Darkthrone: crítica de The Underground Resistance (2013)

Metal demais para ser punk. Punk demais para ser metal. As duas afirmativas, comumente utilizadas para definir o Ratos de Porão, servem perfeitamente ao Darkthrone. Juntas, formam o paradoxo que sintetiza o que Fenriz e Nocturno Culto se propuseram a fazer há pelo menos sete anos e que aprimoram a cada novo lançamento.

Lá atrás, The Cult is Alive (2006) foi o embrião dessa nova faceta, que deixou de lado o puro e genuíno black metal norueguês para investir no sincretismo entre metal e punk. Coube à tríade constituída por F.O.A.D. (2007), Dark Thrones and Black Flags (2008) e Circle the Wagons (2010) desenvolver essa fórmula. Já o recém-lançado The Underground Resistance reduz um pouco o tempero punk, mas chega como obra máxima e definitiva desse Darkthrone atual, que disseca as entranhas do som criado pelo Black Sabbath em 1970.

O disco saiu pela Peaceville Records em 25 de fevereiro e é o décimo-sexto trabalho da banda, sendo, de longe, o que tem a melhor produção de estúdio. Além de otimizar a combinação entre os dois estilos, o grande mérito do álbum é conseguir agregar elementos característicos do próprio heavy metal, mas que estão ligados a vertentes mais tradicionais e que até então ainda não haviam sido tão exploradas.

É flagrante a inserção de inúmeros atributos de duas velhas escolas em especial: da NWOBHM e do power metal do início dos anos 80, quando o termo "power" referia-se a algo totalmente diferente em relação ao que convencionou-se chamar de "power" hoje em dia.

Por si só, o título do álbum também entrega o que Fenriz e Nocturno Culto entendem como uma condição natural do heavy metal. A resistência do underground nada mais é do que a manutenção dessa rede subterrânea que promove troca de experiência, postura crítica, produção contracultural, amizades, etc. Tudo em torno de um ponto comum, que é a música.

Aliás, musicalmente, The Underground Resistance é bem mais maduro que seus antecessores. Os elementos incorporados da NWOBHM e do power metal fazem com que quase todas as músicas tenham uma veia épica. Após um começo avassalador com "Dead Early", diretona e dona de riffs speed/thrash, tal característica pode ser percebida logo na segunda faixa: "Valkyrie", canção que começa com dedilhado, desemboca naquela bateria "cavalo manco", típica do d-beat, e traz os primeiros vocais limpos do disco. Seu refrão é matador.

"Lesser Men" e "The Ones You Left Behind" remetem aos primórdios do estilo e mostram que esse novo Darkthrone parece ter um estoque inesgotável de riffs. Só que, diferente de outrora, as linhas de guitarra não se restrigem a tremolos e power chords. Apresentam novas possibilidades e, em vários momentos, lembram Manilla Road, Saxon e até Iron Maiden.

Eis que, então, nos deparamos com as duas derradeiras músicas: "Come Warfare, The Entire Doom" e "Leave No Cross Unturned". Ambas são exatamente dois épicos do metal. A segunda, no entanto, merece um capítulo à parte. Com seus mais de 13 minutos, é a faixa mais longa já feita pelo Darkthrone. E não seria exagero algum afirmar que trata-se também da melhor composição saída das mentes doentias de Fenriz e Nocturno Culto. Para defini-la, basta uma equação simples: Slayer da fase Show No Mercy + Celtic Frost. Seu comecinho é a reencarnação de "Evil Has No Boundaries" e, ao longo de sua execução, ficamos com a sensação de que, a qualquer momento, Tom G. Warrior pode aparecer e soltar um "UH!".

No fim das contas, é claro que misturar heavy metal e punk está longe de ser um invento ou uma exclusividade do Darkthrone. Entretanto, poucos realmente mergulham na porção abissal dos dois gêneros com tanto conhecimento de causa.

Pode até ser que esse olhar voltado para o passado e seu constante resgate impeça Gylve Fenris Nagell e Ted Arvid Skjellum de fazerem algo totalmente inovador. Mas esse nunca foi o plano. O que sempre esteve em jogo é a pura e tão somente satisfação artística da dupla. O êxito na cruzada contra qualquer tipo de pseudo-evolução, vaidade e presunção no metal, como explícito no refrão de "I Am the Graves of the 80's", melhor música do disco anterior, Circle the Wagons: "I am the graves of the 80's; I am the risen dead; Destroy their modern metal; And bang your fucking head". Afinal, música boa jamais teve prazo de validade.

Nota 9,5



Faixas:

1 Dead Early 4:49
2 Valkyrie 5:14
3 Lesser Men 4:55
4 The Ones You Left Behind 4:16
5 Come Warfare, The Entire Doom 8:38
6 Leave No Cross Unturned 13:49

Por Guilherme Gonçalves

Comentários

  1. Realmente esse disco é fantástico....forte candidato a melhor do ano.....é um exaltação ao passado mas sem soar datado, eles se apoiam nos grandes nomes do passado para construir essa sonoridade....

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  2. Boa resenha, Guilherme. Conseguiu ser bastante descritivo sem ser minucioso em excesso e me deixou com uma puta vontade de ouvir o álbum. Pelo que já pude escutar, trata-se mesmo de um discaço, daqueles que têm tudo para entrar na lista prévia que monto ao longo do ano para depois pinçar os melhores lá no final de dezembro. Abraço.

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  3. Resenha perfeita! The Underground Resistance,novo clássico,e talvez o melhor disco do Darkthrone!

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  4. Melhor disco do darkthrone? Kkkkkkk impossível, com os 5 primeiros nenhum dos demais se compara e digo isso porque escutei TODOS do darkthrone.
    #panzerfaust o melhor

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