faen meg være Rock! Akademisk Stoner-Rock! (2013)

Formado no final da década de 90 por quatro sócios da gravadora norueguesa Duplex Records, a proposta do Black Debbath sempre foi unir o heavy metal dos seus primórdios com excelentes doses de doom, stoner e blues, sempre como base para as temáticas líricas politicamente incorretas e humorísticas (o próprio baixista Egil Hegerberg é um popular comediante na Noruega). Nå får det faen meg være Rock! Akademisk Stoner-Rock! é o sexto disco de estúdio da banda e foi lançado no início de janeiro pela sua própria gravadora, em formato físico limitado apenas ao seu país natal, por enquanto, a exemplo dos trabalhos anteriores.

O hard rock ácido de “Slaver Av Humoren” abre o álbum jogando todo o poder de fogo dos riffs dos noruegueses na cara do ouvinte, sem dó nem piedade, aumentando ainda mais a semelhança com a sonoridade do heavy metal na sua fase mais psicodélica. “Norsk Bjørnsonforskning” puxa um direcionamento ainda mais calcado no blues rock, com sutis toques que apenas os mais viajantes dos space rocks conseguem proporcionar, com variações melódicas bem interessantes, que se repetem na arrastada, pesadíssima e bem humorada “FAFO” (você pode não entender uma singela palavra, mas a interpretação é impagável).

A soturna introdução de “Rydd Rommet” remete ao mais profundo doom metal da escola sueca, e se revela uma melancólica balada, com atmosfera etérea e flutuante o suficiente para criar a sensação, em quem está ouvindo, de estar mergulhando nos mais profundos pântanos noruegueses,  sendo resgatado apenas por “Bytt Kjøkkenklut Oftere!”, um vigoroso stoner com um crescendo rítmico respeitável, lembrando bastante o Witchcraft no seu último (e excelente) disco, Legend.

Com tantas mudanças de andamento quanto de palavras em seu título, a sexta faixa “Åpent brev til jusprofessor Jon Bing i forbindelse med vedtak om opprettelse av et datalagringsdirektiv (De edle hensikters tyranni)” traz o Black Debbath passeando naturalmente pelo heavy, doom e hard rock, regado à saudáveis doses de rock progressivo que engrandecem e tornam a música ainda mais interessante, assim como a seguinte, “Nei Til Runkesti På Ekeberg! (Skulpturpark-Låta)”, que poderia muito bem ser o resultado de um filho bastardo do Motörhead com o Sabbath.

“Sytende Ballade Om At Folk Syter For Mye Og Lager For Mye Ballade”, como pode supor, é mais uma balada com um pé no blues e outro no folk, com resultados belíssimos, apesar da metalinguagem da letra (já que eles ironizam quem exagera no melodrama de músicas desse formato), enquanto “Gjør Norsk Utenrikstjeneste Nok For Eventyrere Og Kriminelle Nordmenn I Utlandet?” é um stoner nos moldes mais clássicos, sem soar datado em nenhum momento, graças ao forte apelo melódico. O disco se encerra com “Drastiske Miljøtiltak I Tolvte Time”, mais uma ode ao Black Sabbath na sua fase mais psicodélica / progressiva, com aquele agradável cheiro de mofo, de algo que permaneceu no canto mais obscuro de um sótão durante quatro décadas.

Apesar de qualquer barreira que o idioma norueguês possa trazer para quem não é fluente, a qualidade musical contida no som do Black Debbath é de um nível tão alto quanto das mais evidentes bandas da atualidade no que diz respeito ao revival do occult rock, stoner e doom metal. Nå får det faen meg være Rock! Akademisk Stoner-Rock! é uma viagem sonora cheia de nuances, com a inserção de diversos elementos (alguns de forma tímida, outros nem tanto), que tornam a experiência infinitamente agradável, tornando o trabalho dos noruegueses um dos mais interessantes discos de 2013, até agora.

Ah sim, e lembrando que em teoria eles são uma banda humorística. E nem por isso insistem em ideias batidas e a repetição excessiva das mesmas piadas há anos, tampouco compõe uma música medíocre, de qualquer jeito, e justificam com a sua proposta. Ao contrário de diversos outros grupos por aí.

Nota 8

1 Slaver av humoren

2  Norsk Bjørnsonforskning

3 FAFO

4 Rydd rommet

5 Bytt kjøkkenklut oftere!

6 Åpent brev til jusprofessor Jon Bing i forbindelse med vedtak om opprettelse av et datalagringsdirektiv (De edle hensikters tyranni)

7 Nei til runkesti på Ekeberg! (Skulpturpark-låta)

8 Sytende ballade om at folk syter for mye og lager for mye ballade

9 Gjør norsk utenrikstjeneste nok for eventyrere og kriminelle nordmenn i utlandet?

10 Drastiske miljøtiltak i tolvte time

Por Rodrigo Carvalho

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